Thor: Ragnarok
O trailer confirma: se você ainda não viu nada do diretor Taika Waititi, corra para ver – seu humor vai melhorar na hora
O trailer de Thor: Ragnarok acabou de estrear e, sem brincadeira, é um dos melhores (o melhor?) que a Marvel já lançou: o visual é um arraso, a apresentação de cada personagem é estupenda (Cate Blanchett vem a toda como a vilã), o elenco é ótimo, a escolha de Immigrant Song, a música de conquista viking do Led Zeppelin, é óbvia mas funciona que é uma maravilha, e o tempero – esse é o que mais me anima para a estreia do terceiro Thor, em 2 de novembro. Quem dirige é o neozelandês Taika Waititi, que está pulando sem escalas do micro para o mega-orçamento, mas traz consigo algo que não tem preço: montes de originalidade e um senso de humor sem igual.
A não ser que você acompanhe muito de perto a TV e o cinema neozelandeses, provavelmente só conhece Taika Waititi como ator se assistiu ao mockumentary (ou falso documentário) O que Fazemos nas Sombras, que está disponível na Netflix e é genial – Waititi faz Viago, o vampiro organizado e ansioso que divide a casa com outros dois vampiros largadões em Wellington, na Nova Zelândia. Como diretor, Waititi assinou O que Fazemos nas Sombras, Fuga para a Liberdade (que está no NOW, Apple TV e Google Play e eu comento no próximo parágrafo) e vários episódios da série Flight of the Conchords (na HBO GO). Além de Thor: Ragnarok, claro – um talento assim tão especial para o inusitado não passa despercebido, e a Marvel correu para recrutar Waititi. Já dá para conferir a pegada dele para o deus nórdico em dois curtas (Team Thor Part 1 & Part 2) que mostram Thor bestando na casa de um coitado, na Austrália, enquanto os outros Vingadores trabalhavam em Capitão América: Guerra Civil. Aliás, se Thor: Ragnarok cumprir tudo o que o trailer promete, os demais Vingadores vão ter de suar a camisa para acompanhá-lo.
Mas, se você está precisando de alguma coisa para melhorar já o humor, dê uma espiada em Fuga para a Liberdade. O protagonista do filme, o gordinho e mal-humorado Ricky (Julian Dennison), me ganhou de cara: quando a assistente social o despeja na casa dos seus novos pais temporários avisando que Ricky é “um caso perdido” e certamente vai dali para o reformatório, apoiei integralmente o ar de tédio e indiferença de Ricky: o que mais fazer? Tentar parecer uma criança encantadora? Não, claro. Numa situação dessas, só resta fingir que não se está nem aí para preservar alguma dignidade.
Mas Bella (Rima Te Wiata) não é boba. Também ela saca que Ricky está só se defendendo, e entra no jogo dele. Toda noite, Ricky foge (ele avisou que ia fazê-lo). Como a casa fica no meio do nada e ele não é lá muito atlético, Ricky anda uns 200 metros e fica no mato esperando Bella ir persuadi-lo a voltar, com promessas de bacon e panquecas. Ricky e Bella se adoram. Hec (Sam Neill), o marido de Bella, não adora coisa nenhuma. Só olha os dois, grunhe e vai caçar algum bicho. E então algo acontece, Ricky e Hec muito a contragosto se veem sozinhos e, por razões que não convém revelar, têm de fugir, sobrevivendo juntos na floresta e se escondendo de todos. É extremamente bem escrito – Waititi tem o dom de pegar clichês e virá-los do avesso, para transformá-los em algo novo – e absolutamente delicioso. E, como O que Fazemos nas Sombras, consegue ser também tocante de uma maneira muito digna e discreta: se há algo que Waititi nunca perde de vista, nesses dois filmes, é que não existe nada mais duro do que não ser querido nem desejado.
Trailers
FUGA PARA A LIBERDADE (Hunt for the Wilderpeople) Nova Zelândia, 2016 Direção: Taika Waititi Com Julian Dennison, Sam Neill, Rima Te Wiata, Rachel House, Tioreore Ngatai-Melbourne |