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Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Bolsonaro radicaliza estratégia de culpar governadores por crise econômica

Pressionado por alta dos preços e pelo desemprego, presidente cita fechamento da economia na pandemia e alíquota do ICMS para se isentar de responsabilidade

Por Camila Nascimento Atualizado em 30 ago 2021, 14h43 - Publicado em 30 ago 2021, 14h29

Os esforços do presidente Jair Bolsonaro para culpar os governadores pela crise econômica aumentaram na última semana na mesma medida em que o cenário, sobretudo em relação à alta dos preços e ao desemprego, vem se deteriorando.

Embora ele venha criticando os chefes de Executivo estaduais desde o início da pandemia – principalmente pela adoção do isolamento social –, o aumento dos preços e do desemprego fez com que ele passasse a apostar ainda mais nessa estratégia para tentar se manter isento de responsabilidade.

Um dos mantras que tem adotado quase diariamente é o de que o preço dos combustíveis não cai por causa da alíquota de ICMS cobrada pelos estados – o que não é verdade, porque ela é a mesma há anos. “O que que eu fiz para diminuir o preço do gás de cozinha? Zerei os impostos federais. Agora o que é que pesa aí? O ICMS que é o imposto estadual, o frete e a margem de lucro na ponta da linha”, afirmou na sua última live semanal, na quinta-feira, 26. “Alguns poucos governadores têm me criticado pelo preço do gás. Realmente está caro. Mas não me critiquem. Eu zerei o imposto do gás de cozinha e você, governador, está cobrando o ICMS”, acusou.

O presidente também defendeu que os governadores têm culpa na alta da alta da tarifa de energia. “Infelizmente, o ICMS, em média de 30%, incide também na bandeira (vermelha, adotada atualmente em razão da crise hídrica). E quem paga a conta no final da linha é o consumidor”, disse. “Não é justo que no momento mais difícil ter mais uma taxa extra em cima do ICMS, uma arrecadação extra”, afirmou. Bolsonaro fez ainda um apelo para que governadores “em comum acordo resolvam essa questão”.

Ele também atribuiu o aumento dos preços às medidas de isolamento social para conter a Covid-19, que foram decretadas pelos governadores e prefeitos. “Essa inflação vem em parte daquela política lá atrás de ‘fica em casa, que a economia a gente vê depois’”, diz com frequência. “Muita gente ficou em casa, produziu-se menos e, por incrível que pareça, aumentou o consumo durante a pandemia. A inflação veio”, analisa. “Eu não fechei nada no Brasil, quem fechou foram os governadores e os prefeitos”, completou.

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Em Goiânia, durante um encontro com lideranças evangélicas no sábado, 28, mais uma vez os mesmos argumentos foram repetidos para justificar a inflação. Bolsonaro disse que chegou agora “a conta pra gente pagar” das ações de combate à pandemia. Na última semana, ele deu duas entrevistas a rádios locais e, em ambas, colocou o problema da inflação no colo dos governadores. À rádio Nova Regional, do Vale do Ribeira no dia 23, por exemplo, ele insistiu que zerou os impostos federais sobre o gás de cozinha e disse que está esperando “um governador do Brasil que fizesse o mesmo”.

Reação

Nas redes sociais, governadores reagiram ao presidente. “Pior que a incompetência do governo federal em administrar a economia é a tentativa de colocar a população contra os governadores com narrativas mentirosas”, disse o paulista João Doria (PSDB), um dos principais opositores de Bolsonaro. Ele também argumentou que o ICMS sobre os combustíveis se manteve em 25% durante toda a sua gestão e que esse é o mesmo percentual desde 2015.

O governador de Goiás e aliado de Bolsonaro, Ronaldo Caiado (DEM), também usou argumento semelhante ao dizer que a alíquota cobrada no estado é a mesma desde 2016. Ele também ressaltou que o ICMS é uma parte importante da arrecadação estadual. “Não fizemos nenhum reajuste. O imposto é o mesmo do ano passado, por exemplo, em que a gasolina custava até menos de R$ 4”, disse. O preço médio hoje no país é de R$ 5,98, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

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