Delegado diz que Ramagem o levou para encontro com Bolsonaro
Depoimento foi prestado no âmbito do inquérito que apura se o presidente tentou interferir politicamente na PF. Policial foi superintendente no Rio
O diretor-executivo da Polícia Federal, Carlos Henrique Oliveira de Sousa, afirmou, nesta terça-feira, 19, que recebeu uma sondagem do delegado Alexandre Ramagem para assumir a Diretoria-Executiva da PF quando o policial foi indicado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro.
O depoimento foi prestado no âmbito do inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF, após as graves denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Esse é a segunda oitava de Carlos Henrique Oliveira de Sousa no caso – desta vez, a pedido. O policial foi superintendente da PF no Rio.
No depoimento da semana passada, Carlos Henrique não deu informações sobre essa sondagem. O convite é importante para o inquérito porque revela o interesse de tirar o policial – até o então responsável pela superintendência da PF no Rio de Janeiro – da frente de todos os casos em andamento no estado.
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Clique e AssineEx-chefe da PF no Rio, posto que é o epicentro da investigação sobre a tentativa de interferência de Bolsonaro, o delegado também confirmou que Alexandre Ramagem o levou a um encontro com o presidente Bolsonaro, entre outubro e novembro de 2019. Não havia, segundo o Carlos Henrique, nenhum motivo específico para tal reunião.
Para diminuir a estranheza desse encontro, Carlos Henrique disse que o ex-diretor-geral da PF Maurício Valeixo e Moro só não participaram da reunião porque estavam em um evento no Paraná, se não estariam juntos. Carlos Henrique ainda disse que, antes de ir ao encontro, avisou Valeixo, que o autorizou, e disse que Moro também estava ciente.
Carlos Henrique Oliveira de Sousa afirma, no depoimento, que não sabe de nenhum outro superintendente que foi convidado para uma reunião semelhante com o presidente da República. O delegado afirma não saber porque Ramagem o convidou para o encontro, e que a audiência não teve uma pauta definida.
Alexandre Ramagem teve a sua nomeação para a direção-geral da PF suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado avaliou que a designação dele – que é amigo dos filhos de Jair Bolsonaro – ao cargo poderia ferir o princípio da impessoalidade, que norteia o serviço público.
Primeiro depoimento
Em seu primeiro primeiro depoimento, Carlos Henrique Oliveira de Sousa afirmou que havia uma investigação sobre as declarações do porteiro do condomínio de Bolsonaro ainda em curso no órgão e que ela é sigilosa.
A informação também é importante porque mostra que existe um inquérito relacionada à família Bolsonaro em andamento na PF do Rio, mesmo que seja para investigar se o porteiro mentiu em depoimento prestado no âmbito do assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em 2018.
Bolsonaro já reclamou mais de uma vez afirmando para a imprensa que não existe investigação sobre ele ou a sua família em solo carioca. Como mostrou o Radar, o delegado também contradisse o presidente ao desmentir a versão de Bolsonaro de que a PF fazia sua segurança familiar e de amigos.
‘Questões de produtividade’
No seu primeiro depoimento, Carlos Henrique Oliveira de Sousa afirmou ainda que o colega delegado Ricardo Saadi não tinha nenhum problema de desempenho para ser trocado do cargo.
Carlos Henrique Oliveira de Sousa foi escolhido no ano passado pelo então diretor-geral da PF Maurício Valeixo e teve o aval do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Ele foi nomeado para comandar o órgão no estado após o seu antecessor, justamente Saadi, ser criticado publicamente por Bolsonaro.
Em agosto do ano passado, o presidente afirmou que gostaria de trocar Saadi por “questões de produtividade” e sugeriu o nome de um terceiro delegado, Alexandre Saraiva, para o posto. Maurício Valeixo e Sérgio Moro não cederam e mantiveram a nomeação Carlos Henrique Sousa, pois isso já havia sido acertado internamente.