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Estou grávida: e agora, o que devo comer?

A gestação demanda uma quantidade extra de energia. Reunimos a seguir dúvidas frequentes sobre alimentação e nutrição nesse período

Por Claudia Cozer Kalil
Atualizado em 11 set 2017, 13h01 - Publicado em 5 set 2017, 12h00

A gestação é um período anabólico e implica na necessidade de uma quantidade extra de energia em função do crescimento e manutenção do feto e da placenta; da formação de novos tecidos maternos; do armazenamento de gordura pela mãe e feto; e da maior carga de trabalho metabólico e metabolismo basal, levando a um aumento esperado do peso corporal. É, portanto um período de muitas transformações, que pode trazer dúvidas e medos.

Reunimos a seguir algumas dúvidas frequentes sobre alimentação e nutrição que podem aparecer nesse período:

Toda grávida, mesmo gozando de saúde, precisa fazer o pré-natal?

Verdade. O Ministério da Saúde preconiza que todas as gestantes devem ter seu estado nutricional avaliado durante a gestação, como parte integrante da rotina do pré-natal. O acompanhamento mensal é fundamental para avaliação do crescimento fetal e de intercorrências clínicas, prevenindo e minimizando possíveis danos à saúde da mãe e da criança.

O acompanhamento médico e nutricional individualizado pode ajudar a direcionar melhor as escolhas alimentares.  O nutricionista poderá indicar se necessário, uma alimentação especial para adequar o consumo, as atitudes alimentares e/ou o peso corpóreo e avaliar a necessidade de suplementação individualizada.

Estou grávida, devo comer por dois?

Mito. Para garantir boa evolução na gestação, o consumo alimentar deve seguir os princípios gerais da nutrição: variedade, equilíbrio e moderação. As necessidades nutricionais são um pouco maiores, mas não é necessário “comer por dois”! Em geral, há aumento de necessidade de vitaminas e minerais, portanto o cuidado com a qualidade da escolha dos alimentos deve ser redobrado.

Ressalta-se que a alimentação vegetariana exclusiva pode não conter todos os elementos necessários importantes para o desenvolvimento fetal. No 1º trimestre da gestação, é esperado pouca ou nenhuma modificação do peso da mãe (oscilando entre redução de até três quilos até ganho de até dois quilos, na maioria dos casos). Do 2º ao 3º trimestre, o planejamento do ganho de peso vai depender do estado nutricional pré-gestacional da mãe.

O estado nutricional da mulher antes e durante a gravidez é fator determinante para uma gestação saudável e sem complicações. O desenvolvimento de complicações na gravidez e durante o parto, assim como o estado nutricional após o parto interferem na saúde do bebê, que depende da mãe para seu crescimento e desenvolvimento, no peso de nascimento da criança, na prematuridade e na mortalidade e morbidade neonatal.

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Assim, garantir um ganho de peso e consumo alimentar adequados durante a gestação podem determinar uma gravidez de sucesso. Algumas condições clínicas podem interferir no bom desenvolvimento da gestação. A presença de náuseas, vômitos, transtorno alimentar, infecção, aumento do gasto energético (por excesso de exercícios físicos, por exemplo) ou baixo consumo alimentar (por dificuldade de acesso ao alimento ou pela prática de dietas restritivas), diabetes mellitus e obesidade são questões que devem ser avaliadas para garantir boa nutrição.

Pelo meu Índice de Massa Corporal (IMC), já estou com obesidade. Devo fazer dieta restritiva e atividade física para perder de peso na gravidez?

Mito. Restrição alimentar na gestação é CONTRA-INDICADA, exceto em casos em que há diagnóstico médico de algum tipo de resposta alérgica. Dietas restritivas e exercícios excessivos podem comprometer a passagem dos nutrientes essenciais do sangue materno para o feto, ocasionando desnutrição materna e danos no sistema imune – o que pode aumentar o risco de doenças infecciosas e contribuir para nascimentos prematuros e para o desenvolvimento de problemas neurológicos ou de má formação do feto, durante o primeiro trimestre da gestação.

Em gestantes com história de dietas consecutivas, pode-se observar um medo maior de ganhar peso, que compromete o ganho ponderal adequado na gravidez. A desnutrição materna aumenta muito o risco infantil de hipertensão, obesidade, hiperfagia e hiperinsulinemia.

Eu me alimento bem, mesmo assim, preciso tomar ácido fólico?

