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Live com a minha mãe

Lembranças do dia em que contei ser gay

Por Fernando Grostein Andrade Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jun 2020, 12h10 - Publicado em 19 jun 2020, 06h00

Como decorrência da pandemia, a parada LGBTQ de São Paulo foi adiada para novembro. Como a data não poderia passar batido, tudo aconteceu de forma virtual. Resolvi contribuir chamando minha mãe, Marta, para fazer uma live comigo no Instagram. Pedi a ela que lembrasse como foi o dia em que contei ser gay. Recebi comentários carinhosos dizendo quanto as palavras dela foram bonitas e produtivas. Resolvi, então, abrir espaço nesta minha coluna para ela relatar, em primeira pessoa, o que sentiu.

“Quando o Fe me convidou para a live, imediatamente concordei e logo passei a exercitar as recordações. Como foi e quando foi? Difícil precisar a data — é momento que faz parte da minha vida, de meu cotidiano, já dissolvido no tempo. Deixou de ser um marco, embora alguns fatos nunca se percam e permaneçam vivos na memória. Mas aqueles momentos foram decisivos o suficiente para marcar o início de um relacionamento verdadeiro e cheio de afeto. O dia da revelação foi muito forte. Era terça-feira, horário do jantar. Luciano veio do Rio, Andrea veio do escritório e Fernando avisou que viria jantar. Eu estava muito feliz com o encontro das pessoas mais importantes para mim, que tudo compartilhavam comigo. Fernando falou: “Mãe, eu sou gay”.

“Faltou-me chão. Tudo o que pensei no momento me dava medo. Medo do que ele sofreria na vida”

A revelação completamente inesperada foi uma surpresa. Faltou-me chão. Muitos fantasmas imediatamente vieram a minha mente e, por causa deles, comecei a chorar. Foi uma reação instantânea. Tudo o que pensei no momento me dava medo. Medo do que ele sofreria na vida, do que poderia lhe acontecer, das dificuldades que atravessaria. Nós quatro conversamos longamente. Mas eu não conseguia perceber quanto era verdadeiro e corajoso para o Fernando enfrentar aquele momento. E quanto foi decisivo para tudo o que viria depois.

Eu me lembro sempre de o Fernando dizer, calmamente, ‘não quero ser excluído da vida familiar que tanto amo, da proximidade com as pessoas que amo, quero me sentir verdadeiro e conviver com todos’. Levei alguns instantes para absorver tudo o que estava acontecendo naquele momento. O dia seguinte foi outro ponto decisivo, do qual me recordo: a aula que não daria na FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Por isso lembro de ter sido numa terça-feira à noite aquele jantar. No dia seguinte pela manhã, quarta-feira, às 8 horas, era dia de dar aula — seriam quatro horas de dedicação e atenção, como em todas as semanas, atividade agradável, relevante, mas trabalhosa. Cheguei ao câmpus da USP cansada, depois de uma noite maldormida e tensa.

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Minha colega e parceira na disciplina que ministrávamos juntas, a Regina, sempre presente, imediatamente percebeu o meu estado emocional. Eu me lembro muito bem: foi a primeira vez em mais de vinte anos de trabalho que não demos aulas, ela e eu. Dispensamos os alunos e ficamos conversando longamente. Tudo foi muito marcante e relevante. Desde então, a teia de relações amorosas, no coração da família e fora dela, foi sendo elaborada e construída dentro de um marco solidário e de muito acolhimento.”

Publicado em VEJA de 24 de junho de 2020, edição nº 2692

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