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Um ódio que não acaba: antissemitismo tem muitas faces

Simpatizantes do nazismo continuam igualmente atrozes, mas militantes negros americanos e imigrantes muçulmanos na Europa desequilibram a balança

Por Vilma Gryzinski 30 dez 2019, 18h23

Longe de Manhattan, a coisa fica feia. Em áreas do Brooklyn como Williamsburg e pequenas comunidades periféricas onde vivem judeus ultraortodoxos, identificados pelas roupas pretas tradicionais, chapéu, barba e cachinhos, as agressões antissemitas dispararam.

O último ataque, ou mais recente, pois tristemente não vão parar, foi o inacreditável caso de Grafton Thomas.

Armado com um facão, ele entrou na casa de um rabino no sábado à noite e atacou cinco pessoas. A família estava celebrando o Chanucá, um feriado religioso que, por simplificação ou assimilação, além da coincidência de geralmente cair no fim de dezembro, é identificado como o “natal dos judeus”.

É  aquele em que são diariamente acesos os nove braços de um candelabro, lembrando uma das muitas e antigas revoltas do povo judeu, surpreendentemente vitoriosa e que levou à reconsagração do templo de Jerusalém.

“Vou te pegar”, gritava Thomas para as vítimas atacadas dentro de casa.

Ele é um homem muito alto e forte. Chegou a jogar futebol americano profissionalmente.

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Também é negro, o que expõe, para quem quiser ver, uma realidade incômoda: nessa região dos Estados Unidos, as agressões contra judeus são frequentemente praticadas por afro-americanos.

Os ataques dispararam desde o começo de dezembro. Vão de agressões verbais, com empurrões, ao extremo do assassinato de quatro pessoas num supermercado kosher, a comida dos judeus que seguem mandamentos religiosos sobre alimentação, em Jersey City.

Os assassinos, um homem e uma mulher, eram de um grupo marginal, os Israelitas Hebraicos Negros.

Seus seguidores consideram-se os “verdadeiros” judeus, sendo que os judeus da vida real são “impostores” malvados, responsáveis por crimes contra negros que vão da escravidão à violência policial.

A maluquice é brava, mas não muito diferente da pregada por Louis Farrakhan, o fundador da Nação do Islã, uma versão americanamente própria da religião muçulmana, baseada numa espécie de supremacia negra permeada por antissemitismo virulento.

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A ideia de que uma minoria discrimine e até, nos casos extremos, agrida outra minoria é de extrema incorreção política.

Depois dos assassinatos em Jersey City, o jornal Jerusalem Post reclamou, com razão, que “não houve protestos nem marchas”, nem as manifestações habituais de revolta nos casos de atiradores soiitários que praticam suas atrocidades com tanta frequência nos Estados Unidos.

“Na sociedade americana só existe lugar para um tipo de racismo, o dos supremacistas brancos de extrema-direita”, disse o jornal.

Um ato hediondo como o praticado por Robert Gregory Bowers, o atirador que matou onze pessoas numa sinagoga de Pittsburgh em outubro do ano passado, preenche todos os requisitos do repúdio universal. Um ultradireitista  branco, armado com uma AR-15 e três Glocks e as mais  extremas teorias conspiratórias.

É possível dizer que tanto Bowers quanto Grafton Thomas, o esfaqueador do Chanuçá,  são malucos?

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Com toda certeza. Que pessoa normal sairia matando escolhidos pelo fato de serem judeus?

Como nos Estados Unidos o desequilíbrio mental, por si, não elimina a aplicação da justiça convencional – é preciso provar que criminosos com doenças psíquicas não tinham noção do crime praticado -, será interessante acompanhar o julgamento de Robert Bowers e Grafton Thomas.

Não se espere nenhuma leniência com um ou outro.

A justiça americana é implacável, ao contrário de casos ocorridos na Europa, onde a condição de refugiados ou de migrantes vindos de países em guerra foi usada como atenuante.

A situação, por motivos óbvios, é mais complicada na Alemanha, onde a grande onda humana que entrou pelas fronteiras abertas por Angela Merkel propiciou casos flagrantes de antissemitismo como o do refugiado sírio que atacou a cintadas um “judeu” de quipá – na verdade um israelense árabe que usou de propósito o chapeuzinho religioso.

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Um tribunal alemão determinou, por exemplo, que o antissemitismo não havia sido um fator no caso de três palestinos que incendiaram uma sinagoga em Wuppertal.

Segundo dados do Ministério do Interior, 90% dos 1 800 episódios de antissemitismo registrados em 2018 foram procedentes da extrema-direita.

Na Holanda, 70% dos mesmos crimes são cometidos por cidadãos de origem árabe ou muçulmana.

Na França, são mais de 50% – e 100% de todos os episódios violentos.

O que acontece na Alemanha? Existe muito mais do que uma relutância em associar o aumento da  criminalidade comum ou de motivação islamista à entrada recente de quase dois milhões de estrangeiros procedentes de países onde o ódio aos judeus é cultivado oficialmente, incentivado por pregadores religiosos e socialmente mais do que normalizado.

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Muitas vezes, os dados são distorcidos de propósito para mascarar sua origem.

Uma pesquisa citada pelo site Times of Israel com centenas de judeus alemães que foram alvo de episódios antissemitas mostrou um resultado muito diferente das estatísticas oficiais.

Dos entrevistados, 41% disseram que o perpetrador tinha sido “alguém com visão muçulmana radical” e 20% associaram a agressão à extrema direita. Mais 12%, à extrema esquerda.

A “conversão” em massa da esquerda ao antissionismo está na origem das  explícitas e vergonhosas manifestação que, a pretexto de criticar Israel, entram sem nenhum disfarce no campo do ódio aos judeus.

O caso de Jeremy Corbyn, o líder que deixa o comando do Partido Trabalhista depois de uma derrota histórica, é o mais emblemático.

Corbyn e seus seguidores, reunidos na tendência chamada Momentum, praticaram tantos atos descarados de antissemitismo que não deu para esconder nem de tradicionais militantes trabalhistas.

A derrota nas urnas foi causada pela insurreição de eleitores históricos. Cerca de um milhão de pessoas que sempre votaram nos trabalhistas mudaram de lado e deram uma vitória acachapante ao Partido Conservador.

Foram motivados pela esquerdização das lideranças trabalhistas e de partidos como o Liberal Democrata.

Logo depois da vitória de Boris Johnson e dos conservadores, Jenny Tonga, que foi parlamentar liberal-democrata durante sete anos, resumiu abertamente a opinião de muita gente da esquerda na Grã-Bretanha.

“O rabino-chefe deve estar dançando na rua. O lobby pró-Israel ganhou nossa eleição geral mentindo sobre Jeremy Corbyn”, escreveu ela no Facebook.

Detalhe: ela tem o título de baronesa (os partidos no poder ou na oposição apresentam suas listas de candidatos à honraria) e um lugar na Câmara dos Lordes.

Dá uma vergonha profunda em qualquer pessoa, de qualquer origem ou simpatia ideológica, saber que manifestações assim viraram padrão entre simpatizantes da esquerda que, no passado, marchava contra o fascismo e a perseguição aos judeus.

A baronesa Tonga é, hoje, uma das faces muito feias, do antissemitismo que deixou seu ninho tradicional e espalha ovos de serpente em outras esferas.

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