Encarcerado em Curitiba há exatos 579 dias, a poucas horas de o Supremo Tribunal Federal acabar ou não com a prisão em segunda instância, o que poderia mandá-lo para casa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta disfarçar desde o início da semana a sua e a ansiedade dos parentes e amigos mais próximos.
Repete para eles e para si mesmo: “Nunca conte com a clara antes de a galinha botar o ovo”. De fato, o ovo poderá ser posto até o início da noite. Ou não, caso falte tempo para que votem os ministros que ainda não o fizeram. São quatro. O placar está em 4 a 3, favorável à prisão em segunda instância.
Um dos quatro que votarão é o ministro Celso de Melo. Ele tem o costume de proferir votos longos, calçados em dezenas de citações de juristas famosos e na farta jurisprudência do tribunal. Alguns dos seus colegas, em tom de graça, dizem que evitam desejar-lhe bom dia porque a resposta pode se estender por vários minutos.
Relator, ali, das ações da Lava Jato, a favor da prisão em segunda instância, o ministro Edson Fachin, ontem, parece ter jogado a toalha. Disse que se o tribunal decidir que a prisão só será possível depois que a sentença transitar em julgado, isso não impedirá que se prenda quem oferecer risco à sociedade ou ao processo.
Referiu-se à chamada prisão preventiva, prevista no Código de Processo Penal. Ela também se aplica no caso de risco de fuga do preso. Será um tanto difícil convencer a quem interessar possa que Lula, depois de tanto tempo preso, ainda ofereça risco à sociedade ou ao processo a que responde. Ou que tenha a intenção de fugir.
Tudo o que ele pretende se for libertado é voltar a fazer política. Sim, pretende casar-se outra vez, bater perna pelo país se dizendo injustiçado e ocupar-se mais à vontade com a sua defesa nos oito processos que ainda poderão devolvê-lo à prisão por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
O depoente, por sinal, nega todos os crimes.