Fala-se em pacote de desenvolvimento social e econômico, mas no que o presidente Jair Bolsonaro pensa mesmo é no benefício assistencial que possa lhe assegurar popularidade suficiente para entrar na disputa de 2022 em condições favoráveis. Da boca para fora faz profissão de fé na estabilidade econômica e da cabeça para dentro persegue a estabilidade, de preferência em viés de alta, em seus índices de avaliação positiva.
O tal pacote mistura assuntos diferentes como desoneração de folhas de pagamento, mudanças no Imposto de Renda, criação de imposto, programa de obras de infraestrutura, mas o foco dessa salada é o substituto do Bolsa Família. Daí a demora na apresentação do conjunto de projetos: a dificuldade de o ministro da Economia encontrar um jeito de dar ao presidente um Renda Brasil que lhe assegure a fidelidade dos mais pobres e, por isso, atraia a simpatia dos mais sensíveis.
A fórmula deu certo com Luiz Inácio da Silva, mas a diferença é que lá atrás, na época do então presidente, havia dinheiro e não havia teto de gastos. Agora não há dinheiro e há o teto. Não existe outro caminho para o ministro Paulo Guedes a não ser o de fazer a mágica, se a ideia dele for permanecer no governo, bem entendido.
Por ora o presidente insiste no valor de R$ 300. E por quê? Devido ao simbolismo das três notas de R$ 100 no bolso do beneficiado. Imagem muito mais forte que os R$ 200 e uns quebrados que Guedes considera o possível nas condições atuais. As três notas de R$ 100 ajudariam a minimizar o efeito da redução do valor do auxílio emergencial a princípio válido até o próximo mês de dezembro.
E se, ao fim e ao cabo, não for possível atender ao presidente? Para ele, sem problemas: já se consolidou como o defensor dos R$ 300 e assim, na condição de benfeitor rendido aos ditames da realidade madrasta, percorrerá o país numa reencarnação de pai dos pobres.