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Por José Casado
Informação e análise
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Tropa do governo decidiu vetar as senadoras

O dia em que aliados do Palácio do Planalto foram à luta para impedir as senadoras de falar no plenário

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 Maio 2021, 09h00

O governo e seus aliados na CPI da Pandemia continuam atrapalhados. Ontem, deixaram de lado o embate com a oposição e partiram para a briga com as mulheres. A tropa orientada pelo Palácio do Planalto resolveu lutar para não deixar que as senadoras, aliadas ou adversárias, pudessem falar.

Ao lado do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, o presidente da  comissão, Omar Aziz (PSD-AM),  anunciou: – E agora uma representante da Bancada Feminina, depois o Senador Tasso (Jereissati), que não vai brigar com as mulheres – ele não é doido, de jeito nenhum. Quem vai falar pela Bancada Feminina? Senadora Eliziane.

Eliziane Gama (Cidadania-MA) agradeceu: — Eu queria, inicialmente, cumprimentá-lo e parabenizá-lo pela sua postura, pela sua decisão da inclusão de uma representação feminina neste Colegiado …

Ciro Nogueira (PP-PI), interrompeu. Começou a protestar contra a permissão para que mulheres tivessem voz na CPI, formada por onze homens titulares e sete suplentes. O presidente, Aziz, respondeu calmamente: – Senador Ciro, ontem nós acordamos isso. Não diga isso…

Ciro se irritou: – Ninguém, não tem um partido político desta Casa que tenha mais representantes mulheres. Agora, se foi um erro das lideranças não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa.

Aziz tentou contemporizar: – Eu acho, Senador Ciro, que o que nós estamos entendendo é que a contribuição dos senadores e das senadoras… E aqui todos somos iguais, não tem diferença, a única diferença nesse momento é que nós fomos indicados para uma comissão, só essa.

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Ciro: – Nada contra a senadora, mas isso não está no Regimento (do Senado), não foi acordado pela Comissão.

Ganhou o apoio de outro governista, Marcos Rogério (DEM-RO): – É isso. É isso.

Ciro: – E a gente fica sempre com o papel de ser o vilão?

Eliziane reclamou: – Só não entendo por que tanto medo das vozes femininas aqui, Ciro e Marcos Rogério.

Ciro: – Está vendo? É por isto que nós não queremos, presidente: porque as pessoas ficam querendo dar uma outra versão, como se nós estivéssemos perseguindo as mulheres. Quem perseguiu as mulheres foi seu partido, que não a indicou, Senadora.

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Aziz: – Não, não, não (…) Fiz um apelo de ouvir a representação de uma senadora da República. Eu não estou fazendo nenhum favor, não.

Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, socorreu Aziz: – E não é concessão, não; é compensação [pela absoluta ausência de mulheres na lista de integrantes da comissão].

Simone Tebet(MDB-MS) entrou na discussão: Há uma grande diferença de privilégio e prerrogativa. Privilégios são inadmissíveis num Estado de direito, e as mulheres desta Casa nunca vão pleitear. Prerrogativas são diferentes. Nós pedimos ao plenário desta comissão, ontem, que pudéssemos ter direito a uma fala na lista dos titulares e na lista dos suplentes (…) Nós não estamos pleiteando aqui a titularidade na Comissão, apenas uma inversão de ordem para falar!

Marcos Rogério: – Não, não e não!

Leila Barros (PSB-DF): – Por que 18 homens vão falar e 2 mulheres não podem?

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Eliziane: – Agora, é muito medo da voz das mulheres! Eu fico pasma com isso!

Começa um tumulto no recinto. Eliziane prossegue, apelando quase aos gritos para ser ouvida: – É sim, senador Ciro! Por favor, senador!

Leila intervém: – Por que desse show? Qual o porquê do show?

Eliziane: – É óbvio que é! É óbvio que é!

Aziz: – Eu vou pedir, por favor…

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Eliziane: – Aqui há Parlamentares da base do Governo e da Oposição, há mulheres que apoiam o Governo e mulheres que fazem oposição ao Governo (…) Aqui não é uma questão política, aqui é uma participação feminina, das mulheres, senador Fernando!

Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, protesta gritando: – Mas não é isso não!

Eliziane: – Senador Fernando, nós temos mulheres que são da base do Governo, e elas vão falar, Senador! Por favor!

Fernando: – Mas não pode ser ao arrepio da representatividade que o povo elegeu!

Eliziane: – Ora, por favor, Senador!

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Novo “tumulto no recinto”, escrevem os taquígrafos.

Simone Tebet retoma: – Ninguém está rasgando o Regimento! Aqui nós não temos direito a voto, senhor presidente! Nós não temos direito a apresentar um requerimento! Nós não temos direito a votar. Nós estamos apenas pedindo, gentilmente, uma inversão de ordem na Comissão!

A confusão aumenta. Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice da CPI, apela: – Omar (Aziz), resolva a questão de ordem! Resolva a questão de ordem!

Marcos Rogério grita: – Presidente, eu gostaria de fazer…

Aziz: – Só um minutinho, só um minutinho!

Eliziane repete, dirigindo-se a Marcos Rogério: – Total desequilíbrio! Total desequilíbrio! V. Exa. não está equilibrado.

Marcos Rogério: – … o gesto de V. Exa. em tentar…

Todos falam e discutem fora dos microfones.

