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A jornalista agredida com a bofetada enfrenta a rotina do medo

Bruno Abbud O relato da jornalista Márcia Pache, da TV Centro Oeste, informa que a rotina de violências na cidade mato-grossense de Pontes e Lacerda acaba de incorporar o uso de bombas caseiras. A inovação, trazida por um motoqueiro não identificado, chegou na forma de um saco com tubos de plástico recheados de pólvora, colocado […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h44 - Publicado em 24 fev 2011, 15h35

Bruno Abbud

O relato da jornalista Márcia Pache, da TV Centro Oeste, informa que a rotina de violências na cidade mato-grossense de Pontes e Lacerda acaba de incorporar o uso de bombas caseiras. A inovação, trazida por um motoqueiro não identificado, chegou na forma de um saco com tubos de plástico recheados de pólvora, colocado em frente da creche onde Márcia, todas as manhãs, deixa o caçula de seus três filhos – de 11, 7 e 5 anos. A bomba foi localizada antes de explodir. Mas ampliou o repertório de medos da jornalista, inaugurado pela bofetada que assombrou o Brasil decente.

Ela sofreu a agressão em 28 de junho passado, ao tentar entrevistar na delegacia da cidade de 41 mil habitantes o vereador Lourivaldo Rodrigues de Morais, vulgo Kirrarinha. Corrupto juramentado, Kirrainha acabara de depor sobre um dos tantos casos de polícia que protagoniza. Márcia quis saber o que dissera. Antes que a pergunta fosse formulada, o entrevistado golpeou-a no rosto. O agressor continua impune. Márcia continua assustada.

Desde o momento da infâmia, ela convive com ameaças e com a indignação do primogênito ─ aos 11 anos, ele não vê a hora de crescer para vingar a mãe. Tem de suportar provocações de moradores da cidade incomodados com a exibição do vídeo que registrou a agressão no programa Pânico na TV. E tem de resistir ao  conselho que uma tia repete por telefone a cada meia hora: “Vá embora dessa cidade”.

Nascida na sul-mato-grossense Corumbá, Márcia mudou-se aos 9 anos para Cáceres, Mato Grosso, estudou num colégio de freiras e numa escola pública até que a festa de formatura fosse adiada indefinidamente pelo casamento prematuro e, em seguida, pela chegada do primeiro filho. Conseguiu emprego numa emissora de rádio, tornou-se repórter de televisão e desde outubro de 2009 vive em Pontes e Lacerda. Mais dois filhos vieram com o segundo casamento, também desfeito. Márcia sustenta as três crianças com o próprio salário.

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O primeiro marido, que trabalha com a mãe num restaurante em Cáceres, não a ajuda financeiramente. O segundo vive em Cuiabá com outra família e, além de não ajudar, atrapalha. Como já foi preso por porte de droga, transformou-se no trunfo usado por Kirrarinha para ofender reiteradamente a vítima. “Ela tem o passado sujo”, insiste o agora ex-vereador, candidatando-se a ampliar o formidável prontuário com mais alguns processos por injúria, calúnia e difamação.

Kirrarinha foi criado em Pontes e Lacerda, mas nasceu em Parnaíba, Mato Grosso do Sul. Funileiro de ofício, virou político ao descobrir que distribuir cestas básicas e passagens rodoviárias rende voto. Em 2008, à caça do apoio de um bando de eleitores sem-teto, incitou-os a invadir um terreno da cidade. Despejados pela administração municipal, os invasores reagiram dias depois com a explosão de duas bombas diante da casa do prefeito Newton Miotto, do PP. Kirrarinha escapou por falta de provas e passou a morar numa chácara nos arredores de Pontes e Lacerda.

Três meses depois da bofetada, a Câmara de Vereadores puniu o agressor com a cassação do mandato. O mandado de segurança impetrado contra o presidente da Câmara foi prontamente indeferido pelo juiz Gerardo Humberto Alves Silva Junior. Há uma semana, Gerardo amparou-se na agressão à jornalista e na prestação irregular de contas apresentada por Kirrarinha em 2008 para declarar o réu inelegível por dez anos. Enquanto aguarda o julgamento do recurso, o delinquente segue agindo com o desembaraço dos condenados à impunidade.

Kirrarinha só ficou na cadeia duas horas, enquanto Márcia se submetia ao exame de corpo de delito e a polícia produzia o Boletim de Ocorrência. O inquérito foi encaminhado ao Ministério Público, que encaminhou a denúncia ao juiz. Kirrarinha já escapou de duas audiências com a apresentação de um atestado médico que o transforma em portador de depressão aguda. A próxima está marcada para a tarde desta quinta-feira, 24 de fevereiro. “Eu até prefiro que ele não compareça”, confessa Márcia. “Tenho medo”.

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Filiado ao DEM, Kirrarinha também tem sido poupado pelo partido. Em  7 de setembro de 2010, o presidente da sigla, deputado Rodrigo Maia, prometeu resolver o caso em poucas horas. “A reunião é na quarta-feira que vem”, informou Maia. Nesta quarta-feira, repetiu o que disse há quase três meses. “Isso será decidido na reunião executiva”. Só mudou o dia da semana: o deputado garantiu que a coisa será resolvida “na quinta-feira que vem”.

Depois da bomba na creche, o prefeito de Pontes e Lacerda pediu socorro ao  comando da Polícia Militar em Cuiabá, que enviou uma equipe à cidade amedrontada. A Força Nacional de Segurança está por lá desde maio de 2010. São nove soldados, incumbidos de proteger a fronteira com a Bolívia. A bomba na creche pode ter relação com o tráfico de drogas. Mas pode não ter. Essa dúvida ampliou a sequência de sobressaltos que compõem o cotidiano de Márcia Pache.

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