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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Transplantes em tempos de Covid-19

O número de doadores de órgãos caiu 6,5% entre janeiro e junho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019

Por Claudio Lottenberg
16 set 2020, 09h09

A pandemia da Covid-19 afetou a doação de órgãos e transplantes no Brasil neste primeiro semestre. O número de doadores caiu 6,5% entre janeiro e junho deste ano, na comparação com o mesmo período de 2019, de acordo com a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). Entre abril e junho – já considerando os reflexos da pandemia, portanto –, os transplantes de pulmão caíram 85%, seguidos de transplantes de pâncreas (65%), coração (62%), rim (50%) e fígado (39%).

A Anvisa e o Ministério da Saúde atualizaram suas notas técnicas para incluir requisitos sobre a testagem laboratorial para o novo coronavírus (Sars-CoV-2) em doadores de órgãos e tecidos e em pacientes em lista de espera para transplante. Também foram inseridos critérios técnicos para gerenciar o risco sanitário de células-tronco hematopoéticas (CTHs) para transplante convencional.

Essas atualizações abordam novas orientações sobre triagem clínica, social e laboratorial frente à pandemia. As recomendações visam proteger profissionais de saúde, doadores e pacientes da contaminação pelo novo coronavírus, garantindo segurança e qualidade na busca ativa e na captação de órgãos e tecidos, seleção de doadores de células-tronco e transplantes.

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Transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido, saudável, de um doador – vivo ou não.

Com o aumento da expectativa de vida e em razão até mesmo da utilização de modalidades terapêuticas para determinados fins, os transplantes têm trazido melhorias na qualidade e na expectativa de vida. O transplante renal, por exemplo, tem efeito significativo não só no tempo de sobrevida, mas também na qualidade de vida: pacientes em diálise, quando transplantados vivem mais e melhor, e sofrem menos com os custos.

O transplante de fígado, por sua vez, é o procedimento mais complexo da cirurgia moderna. Nenhum outro interfere com tantas funções do organismo. Seu sucesso depende de uma completa infraestrutura hospitalar e de uma equipe altamente qualificada no procedimento e acompanhamento de pacientes gravemente debilitados pela doença que ocasionou o transplante. A medicina avançou muito, no entanto, e as taxas de sobrevida dos pacientes submetidos a esse procedimento no Brasil superam as dos melhores centros do mundo.

Primum non nocere, ou primum nil nocere, é o aforismo hipocrático, em latim, que significa “Primeiro, não prejudicar”. Também é conhecido como Princípio da Não-Maleficência, que orienta profissionais de saúde a evitarem riscos, custos e danos desnecessários aos pacientes ao examinar, diagnosticar, medicar ou fazer cirurgias. Mas essa máxima não pode culminar em inação: afinal, uma decisão de protelar um transplante em nome de não causar dano pode ser, em si mesma, causar mais danos que o risco do procedimento.

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