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O mau negócio que Moro fez

De herói da Lava Jato a ex-juiz suspeito de ter prevaricado

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h37 - Publicado em 29 jun 2019, 07h00

Não foi por falta de aviso que o ex-juiz Sérgio Moro despiu-se da toga para vestir o terno bem cortado de ministro da Justiça do governo Jair Bolsonaro. Procuradores da República o aconselharam a não fazê-lo para preservar sua credibilidade e a da Lava Jato.

Carlos Fernando Souza, chefe da operação, foi um deles. Torceu e rezou para que Moro recusasse o convite que recebera antes mesmo de Bolsonaro se eleger. Deltan Dallagnol foi outro, embora disposto a continuar defendendo Moro acima de qualquer coisa.

A mulher do ex-juiz comemorara nas redes sociais a vitória do capitão. O próprio Moro se apressara a cumprimentar o presidente eleito na mesma noite em que isso aconteceu. Menos de uma semana depois, aceitou o convite que mudaria sua vida para sempre.

Tudo isso e mais um pouco está em mais uma leva de conversas entre procuradores revelada nesta madrugada pelo site The Intercept. É o oitavo capítulo de uma reportagem que parece muito longe de terminar e que abala a reputação de Moro.

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Se arrependimento matasse, e se esse fosse o sentimento do ex-juiz, ele estaria morto a essa altura. De herói da Lava Jato, a operação mais bem-sucedida de combate à corrupção da história deste país, Moro passou à condição de suspeito de ter faltado com seu dever.

Era dever de Moro, como é de qualquer outro juiz, comportar-se com isenção, neutralidade, no julgamento de processos. É o que manda a Constituição. E é simples assim. As conversas reveladas mostram que ele ultrapassou todos os limites e enlameou a toga.

Ah, a vaidade, o pecado favorito do diabo! Moro achou que só teria a ganhar mudando de lado. Na pior das hipóteses, ficaria no governo, debaixo de holofotes amigos, até virar ministro do Supremo Tribunal Federal como Bolsonaro lhe prometera.

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Na melhor das hipóteses, justamente aquela acalentada pela mulher dele, poderia suceder Bolsonaro como presidente da República. Para isso bastaria que se saísse bem como ministro da Justiça e, naturalmente, contasse com um pouco de sorte.

 Faltaram-lhe as duas coisas. Como ministro, fez um pacote de leis anticrime que o Congresso cozinha a fogo brando, e assim será. A sorte lhe faltou quando o site The Intercept recebeu de uma fonte o material que é nitroglicerina pura contra ele.

Se a política é de fato como uma nuvem que agora tem uma forma e daqui a instantes outra, Moro ainda poderá ambicionar a vaga de um presidente que já anunciou que será candidato à reeleição. Mas a vaga de ministro do Supremo, melhor que Moro a esqueça.

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