Verdade. O ácido fólico é uma vitamina do complexo B, com papel importante na síntese de ácidos nucleicos, essenciais para o fechamento do tubo neural do feto, que dará origem ao cérebro, medula espinhal e sistema nervoso. A quantidade de ácido fólico necessária para mulheres em idade fértil ou no primeiro trimestre de gestação é elevada e difícil de ser alcançada pelas fontes alimentares (vegetais verde-escuros, legumes, levedo, miúdos), que precisariam ser consumidas em quantidades exageradas. Assim, a suplementação pré-concepcional (recomenda-se inicio com três meses antes de tentar engravidar) é necessária, até o fim do primeiro trimestre.

Uma taça de vinho por dia faz bem para coração da gestante e do bebê?

Mito. É recomendada a restrição total de álcool, especialmente durante o primeiro trimestre e não há consenso se existiria alguma quantidade segura no segundo e terceiro trimestres, uma vez que o desenvolvimento do cérebro continua vulnerável, devendo a mãe manter-se abstinente durante toda a gestação.

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Segundo um estudo desenvolvido na USP, publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia em 2005, o consumo leve de bebida alcoólica está relacionado com redução significativa no comprimento dos recém-nascidos, agride o cérebro do filho e causa futura dificuldade de aprendizagem na escola. O álcool atravessa rapidamente a membrana placentária e o feto não consegue metabolizar o álcool, pois seu o fígado não está completamente amadurecido. O consumo excessivo de álcool durante a gravidez está associado ao atraso do crescimento fetal ou pós natal, anomalias craniofaciais, microcefalias, anomalias comportamentais e atraso mental.

Consumir alimentos diet, light e adoçantes, ajuda a gestante a controlar o peso?

Mito. Como qualquer pessoa, a gestante deve se preocupar em manter uma alimentação equilibrada que proporcione um ganho de peso saudável, sem a necessidade de incluir alimentos diet e light no seu cardápio.  O uso de adoçantes artificiais durante a gestação deve ser orientado apenas para casos específicos. É importante prestar atenção aos rótulos dos produtos disponíveis no mercado, identificando o edulcorante utilizado e a sua quantidade. Recomenda-se evitar especialmente produtos com sacarina sódica e ciclamato de sódio.

Tomar chá é seguro, pois é natural e não tem contraindicação?

Mito. O uso de chás e plantas medicinais por gestantes e lactantes é uma prática relativamente comum culturalmente, mas muitos deles podem ser tóxicos, teratogênicos, abortivos e, portanto, não seguros. Um levantamento bibliográfico em literatura científica realizado pelo Programa Estadual de Plantas Medicinais (Proplam) verificou que algumas espécies de vegetais medicinais (fitoterápicos) apresentam riscos no uso indiscriminado e se mostraram sem comprovação de qualidade, segurança e eficácia para o uso terapêutico, sendo, portanto contra- indicadas no período de gestação e lactação.

Tenho muita retenção de líquidos, minha perna está muito inchada, o ideal é beber pouca água e sucos, para não reter mais líquidos?

Mito. Durante a gestação, a quantidade de líquido corporal aumenta consideravelmente. Cerca de ¼ do peso da gestante é líquido. Cigarro, alto consumo de café, excesso de sal nos alimentos e baixo consumo de alimentos fontes de potássio como aveia, tomate, cenoura, beterraba, espinafre, melão, melancia, são fatores que podem aumentar o inchaço. A água, pelo contrário, ajuda a uma boa circulação sanguínea, principalmente para o útero e para a placenta, melhorando as condições nutricionais da criança e evitando possíveis inchaços durante a gestação.

Mantenha a hidratação frequente. Estimule o consumo de água começando com pequenas quantidades; deixe uma garrafa sempre próxima; faça águas aromatizadas, acrescentando dentro da garrafa de água casca de maça, rodelas de laranja, morango, hortelã, limão… De acordo com a preferência.

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O bebê nasceu bem, agora eu posso comer o que quiser, sem me preocupar com nada?

Mito. Mulheres que amamentam precisam de um maior aporte de proteínas, vitaminas e minerais para garantir que seus depósitos não sejam utilizados para produção do leite materno. Você sabia que a média diária de leite materno produzida é 850 mililitros por dia? Por isso a ingestão de nutrientes deve ser aumentada. Não se descuide!

Dentre os cuidados nutricionais durante a gestação que devem ser mantidos na lactação, podemos destacar o fracionamento das refeições e porcionamento, a fim de respeitar os sinais de fome e saciedade, evitar alimentos crus de procedência desconhecida, redobrar o cuidado com a higiene dos alimentos, regularizar o consumo de frutas, legumes e verduras, garantir a regularidade intestinal, priorizando o consumo de alimentos menos processados e mais caseiros.

 

Claudia Cozer Kalil
(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

 

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