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‘Supostos e suspeitos na ordem do dia’, um artigo de Deonísio da Silva

Publicado no Globo DEONÍSIO DA SILVA Vários profissionais estão desconcertados com o português de boa parte da mídia, mas não apenas com erros de ortografia, mais leves; ou de sintaxe, mais graves, por ferirem a lógica e confundirem os leitores. Sua perplexidade é com ataques absurdos como o seguinte: o bandido é flagrado com arma […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h32 - Publicado em 1 fev 2014, 19h20

Publicado no Globo

DEONÍSIO DA SILVA

Vários profissionais estão desconcertados com o português de boa parte da mídia, mas não apenas com erros de ortografia, mais leves; ou de sintaxe, mais graves, por ferirem a lógica e confundirem os leitores. Sua perplexidade é com ataques absurdos como o seguinte: o bandido é flagrado com arma na mão, confessa o crime diante de câmeras e microfones, sem nenhum tipo de coação, e, às vezes, reconhece, orgulhosamente, que o sujeito filmado pelos sistemas de vigilância de lojas ou residências é ele, sim, o meliante. E ainda assim boa parte da mídia o denomina “suposto assaltante”, “suspeito de crime” e outras delicadezas.

Escrever bem começa pelo seguinte: dar às coisas o nome que as coisas têm. E não é só em relação a assaltantes e gatunos, não. São assustadoras as indulgências concedidas a esses políticos corruptos. Elas são mais perigosas do que aquelas dadas aos bandidos comuns. Quando vão parar nos presídios, irrompe na cena a cara de pau adicional de simular esmolas recebidas para lhes custear as multas aplicadas pela autoridade competente. Esmolas de meio milhão de reais! O Brasil acaba de criar o mendigo de elite, que é o bandido político.

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Gozam dos benefícios dos eufemismos citados também políticos de outros países. “Suposto” e “suspeito” vêm sendo palavras curingas e têm servido para tudo, principalmente para substituir o que significa outra coisa.

Suposto quer dizer admitido por hipótese. Deixamos a palavra ali embaixo de “posto”, aguardando que a verdade seja apurada. Suspeito tem o significado de alguém do qual desconfiamos, que tenha feito algo que ele até pode negar. Porém, quando supostos e suspeitos admitem ou confessam, sem coação nenhuma, que foram os autores do que lhes é atribuído, eles não são mais suspeitos nem supostos.

Podemos fazer pouco, mas podemos ao menos contar ao distinto público as coisas como as coisas são. E para isso as palavras são outras, a sintaxe é outra, a lógica é outra.

É preciso que profissionais da fala e da escrita voltem aos bancos escolares ou ao menos façam algumas oficinas que lhes ensinem a escrever! Eles lidam com uma ferramenta, já caracterizada também como arma, cujos poderes foram reconhecidos por generais que se destacaram em batalhas memoráveis, algumas das quais mudaram o mundo. Eles diziam temer mais a pena do que a espada!

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A vida privada não pode ser pauta da mídia, mas, quando está em questão o dinheiro público ou o interesse público, daí é bom lembrar que no passado os políticos tinham ao menos vergonha na cara. Um destes casos resultou no filme Escândalo (1989). Na Inglaterra dos anos 60, John Profumo era ministro da Guerra e namorava a modelo e corista Christine Keeller, que dormia também com o adido militar russo naquele país, Yevgeny Ivanov. Alertado pelo Serviço Secreto Inglês, Profumo deu fim ao caso, escrevendo à amante.

Ela seguiu sua vida. Posou pelada para uma revista e ganhou algum dinheiro. E aconteceu uma coisa curiosa: quem ficou mais famosa e vendeu bastante dali por diante foi a cadeira em que ela foi fotografada, a chaise 3107, do arquiteto e decorador dinamarquês Arne Jacobsen, por esconder seios e baixo ventre da moça e assim respeitar os códigos da censura daquela época. Ele renunciou à política e foi trabalhar de faxineiro em serviços comunitários.

Hoje não seria assim. Depois de receber mesadas vindas do dinheiro público, amantes de políticos influentes, do Executivo e do Legislativo, seguem gozando dos benefícios da impunidade. Delas mesmas e de seus protetores. Eles, quando ameaçados de perder o mandato, renunciam. E depois voltam ao antigo posto ou a um novo, consagrados pelo voto! A culpa é dos eleitores? Não é só deles. É de boa parte da mídia, que em muitos casos não contou as coisas como as coisas foram.

O tempora, o mores (que tempos, que costumes!), exclamou o orador Cícero, de quem no passado todos sabíamos de cor o seguinte trecho de um de seus discursos contra o senador Catilina: “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” (Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?).

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Resposta: todos os Catilinas do Brasil vão continuar abusando sempre, ao que parece. Mas aparência e essência não são a mesma coisa. Se fossem, a ciência seria desnecessária e nós não precisaríamos saber de nada!

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