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Como os chineses comem escorpiões e sobrevivem?

O escorpião pode ser degustado em segurança de três maneiras. Uma delas é tirando o último segmento da cauda, o telson

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 23h56 - Publicado em 22 jun 2016, 08h03

O escorpião pode ser degustado em segurança de três maneiras. Uma delas é tirando o último segmento da cauda, o telson. É nessa ponta onde ficam as duas glândulas que produzem e armazenam o veneno.

A segunda forma é assando ou fritando o bicho antes. As altas temperaturas quebram as estruturas das proteínas que formam o veneno e o desativam.

Uma terceira via é escolher escorpiões que não são perigosos. Das 1900 espécies existentes, apenas 25 têm veneno.

“Eu não recomendaria nenhuma delas mas, se fosse para escolher uma, eu indicaria com o animal em alta temperatura, principalmente frito”, diz a bióloga Denise Maria Candido, do Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo.

De onde vem o costume de comer insetos na China?

Eles aprenderam a ingerir todo tipo de bicho durante as fomes devastadoras que enfrentaram no passado. A pior veio em 1958, quando Mao Tsé-tung decretou a coletivização do campo. Todos os que viviam na zona rural foram obrigados a trabalhar em fazendas controladas pelo governo, que confiscou a produção e se deu o papel de distribuidor de comida.

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Os camponeses foram proibidos de arar a própria terra ou de ter uma cozinha. Enxadas, arados, panelas e facas foram derretidos para produzir metais para o Partido Comunista. Só era permitido comer em refeitórios coletivos. Quem fosse flagrado mastigando fora do lugar era castigado fisicamente.

O resultado da coletivização foi devastador. A produção de alimentos caiu e a fome chegou. Em 1960, para tentar diminuir o estrago, o Comitê Central do Partido Comunista publicou uma resolução recomendando a ingestão de insetos. Eles poderiam ser tostados, fritos, assados, secos e transformados em pó. Recomendava-se ainda que fossem transformados em pastas, biscoitos e colocados no molho de soja.

Seguindo a orientação do Grande Timoneiro Mao, cada localidade mandou seus habitantes para as montanhas e para os rios para encontrar insetos. “As alternativas aos alimentos ajudaram a mitigar a fome, mas também provocaram envenenamento, frequentemente com resultados fatais“, escreveu Yang Jisheng no livro Lápide, a grande fome chinesa.

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Na Grande Fome da China, como a tragédia ficou conhecida, morreram 38 milhões de pessoas. No desespero, alguns violavam túmulos para comer cadáveres recém-enterrados.

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O problema foi contornado com o tempo, mas alguns hábitos permaneceram. Em seu livro O que os chineses não comem (Companhia das Letras), a escritora Xinran conta a história de um casal inglês que foi a um restaurante em Guilin, em 1998. O lugar ficava à beira de um rio e eles se sentaram no jardim. O garçom explicou o cardápio. Eles podiam escolher o que quisessem de tudo o que estava vivo no quintal ao lado da cozinha. Assustada, a turista preferiu pagar para deixá-los vivos.

Em outro trecho do livro, uma mulher descreve o que os chineses comem:

“Tudo o que voa no céu e você pode ver, exceto aviões, tudo o que nada no rio e no mar, exceto submarinos; tudo o que tem quatro pernas sobre a terra, exceto mesas e cadeiras – é isso que nós comemos”.

Aproveitando a ocasião: os escorpiões não se matam com a cauda. “Isso sequer faria sentido, uma vez que o veneno dele não tem efeito negativo para o próprio organismo, diz a bióloga Denise Maria Candido, do Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan, em São Paulo. O que acontece quando um escorpião é colocado dentro de um círculo de fogo é que ele morre desidratado e queimado. Enquanto o corpo do inseto perde a água, ele se contorce, se curva e balança a cauda. Sente que tem algo perigoso e quer se defender. No final, a impressão para quem vê é a de que ele se picou. 

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