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A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho, Isabella Alonso Panho e Ramiro Brites. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Bolsonaro, a biruta de aeroporto e a manifestação que nasceu problemática

Comportamento do presidente em relação aos atos de rua foi marcado por idas e vindas; convocação baseada em pauta esdrúxula só acirrou a crise política

Por José Benedito da Silva Atualizado em 12 mar 2020, 20h35 - Publicado em 12 mar 2020, 20h35

A decisão de Jair Bolsonaro de pedir aos movimentos que o apoiam que suspendam as manifestações de ruas previstas para domingo, 15 de março, é o ato final de um comportamento errático do presidente, que, desde o início da polêmica, agiu como uma biruta de aeroporto, cada hora apontando em uma direção.

As manifestações começaram a ser convocadas por grupos de direita como Brasil Conservador, Nas Ruas e Avança Brasil na esteira do episódio em que o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, foi flagrado em áudio vazado criticando o Congresso, em cerimônia no dia 18 de fevereiro. Segundo ele, deputados e senadores faziam “chantagem” com Bolsonaro na questão do Orçamento e instigou o chefe a “convocar o povo às ruas”.

Uma semana depois, no dia 25 de fevereiro, o presidente atendeu ao apelo de seu general: compartilhou em grupos de WhatsApp vídeos com convocações para os atos. A pauta era um suposto “parlamentarismo branco” que o Legislativo estaria tramando e uma imaginária má vontade do Congresso com as propostas de Bolsonaro, acusação que bate de frente com o fato de que o governo nem consegue enviar as reformas administrativa e tributária aos parlamentares.

Não ajudou em nada o governo e ainda atrapalhou. A participação direta do presidente na convocação irritou os congressistas, o Supremo Tribunal Federal – também alvo dos manifestantes – e obrigou o presidente a, pela primeira vez, dizer que não havia convocado ninguém. Admitiu apenas ter repassado mensagens de “cunho pessoal” a “algumas dezenas de amigos”.

Bolsonaro, no entanto, contrariou a si próprio no dia 7 de março, quando fez uma escala em Boa Vista (RR), durante viagem aos Estados Unidos. Ali foi direto. “Dia 15 agora, tem um movimento de rua espontâneo (…) E o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político. Então participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário, é um movimento pró-Brasil”, disse.

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Na terça-feira, 10, a Secretaria de Comunicação da Presidência também foi usada para incentivar as pessoas a irem à manifestação. A pretexto de falar da visita de Bolsonaro aos EUA, a Secom reproduziu uma frase do presidente dita ao público americano. “As manifestações do dia 15 de março não são contra o Congresso, nem contra o Judiciário. São a favor do Brasil”. No mesmo dia, minimizou a pandemia de coronavírus. “Temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”, disse.

Na quarta-feira, 11, ao voltar dos EUA, questionado novamente sobre o risco de grandes aglomerações de rua em época de pandemia de coronavírus, voltou a desdizer o que havia dito, em rápida declaração em frente ao Palácio do Alvorada. “Eu não convoquei ninguém. Pergunta para quem convocou. Você pergunta para quem convocou”.

Bolsonaro liveO ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o presidente Jair Bolsonaro, durante livre no Facebook nesta quarta-feira, 12

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Agora, acuado pelo avanço da doença e diante do fosso que separava suas atitudes das medidas que estão sendo adotadas em todo o mundo, decidiu pedir a sua tropa de rua que baixasse as armas e esperasse o mau tempo passar.

Apesar do comportamento tortuoso e da demora para reconhecer que os atos de rua eram uma má ideia, menos mal que o presidente tenha, enfim, dado o sinal para cancelar uma manifestação que, independente da questão do coronavírus, nunca deveria ter sido convocada.

Desde que começou a mobilizar os bolsonaristas nas redes sociais, a manifestação desagradou aos generais (usados em cartazes da convocação), aos líderes da Câmara e do Senado, aos ministros do STF e só criou atrito e tensão em um ambiente que já não era muito favorável ao governo. Mesmo com problemas dos mais variados pela frente, o presidente decidiu encampar o desvario. Menos mal que o coronavírus o fez recuar.

 

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