A operação que mira advogados de “todo mundo”
Ação de juiz Bretas parece metralhadora giratória que atinge defensores de grupos políticos opostos. Wassef tem mais explicações a dar
Foi ainda no governo Luiz Inácio Lula da Silva que a CPI dos Bingos foi apelidada de CPI do Fim do Mundo. Naquela ocasião, em 2005, a comissão parlamentar passou a investigar todo tipo de denúncia que surgiu contra o governo, seus aliados e até opositores. A apuração relacionava desde a suposta ligação do PT com a morte do prefeito Celso Daniel, passando pelo financiamento ilegal de campanha multipartidário, até a remessa de dólares vindo de Cuba. Depois, o mundo político passou a temer a “delação do fim do mundo” que seria a da Odebrecht.
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Clique e AssinePois bem. A operação deflagrada nesta quarta, 9, após determinação do juiz Marcelo Bretas, e que investiga negócios ilícitos no Sistema S do Rio, deverá ganhar o mesmo apelido, ao que tudo indica. Numa só tacada, as suspeitas de corrupção acertaram alvos tão dispersos no mundo político como advogados ligados ao ex-presidente Lula, ao governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e ao presidente Jair Bolsonaro. São os “advogados de todo mundo”, segundo a definição que já circula em Brasília.
Como informou o Radar, a investigação mira algumas das maiores bancas de advocacia do país. São pelo menos 72 alvos, entre advogados, seus escritórios e outras empresas que estariam relacionadas a esses negócios ilícitos no Sistema S. A Lava Jato carioca já denunciou 26 alvos da ação de hoje por integrarem supostamente “uma organização criminosa de advogados mancomunados para desviar em benefício próprio e de terceiros valores milionários, com prejuízos aos cofres da Fecomércio e do Senac”.
A operação parece ter ligado uma metralhadora giratória, atingindo pessoas ligadas a grupos políticos dos mais distintos. É preciso ressaltar que nem Lula, nem Witzel e nem Bolsonaro são investigados. E que escritórios de advocacia têm imunidade mais ampla, para preservar o exercício desta profissão essencial no estado democrático de direito. É importante saber se as apurações estão ferindo as prerrogativas dos advogados. Eles só podem ser investigados por crimes que eventualmente cometam, mas não pela defesa dos seus clientes.
Mas é fato que alguns defensores estão claramente envolvidos em fatos nebulosos. O advogado Frederick Wassef, que atuou na defesa de Bolsonaro e de seu filho Zero Um, tem tido problemas sequenciais com a Justiça. Ao colocar todos na mesma cesta, o único a ganhar é o Wassef porque o caso dele é muito mais complicado que o dos outros.
Nos últimos dias, foram reveladas que ele recebeu R$ 9 milhões da JBS, e supostamente fez uma tentativa de lobby na Procuradoria-Geral da República em favor da manutenção da delação do Joesley Batista e do irmão dele, Wesley. Wassef ainda escondeu o ex-faz-tudo da família Bolsonaro, Fabrício Queiroz, por meses e sob uma alegação pouco crível, a de que protegia a vida dele de queima de arquivo. Precisa explicar melhor todos os repasses que recebeu da firma da ex-mulher que é fornecedora do governo. O que fica claro é que há mais sombras sobre ele neste momento do que em relação aos outros advogados que atendem a investigados da Lava Jato.
É preciso que a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a própria Justiça expliquem com mais precisão qual de fato é participação de cada um desses advogados no suposto esquema de desvio, para não pôr na mesma cesta alhos e bugalhos. Mas o fato é que essa quarta-feira, 9, amanheceu com mais uma operação de fim de mundo pairando sobre os políticos do país.
É o mesmo espírito que esteve quando da temida CPI dos Bingos, e anos mais tarde, se repetiu com a delação da Odebrecht, também conhecida como delação do fim do mundo. E que, ao final, foi muito menos do que ameaçou ser.