É tempo de loucos no poder
Estamos percebendo que não há nenhum país no mundo à prova de malucos
As circunstâncias que levaram milícias trumpistas ensandecidas a invadirem o Capitólio – símbolo da consolidada democracia dos EUA – produzindo cenas inimagináveis de barbárie, e um saldo de quatro mortos, nos faz refletir sobre o que pode nos esperar por aqui, nas eleições de 2022.
Mesmo que o Congresso americano tenha se reunido durante a madrugada subsequente, e ratificado a eleição de Joe Biden no pleito de novembro de 2020, as imagens da balbúrdia generalizada correram o mundo e os prejuízos foram consumados.
Na realidade, o que estamos percebendo é que não há nenhum país no mundo à prova de loucos.
Um lunático sedado ou trancafiado em um hospício não tem potencial para fazer mal a ninguém. Mas quando se trata de um psicopata sentado na cadeira de chefe de governo, os estragos podem ser incomensuráveis.
A grande maioria dos países consegue elaborar constituições e regramentos prevendo mecanismos para rechaçar inimigos externos, ou promover o equilíbrio de forças entre os poderes nacionais, evitando tentativas de abusos dos seus detentores, assim como interferências exógenas prejudiciais ao seu funcionamento regular.
Mas não há nação que tenha conseguido criar checks & balances para se blindar por completo de desatinos e loucuras rasgadas cometidas por seu mandatário. No caso dos EUA, nenhum founding father poderia imaginar que a Casa Branca pudesse um dia abrigar um presidente sem nenhum limite ético e moral, isto é, alguém que fosse capaz de tudo para se manter no poder, inclusive disseminar mentiras e trair frontalmente o próprio juramento feito à Constituição.
Os modernos aviões de passageiros de hoje trazem inúmeros equipamentos e parafernálias tecnológicas para evitar acidentes. São quase à prova de quedas. Mas o que seria dos seus passageiros se entrasse um louco na cabine de comando, fazendo-se passar por piloto? Aí fica complicado…
Mas governantes psicopatas não chegam sozinhos ao poder. Invariavelmente se aproveitam de momentos históricos de crises e fragilidades nacionais e, oportunistas que são, engendram intrincadas armadilhas psicológicas, disseminando o medo e o ódio, arrebatando desta forma legiões de eleitores e discípulos, que os acompanham em cegueira profunda, até o abismo dos penhascos, como lemingues em suicídio coletivo.
Exemplo clássico e histórico de insanidade popular generalizada é a Alemanha dos anos 1930, uma nação industrializada e ainda mais amadurecida (e com uma sociedade mais homogênea e organizada) do que os Estados Unidos, que sucumbiu aos delírios de Adolf Hitler, um líder populista, carismático e psicopata.
Aqui no Brasil, onde não somos nem sombra desses dois países, Jair Bolsonaro não teria um décimo do trabalho que Trump teve para gerar situações perigosas, inclusive de rupturas, que poderiam colocar em risco a nossa jovem democracia.
A enorme semelhança de Bolsonaro e Trump, e o desprezo que ambos aparentemente demonstram em relação às instituições do Estado, não nos autorizaria, doravante, a qualquer desatenção nesse sentido.
Já ensaiam por aqui a mesma fake news disseminada nos EUA pelas hostes trumpistas, que alimentam de forma recorrente e inidônea a possibilidade de fraudes generalizadas no pleito de 2022.
Temos que ficar alertas como nunca e, assim como os eleitores dos Estados Unidos, nos livrar desse pesadelo nas próximas eleições presidenciais.