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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Cuidados necessários no pós-isolamento

A politização da saúde não pode ser mais forte que as políticas de saúde

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 28 Maio 2020, 14h49 - Publicado em 28 Maio 2020, 14h49

Desde que entramos no isolamento, o que mais se discute é saída do isolamento. A realidade, no entanto, é que pouco mais nos resta a fazer numa pandemia para a qual ainda não temos vacina e medicamentos e que apresenta alto grau de transmissibilidade. Temos que manter o distanciamento social, usar máscaras e fazer testes.

O novo coronavírus começou a circular no Brasil no início de janeiro, isto é, um mês antes do primeiro caso oficialmente documentado. Enquanto buscávamos saber como o vírus aqui chegava se estabelecia, a transmissão intracomunitária já ocorria.

No mundo, conforme o número de casos aumentava, autoridades governamentais, de maneira adequada e pautadas pela boa ciência, começaram a trabalhar um processo de distanciamento e isolamento, tentando acomodar os casos que necessitassem de internação hospitalar dentro da capacidade instalada de medicina intensiva.

Esse comportamento foi bastante diverso em nosso país, com curvas distintas e variações dentro da mesma cidade, o que acarretou importantes desdobramentos tanto para a saúde pública como para a economia.

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A assistência acontece junto a cada cidadão e, portanto, as ações assistenciais são de responsabilidade sobretudo dos estados e dos municípios. Já o governo federal, detentor de maior flexibilidade orçamentária, em tese tem papel primordial tanto nos aportes mais robustos como para encontrar respostas dentro da dinâmica econômica do país.

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Não cabe agora politizar o debate, que precisa fundamentalmente de atitudes de natureza técnica. Responsabilizar governos, minimizar a importância da capacidade de nosso sistema único de saúde, defender bandeiras sobre medicamentos – tudo isso já basta.

As cidades e os estados estão se preparando para sair dos processos de isolamento da mesma maneira que o mundo: sabendo dos riscos potenciais, mas não minimizando os cuidados necessários. Nesse novo período, os testes são importantes. Embora não sejam totalmente confiáveis, permitem pelo menos identificar, do ponto de vista epidemiológico, regiões de maior ou menor risco.

Outro fator a ser considerado na saída do isolamento é a capacidade da malha hospitalar, heterogênea em nosso país e sem padronizações de qualidade necessária. Onde houver maior ociosidade de leitos, torna-se mais fácil o processo de saída do isolamento, desde que seja mantido um amplo monitoramento de casos novos.

Em caso de nova ascensão de curva, poderá ser retomado o isolamento, que, insisto, é a única medida pautada pela ciência que pode minimizar os efeitos da mortalidade pandêmica.

Cabe aqui, no meu entender, uma observação a respeito dos pacientes. Aqueles que fazem parte dos chamados grupos de risco sempre irão merecer atenção especial. A assistência a eles acontece na ponta, ou seja, nas cidades. A taxa de mortalidade por coronavírus é até nove vezes maior entre pessoas com alguma doença crônica. Segundo dados do governo chinês compilados por uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro, no grupo de infectados que não tinham nenhuma comorbidade, apenas 1,4% morreu. Já entre os pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%. Considerando-se todos os pacientes infectados, a letalidade foi de 3,8%. Esse, portanto, é outro fator a ser levado em conta.

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Não descartaria neste momento a importância de mantemos perenizarmos o uso da telemedicina com monitoramento através de modelos aplicativos disponíveis dentro do contexto mundial. Essas soluções facilitam decisões de natureza técnica sem necessidade de mobilidade constante.

Nesse processo de saída do isolamento, precisamos estar atentos às pessoas que trabalham em setores de maior vulnerabilidade econômica. Elas devem receber tratamento prioritário quando autoridades municipais, com a autonomia necessária, decidirem a maneira de conduzir o processo. Na realidade, é importante levar em consideração até as diferenças entre sub-regiões dentro de um mesmo município.

Com a estabilização e até a inversão na curva de contágio, nosso país precisa começar a reativar sua economia. Isso não significa, no entanto, relaxar o monitoramento ou adotar medidas que possam resultar em novos isolamentos. Devemos manter hábitos adquiridos, como observar a distância social (sem apertos de mão ou abraços) e usar máscaras e álcool em gel, pelo menos enquanto não temos a vacina, cuja descoberta e produção, de acordo com as expectativas mais otimistas, poderia ocorrer até mesmo neste ano.

O Produto Interno Bruto irá diminuir e o desemprego vai aumentar. Alguns setores mudarão radicalmente, outros correrão o risco de desaparecer. Mas o ônus econômico, por maior que seja, jamais suplantará a triste perda de seres humanos. Temos tido repetidamente mais de mil óbitos por dia.

Poderíamos ter feito mais? Acredito que sim, mas aqui, de novo, constato que a politização da saúde não pode ser mais forte que as políticas de saúde.

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