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Por Vilma Gryzinski
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Doença e poder: pior que estar fraco é parecer fraco

Por isso, políticos de todo o mundo fizeram de tudo para esconder seus males físicos, hoje uma manobra praticamente impossível

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 jul 2020, 08h42 - Publicado em 8 jul 2020, 08h15

“Você conhece o médico dele, pode dar um jeito de suborná-lo?”.

Foi esse o tom meio de brincadeira da pergunta que Georges Clemenceau, o primeiro-ministro francês, fez ao colega inglês, David Lloyd  George.

As potências vencedoras estavam reunidas em Paris, em 1919, para tratar da nova ordem mundial e das punições para a Alemanha por ter iniciado a I Guerra Mundial.

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Woodrow Wilson, o presidente americano que havia salvado a França da derrota, opunha-se categoricamente à revanche exigida pela França, duas vezes ocupada por alemães em meio século (a primeira, em 1870, na Guerra Franco-Prussiana), exigia.

Mais do que o absurdo até hoje impressionante de uma guerra mundial – europeia, na verdade – que havia ceifado 20 milhões de vidas, a Gripe Espanhola conseguiria duplicar ou triplicar esse número assustador de mortes.

Woodrow Wilson ficou “violentamente doente” quando pegou o vírus, hoje tantas vezes comparada à pandemia de Covid-19.

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Enfraquecido e “meio estranho” depois de se recuperar no Hôtel du Prince Murat, acabou cedendo às exigências enumeradas no Tratado de Versalhes, posteriormente consideradas o berço maldito onde vicejou o nazismo.

Seis meses depois da viagem que o deixou tão mal, Wilson teve um AVC. Para esconder a condição precária do presidente, sua mulher, Edith, na prática assumiu o comando do executivo.

Ela decidia com quem, da equipe de governo, o presidente acamado podia falar e quais assuntos eram suficientemente importantes para serem levados a ele.

Quando querem exagerar, comentaristas políticos dizem que Edith Wilson foi a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.

Esconder doenças que, inevitavelmente, passam a imagem de fraqueza, o pior dos mundos para um político, sempre exige a colaboração das mulheres.

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Às vezes, em monarquias que ainda têm o poder, pode implicar até em enfrentar os próprios filhos.

No ano dos três imperadores, 1888, o neto do Kaiser Guilherme I, já com 90 anos, conspirava contra o próprio pai. Com câncer na laringe, ele já era considerado carta fora do jogo.

Quando Kaiser morreu, o filho e herdeiro já nem podia falar. Passou 99 dias de um reinado infeliz, com um imperador emudecido e praticamente impotente.

Seu filho, Guilherme II, assumiu já com o firme propósito de militarizar a Alemanha e exigir o que considerava o lugar justo do país entre as potências. Acabou na I Guerra Mundial.

Passou todo o seu reinado, e depois 21 anos de exílio na Holanda, tentando esconder o defeito de nascença no braço esquerdo, produto de nervos seccionados durante um parto em que os médicos tiveram que intervir por baixo das saias da rainha Augusta Vitória.

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Anthony Eden deveria ser um primeiro-ministro dos sonhos para os ingleses. Formado por Winston Churchill para ser seu herdeiro político, era um homem bonito, jovem, filho de barão, herói de guerra e lançador de modas como os bigodes bastos e um tipo de chapéu que se tornou conhecido como o Anthony Eden.

Deu tudo errado. E uma parte importante de seus fracassos, sendo o maior deles o fiasco da intervenção militar no Egito por causa do Canal de Suez, pode ser atribuída a uma desastrosa cirurgia para tirar a vesícula.

No meio da crise de Suez, que obrigou o presidente Dwight Eisenhower e colocar todos os envolvidos – Inglaterra, França e Israel – nos devidos lugares, Eden tirou um período de repouso na Jamaica.

Depois de renunciar, ainda passou por outras cirurgias para consertar os estragos anteriores. Tomou durante anos uma bomba chamada drinamil, combinação de anfetaminas e barbitúricos, com possíveis efeitos sobre a claridade mental.

O novo coronavírus afetou psicologicamente o primeiro-ministro Boris Johnson?

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Tendo entrado na epidemia querendo ser Winston Churchill, seu ídolo, sobre o qual escreveu um livro, Boris parece ter saído dela como Franklin Roosevelt, com um grande projeto de obras públicas para criar empregos e salvar a economia – o tipo de coisa abominada por conservadores como, teoricamente, ele é.

Fique claro que isso é uma brincadeira que exagera ligeiramente o comportamento de Boris.

Depois de nove dias tentando não “ceder” à doença, prevendo com boa dose de razão que passaria uma imagem de fragilidade em plena crise da epidemia, Boris teve que ser internado e receber oxigênio.

Disse depois que suas chances foram meio a meio: 50% de sobreviver, 50% de não resistir à doença.

As hesitações do Boris pós-corona em relação à reabertura de atividades passaram uma imagem pior dele do que durante a internação.

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O estilo o que fala não se escreve costumava ser característico de países bem menos sistemicamente organizados.

A confusão britânica pode ser resumida numa frase: os pubs abriram antes que as escolas.

Isso sim é sinal de fraqueza.

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