Eliziane passa a fazer apelos ao líder do governo: – Por favor, você sabe que eu tenho um carinho pessoal por você. Você não pode se alterar dessa forma, senador Fernando!

Leila Barros: – Aliás, nenhum deles!

Eliziane: – A gente nem vai votar – a Soraya [Thronicke] lembrou muito bem –, a gente não tem nem direito a voto nesta Comissão! A gente só quer falar, senador Fernando!

Marcos Rogério: – Todo o Senado Federal tem absoluto respeito pela Bancada Feminina e por sua representação nesta Casa (…) Agora, quando da ocupação de assento numa Comissão Parlamentar de Inquérito, presidente, isso tem peso não só na questão da votação, da deliberação dos requerimentos aqui. Isso tem peso em relação à narrativa que está sendo feita no âmbito desta Comissão e para a sociedade. O que se busca aqui me parece que é engrossar o coro daqueles que querem dar peia no Presidente Bolsonaro, com todo respeito.

Eliziane: – Pelo amor de Deus, senador Marcos!

Marcos Rogério: – Não dá para entrar…

Eliziane: – Pelo amor de Deus!

Aziz: – Espera aí, espera aí, espera aí, espera aí.

Eliziane: – Não, Presidente! Eu não vou aceitar isso!

Aziz a Marcos Rogério: – Peço a Vossa Excelência… O que é isso? O que é isso?

Taquígrafos registram um novo “tumulto no recinto”.

Soraya Thronicke (PSL-MS), aliada do governo Bolsonaro, pede para falar: – A Soraya aqui, PSL, presidente (…) Que desequilíbrio! Que desequilíbrio!

Marcos Rogério discute com Eliziane. Renan Calheiros, intervém: – Sr. Presidente, com as mulheres, não.

Marcos Rogério: Se a Bancada Feminina quer assento nesta Comissão para agir como titulares da Comissão, pegue o bloco (partidário), forme um partido político e terão assento nesta Comissão como membros titulares. Ao contrário disso…

Taquígrafos repetem nas anotações: “Tumulto no recinto.”

Soraya: – Senador Marcos Rogério, eu entrei do mesmo jeito que o senhor. Eu entrei nesta Casa do mesmo jeito que o senhor, senador. Votos legítimos! Voto da população. Eu entrei nesta Casa como o senhor!

Marcos Rogério: – Não se trata de questão sexista.

Soraya insiste: – Entramos todos pela mesma porta!

Aziz decreta: – A reunião está suspensa!

Quando reabre, tenta explicar a Ciro Nogueira a decisão a favor das mulheres, tomada em plenário no dia anterior: – Senador Ciro, todo mundo concordou…

Ciro discorda, “novo tumulto no recinto”.

Renan, impaciente: – Essa é uma discussão inútil.

Aziz: – A palavra está assegurada…

Eliziane: – Perfeito, senador.

Aziz continua: – … por 15 minutos, à Senadora Eliziane. Vamos lá. Vamos tocar.

Eliziane: – Muito obrigada. É muito lamentável que a gente tenha todo esse debate, mas vamos lá.

É interrompida, de novo.

Eliziane: – Por favor, Senador Marcos do Val, eu não posso falar?

Marcos do Val (Podemos- ES): – Pode.

Eliziane: – Então, pronto. Por favor, a gente não pode falar nada que vocês ficam – sabe? – descontrolados. Com todo o respeito. Pelo amor de Deus.

Ciro fala algo para Eliziane, fora do microfone, e ela retruca: – É você, senador Ciro! Vossa excelência começou a ficar descontrolado desde ontem.

Renan: – É. Ficam provocando.

Mais confusão. Eliziane a Ciro: – Então, pronto. E nem você comigo, senador Ciro. E nem V. Exa. comigo. Nem V. Exa. comigo…

Mais um “tumulto no recinto”. Gritos, campainha.

Eliziane: – Por favor, Senador Ciro. V. Exa. está assim desde o início desta CPI. O que é isso? Não… E nem eu aguentando grito de homem, senador Ciro. Por favor.

Eliziane sobe o tom: – O que que é, senador? O que que é, senador? V. Exa. pensa o quê, senador, que V. Exa. vai calar a gente? Do jeito que V. Exa. não admite meu grito, eu também não admito o seu grito. Pelo amor de Deus!

Aziz: – Eu quero pedir desculpa ao Dr. Teich, que está aqui, veja bem, sendo testemunha e está tirando um dia de trabalho dele. Ele está aqui.

Renan: – E relevem. Ele já vem com essa impressão do Governo e tem a mesma daqui?

Aziz: – Por favor! Eu acho o seguinte: nós vamos acirrando um negócio que não é… Se fosse um fato muito relevante, mas não é nada! Nós vamos…

Eliziane: – Senador Ciro, V. Exa. não fique me olhando dessa forma achando que vai me intimidar, não. Tá bom?

Discussão, campainha, e Aziz: – O que é isso? O que é isso? O que é isso?

Eliziane: – Não, não está bom. Não, Presidente, é só para dizer, porque o Senador Ciro vira para mim como se estivesse … Não é qualquer um que me olha de cara feia. Mas, está bom, está bom, vamos lá! Ministro [Nelson Teich], eu queria iniciar …

Passado o pandemônio, uma senadora conseguiu vencer a barreira governista que tentava impedi-la de fazer uma pergunta no plenário da CPI da Pandemia.

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