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A história do golpe do PT para soltar Lula

Mesmo que não desse certo, a Justiça ficaria mal, como ficou

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 10 jul 2018, 17h11 - Publicado em 10 jul 2018, 07h00

Foi tudo pensado e discutido à exaustão com a direção do partido, advogados de defesa de Lula e com o próprio Lula. Começou quando, na semana passada, por meio de um amigo comum, o desembargador Rogério Favreto avisou ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS) que seria o responsável no fim de semana pelo plantão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre.

Favreto e Pimenta são amigos de longa data. O desembargador foi filiado ao PT durante dezenove anos e fez sua carreira à sombra do partido. Conheceram-se em Porto Alegre, Favreto como advogado, Pimenta como prefeito de Santa Maria e depois como deputado estadual. Voltaram a se encontrar em Brasília – Favreto como assessor de Lula presidente, Pimenta como deputado federal.

O aviso da Favreto para Pimenta embutia a sugestão de que ele, como plantonista, acataria um pedido de habeas corpus para soltar Lula. Pimenta, primeiro, conversou a respeito com o deputado Waldih Damous (PT-RJ). Depois com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Os dois aprovaram a ideia. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do partido, foi consultada em seguida e, de início, hesitou. Seria uma jogada arriscada.

De todo modo, segundo Gleisi, nada poderia ser feito sem que antes fossem ouvidos alguns dos advogados que defendem Lula e naturalmente o encarcerado. Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, seu genro, deram seu aval à trama. Não se associariam a ela porque são autores de outras ações que pedem a libertação de Lula e que tramitam em tribunais superiores. Pegaria mal para eles. E duvidavam do sucesso da trama.

Submetido o assunto ao exame de Lula, primeiro ele disse não. Achava impossível que um simples despacho de um desembargador de plantão fosse capaz de tirá-lo da cadeia. Mas depois de horas de discussão com Gleisi e com os advogados, acabou convencido de que pouco teria a perder. Se ficasse solto por algumas horas, teria tempo para gravar vídeos a ser divulgados quando voltasse a ser preso.

De resto, uma eventual soltura, mesmo que revogada depois do fim do plantão de Favreto, serviria para desgastar a imagem da Justiça e reforçar a dele, de perseguido por ela. Como é possível que a Justiça libere tantos condenados, mande para prisão domiciliar tantos outros, e somente ele continue preso? – perguntou-se Lula. É um falso argumento, esse, mas à história do golpe tentado pelo PT não importa.

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Meia hora depois do início do plantão de Favreto na última sexta-feira, Pimenta, Damous e Teixeira protocolaram no tribunal o pedido de liberdade de Lula. No dia seguinte, ficaram sabendo que Favreto aprontara seu despacho, mas que preferira só enviá-lo à Polícia Federal no domingo de manhã cedo. Antes das 10 horas do domingo, uma cópia do despacho foi levada em mãos para Lula.

A notícia de que Lula seria solto só se tornou pública por volta do meio-dia. Àquela altura, o contragolpe já estava em marcha. De férias em Portugal, o juiz Sergio Moro telefonou para a delegado da Polícia Federal em Curitiba e disse que não era para soltar Lula. Acionou o ministro Thompson Flores, presidente do tribunal, que por sua vez informou a Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, que Lula permaneceria preso.

O resto é história conhecida.

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