O que pesou mais na decisão do presidente Jair Bolsonaro de cancelar sua segunda visita aos Estados Unidos em menos de quatro meses de governo?
O boicote dos americanos ao jantar oferecido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos que homenagearia Bolsonaro em Nova Iorque com o prêmio “Pessoa do Ano”?
Ou a descoberta de que o Banco do Brasil e o consulado-geral do país em Nova Iorque ajudaram a financiar a homenagem – o banco pagando R$ 47,5 mil por uma mesa, o consulado R$ 39,6 mil?
A Lei das Estatais impõe restrições ao banco para que participe como patrocinador de eventos de tal natureza. Em anos passados, jamais o banco esteve entre os apoiadores do jantar.
Em junho de 2004, quando a lei ainda não existia, o banco meteu-se numa encrenca braba ao comprar 70 mesas ao custo total de R$ 70 mil para um show que arrecadaria recursos para o PT.
Sua direção desculpou-se depois alegando que desconhecia a finalidade do show. Foi obrigada a cancelar a compra das mesas e a responder na justiça por ato de improbidade administrativa.
Desta vez, antes do anúncio de que Bolsonaro abrira mão da homenagem, a direção do banco informou que sua mesa no jantar seria ocupada por “clientes estratégicos”. O consulado calou-se.
Por muito menos, na semana passada, Bolsonaro mandou demitir o diretor de marketing do banco. Ele aprovara um comercial sobre diversidade que Bolsonaro detestou e que sequer fora exibido.
Para faltar ao jantar previsto para o próximo dia 14, Bolsonaro jogou a culpa no prefeito de Nova Iorque que o chamara de “ser humano perigoso” e em grupos de pressão contrários à homenagem.
O Museu de História Natural de Nova Iorque recusou-se a ceder parte do seu espaço para sediar o evento. Um hotel no centro da cidade, que aceitou sediar, está sendo pressionado a recuar.
Algumas empresas, como a companhia aérea Delta e a consultoria Brain & Company, decidiram deixar de patrocinar o evento que será marcado por uma manifestação de ativistas de direitos humanos.
Ao vexame em inglês, Bolsonaro preferiu protagonizar outro em sua própria língua: nunca antes na história deste país um presidente abdicou de ser homenageado com medo de má repercussão.