Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por José Casado
Informação e análise
Continua após publicidade

Mulheres na CPI deixam senadores governistas atordoados

Com defesa do governo difícil, senadores governistas tentam impedir oposição de falar. Se atrapalham e, inexplicavelmente, passam a lutar com as senadoras

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 jul 2021, 12h26 - Publicado em 9 jul 2021, 09h30

Defender o governo parece ser missão cada dia mais difícil de ser cumprida na CPI da Pandemia. Por isso, senadores aliados de Jair Bolsonaro tentam coordenar a ação no plenário da comissão para não deixar alguém da oposição terminar de falar.

Obstrução é do jogo, tática antiga, de inspiração militar, com potencial de arruinar a estratégia do adversário — são incontáveis os generais com vitórias traçadas no papel que acabaram derrotados por detalhes do campo de batalha.

O problema, na CPI, é que os senadores governistas quase sempre se atrapalham na defesa de Bolsonaro. Uma vez na confusão, partem para a luta com senadoras, inclusive as aliadas do governo. Ninguém consegue explicar a lógica, se é que existe, mas tem sido o padrão nesse inquérito parlamentar televisionado, recordista de audiência nas últimas dez semanas.

A bancada governista gastou o primeiro mês numa luta inglória, para não deixar que as mulheres pudessem falar. Todos os 18 integrantes (11 titulares) da comissão, com voz e voto, são homens. Esquecidas pelos líderes dos próprios partidos, as senadoras se inscreveram na comissão, batalharam e conseguiram direito à voz — mas sem voto. “Se foi um erro das lideranças [partidárias] não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa”, tem repetido o governista Ciro Nogueira, presidente do PP e líder do Centrão.

Ontem, a senadora Eliziane Gama, do Cidadania do Maranhão, presidia a sessão em que a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Francieli Fantinato, relatava obstáculos criados dentro do governo à vacinação em massa contra a Covid-19.

Continua após a publicidade

Surpreendidos, os senadores governistas persistiram na tática de sucessivas interrupções, e mais uma vez se atrapalharam. De repente, Marcos Rogério, do DEM de Rondônia, voltou-se contra Eliziane.

Ela se manteve calma: — Senhor senador Marcos Rogério, deixe eu falar uma coisa aqui para o senhor: nós estamos diante de um acordo feito aqui…

— Não corte o meu microfone, por favor.

– Eu cortei? — disse Eliziane. — Desculpa, foi sem querer. Mas realmente eu não posso ceder a palavra a vossa excelência.

Continua após a publicidade

Ele insistiu: — Pode, pode, porque eu estou pedindo a palavra.

Ela cedeu: — Um minuto. Um minuto.

Então, ele protestou, enfático: — Não, não é um minuto!

Ela retrucou: – Senador, senador, deixa eu falar uma coisa pra o senhor aqui, ó… Não, não, não, não e  não… Não, senador, não venha gritar aqui não, senador.

Continua após a publicidade

– Não, eu não estou gritando…

– Não, não grite.

– Não, eu não estou gritando.

– Não grite, porque aqui todo mundo sabe gritar!

Continua após a publicidade

– Não, quem está gritando é o Regimento [do Senado] e a Constituição.

– Não, não, não, não… Tenha a tranquilidade de fazer o pedido e não fazer a sua imposição, porque vossa excelência não vai impor nada. Quem está presidindo esta sessão aqui sou eu, então vossa excelência não vai impor, não. Então, baixe seu tom de voz!

– Meu tom de voz…

– … Peça, e eu vou decidir…

Continua após a publicidade

– … Meu tom de voz é esse, presidente.

– … Se eu defiro ou não o seu pedido.

– O.k.

– Então por favor…

– Meu tom de voz é esse. Vossa excelência não consegue mudar meu tom de voz.

– Não grite. Então, não grite. Não venha impor aqui que eu tenho que decidir o que vossa excelência pede.

Ele se acalmou, ela deu-lhe o minuto previsto, e a sessão avançou com a bancada governista cada vez  mais atordoada pelas voz de outra mulher, a ex-coordenadora do programa nacional de vacinação.  Pacientemente, ela repetia as razões de sua renúncia depois de quase dois anos no Ministério da Saúde:

— Bem, senhoras e senhores, para um programa de vacinação ter sucesso, é simples: é necessário ter vacinas, é necessário ter campanha publicitária efetiva. E, infelizmente, eu não tive nenhum dos dois.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.