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Por Vilma Gryzinski
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Eleição americana: um confinado no porão, outro à solta

Pode Donald Trump ser reeleito com mais de 70 mil mortos e economia em frangalhos? E Joe Biden, confinado no porão, confuso, acusado de agressão sexual?

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 Maio 2020, 09h32 - Publicado em 8 Maio 2020, 07h32

Pelas pesquisas, pelas ondas de revolta de famosos e anônimos face às mancadas de Donald Trump sobre o pandemia de coronavírus, pela devastação econômica que acompanha a praga, Joe Biden já deveria estar experimentando seu terno da posse.

Talvez até esteja, se houver alguma maneira 100% segura de fazer isso a partir do porão que foi montado em sua casa para ficar isolado, com seus 77 anos colocando-o na categoria de risco.

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De lá não sai de jeito nenhum e dá para imaginar a angústia de toda a máquina do Partido Democrata para montar uma estratégia segura que eventualmente tire o candidato da bolha.

Como ganhar uma eleição presidencial nos Estados Unidos, com os incontáveis comícios pelo país continental, sem sair de casa?

Ou talvez nem precise, pois o adversário está apertando como nunca o botão da autodestruição, com 71% dos eleitores confiando mais nos respectivos governadores do que no presidente para enfrentar e infernal epidemia?

Todos já aprendemos a desconfiar de pesquisas, sem, de forma alguma, menosprezar sua importância.

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Ao contrário, espelham realidades preciosas. Hoje, por exemplo, diz uma pesquisa (Change Research e CNBC), que Trump está dois pontos à frente em seis estados onde a disputa é muito apertada.

Arizona, Flórida, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin, todos gravaram 47% para Trump, 45% para Biden.

Fica assim mais abalada a certeza de que a Pensilvânia, com seus 20 votos no Colégio Eleitoral, iria voltar para seu partido natural e apoiar o “vizinho” famoso – Biden é de Delaware.

Como jamais existiu eleição nem remotamente parecida com essa, qualquer pesquisa, hoje, é apenas um pálido, se não distorcido, retrato do que vai acontecer daqui a seis meses.

Até lá, o pior da pandemia, que está na angustiante fase sobe-e-desce nos Estados Unidos, provavelmente terá passado. 

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A esperança, para Trump, é que a economia já esteja reativada – sem, obviamente, possibilidade de voltar aos recordes de PIB e emprego de fevereiro.

Além de desconfiar das pesquisas, estamos aprendendo também a não colocar muita fé em  modelos matemáticos, mas a projeção de 134 mil mortos, em estudo da Universidade de Washington, parece bastante viável.

Que presidente pode ganhar uma eleição carregando uma quantidade desse tamanho de vítimas nas costas, com seus adversários mostrando, de todas as maneiras, todos os dias, como minimizou os avisos sobre a epidemia, protelou o isolamento, especulou sobre maluquices tipo usar cândida ou raios UV para “limpar” os pulmões dos doentes e transformou em ringue de vale-tudo com os repórteres as sessões diárias que deveriam ser informativas e equilibradas.

Tudo isso sem empatia diante de tantas vítimas nem respeito pela liturgia do cargo, embalado na obsessão narcisista de falar bem de si mesmo.

Quem busca empatia e equilíbrio, evidentemente tem que procurar em outro candidato.

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Joe Biden, raposa felpuda que está na política desde 1969, e, diante de sua ascensão nas primárias, conseguiu o apoio até então nada espontâneo do homem que o transformou em figura nacional, o adorado Barack Obama, deveria estar com a vida ganha.

Na realidade, como pessoal vulnerável, está com a vida em risco. Continua a trocar palavras e esquecer fatos quando dá entrevistas no porão transformado em escritório.

A última foi confundir interação” com “intercurso”. Um lapso compreensível, considerando-se o tema: Tara Reade, a mulher que veio do passado para acusá-lo de uma agressão sexual.

Bela morena de olhos verdes na época em que trabalhava na equipe de Biden no Senado, 1993, ela diz que recebeu uma ordem de levar a sacola de ginástica para o chefe que queria uma sessão de academia .

Foi encostada numa parede, uma mão subiu sob a saia e sofreu penetração com os dedos.

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“Qual é, cara, disseram que você gostava de mim”, teria sido o comentário cruel uma vez encerrado o ataque.

Mais uma vez, na política americana, uma mulher com uma história vinda do passado distante, triste, embora difícil de comprovar, aparece para abalar figura importantes.

A última, com estardalhaço infinitamente maior, visava o juiz Brett Cavanaugh, então nomeado para a Suprema Corte, e incidentes de assédio passado que aconteceram – ou não – quando era adolescente.

Nem precisa dizer que as pessoas, em geral, tendem a dividir culpados e inocentes conforme suas simpatias políticas.

E que histórias assim, distantes no tempo, sem nenhum registro oficial ou documento para corroborá-las, são cheias de furos – seja de memória, seja por influência da vontade de ferrar uma nomeação, instrumentalização assumida ou inconsciente.

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A seu favor, Tara tem uns fiapos de indícios. O ex-marido relata documentalmente que ela tinha se queixado de assédio sexual, sem dar nomes: uma vizinha ouviu a história da boca da própria Tara e até a mãe dela apareceu num telefonema ao apresentador Larry King dizendo que a filha tinha sofrido assédio – sem especificar a natureza – no trabalho e desistido de apresentar queixa.

O mais interessante, até agora, tem sido ver como os órgãos de imprensa ardentemente antitrumpistas tentam cobrir a história sem passar a impressão de que não estão numa operação abafa (não conseguem). E como a minoria trumpista faz exatamente o oposto (ainda falta muito, se houver, para ter um caso convincente).

O próprio Donald Trump, segundo o site Daily Beast, especulou com um interlocutor: “Isso não parece enganação?”. 

Trump tem um bocado de experiência no assunto.

Quando a pandemia explodiu nos Estados Unidos, muitos comentaristas observaram, com indisfarçável alegria, que a praga tinha feito ruir os dois pilares que sustentavam Trump: o recorde de emprego e a exuberância da economia.

Com os números divulgados ontem, os pedidos de auxílio desemprego saltaram para 33 milhões – 20% de toda a força de trabalho.

Em qualquer situação, seria inconcebível a reeleição de um presidente nessas circunstâncias.

Como também é difícil imaginar um candidato oposicionista que não pode sair de casa – ou, quando o fizer, terá um aparato de segurança sem precedentes. Driblar eventuais assassinos ou malucos é uma coisa, blindar contra um vírus de alta transmissibilidade cria um mundo novo.

Biden deve ganhar mais destaque assim que anunciar sua escolhida para compor a chapa como vice-presidente – já prometeu que será uma mulher. 

Todas as melhores candidatas já falaram mal dele, mas faz parte da prática política. Complicado é dizer, sem causar ofensa generalizada, o que, no fundo, acreditam: Tara Reade é uma pilantra desqualificada e interesseira.

No mundo pré-coronavírus, ou o da era AC, a campanha de Trump pretendia focar dos bons negócios feitos por Hunter Biden, na Ucrânia e na China, quando o pai era vice-presidente. E na falta de vitalidade do candidato democrata.

Agora, já empacotou a mensagem: a culpa pelo vírus é da China e só ele conseguirá levar a economia de volta ao lugar glorioso que ocupava antes da peste.

A estratégia de Biden não mudou muito: chega, ninguém aguenta mais um presidente como Trump.

Ambos têm bons argumentos e seis dos mais imprevisíveis meses da história americana para ver quem é mais convincente.

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