Passados oito dias desde o início do verão no Hemisfério Norte, os Estados Unidos já enfrentam recordes históricos de temperatura, um clima extremo que também desencadeia tempestades e incêndios florestais.
Segundo a agência climática dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), 120 milhões de americanos estão submetidos a fatores climáticos adversos – calor e fumaça tóxica dos incêndios florestais – nesta sexta-feira (30).
Segundo a agência federal americana, dezessete estados do Norte e Meio-Oeste estão no momento encobertos pela fuligem das queimadas que atingem o Canadá.
E quatro das maiores cidades do país – Nova York, Chicago, Washington e Detroit – registraram o ar mais insalubre do planeta nas últimas horas, de acordo com dados divulgados pelo instituto IQAir.
A fumaça que assola boa parte dos Estados Unidos tem como origem o grande número de incêndios que atingem a província de Quebec, no Canadá.
Um sistema de tempestades próximo à costa da Nova Escócia, no litoral atlântico canadense, empurrou essa fuligem para o sul, em direção às áreas mais densamente povoadas da América do Norte.
Essas queimadas foram desencadeadas por raios, temperaturas acima do normal e condições secas que afetam o Canadá desde maio. Segundo o primeiro-ministro Justin Trudeau, essa já é a pior temporada de incêndios da história do país.
A fumaça do incêndio florestal carrega partículas conhecidas como PM2.5 – um poluente microscópico, mas perigoso.
Isso porque, quando inalado, pode penetrar profundamente no tecido pulmonar e entrar na corrente sanguínea, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).
O material particulado tem sido associado a uma série de problemas de saúde, incluindo asma e doenças cardíacas.
No sul dos Estados Unidos, o problema são as temperaturas insuportáveis.
Há três semanas, os estados do Texas, Novo México, Louisiana, Arkansas, Kansas e Missouri assistem a uma escalada nas temperaturas desencadeada por uma cúpula de calor, fenômeno climático que impede a circulação de ar e a chegada de frentes frias.
A situação é particularmente grave no Texas, onde a elevada umidade elevou a sensação térmica a níveis inacreditáveis nas cidades de Corpus Christ (51°C), Rio Grande Village (47°C) e Del Rio (46°C).
Em McAllen, as medições bateram 46°C por dez dias seguidos, algo considerado inacreditável por especialistas locais.
A cúpula de calor tem como epicentro o norte do México, onde a situação é ainda mais preocupante.
O governo mexicano decretou estado de emergência para proteger o sistema elétrico de apagões, enquanto localidades como Hermosillo, no norte, enfrentaram dias com 50°C.
“A cúpula de calor é uma das mais fortes de todos os tempos e basicamente impossível de acontecer sem as mudanças climáticas”, afirma Jeff Berardelli, meteorologista de Tampa, na Flórida.
A loucura nos termômetros não se restringe à América do Norte.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, em junho as temperaturas médias globais da superfície foram as mais altas da história para esse período do ano.
A entidade divulgou ainda que as temperaturas da superfície do mar atingiram novo recorde em maio pelo segundo mês consecutivo. E que em junho cravaram níveis sem precedentes para o mês.
Esse aquecimento geral se reflete na canícula que castiga a Índia e já provocou ao menos 100 mortes.
Em Mumbai, maior metrópole do país, com 21 milhões de habitantes, enfrenta-se 40°C diariamente desde meados de junho.
Climatologistas indianos também relacionam o que está acontecendo com o aquecimento global.
De acordo com pesquisas da ONU, o efeito estufa fez com que ondas avassaladoras como a atual sejam 30 vezes mais prováveis de acontecer graças às mudanças no clima.
Mais espantoso ainda é o calorão que se abate sobre o vizinho Nepal.
Em geral com clima mais ameno graças à grande altitude da Cordilheira do Himalaia, que atravessa a pequena nação asiática, os nepalenses têm enfrentado níveis potencialmente mortais de calor.
Em Janakpur, fez 43°C e em Chushot Yogma, a 3.200 metros acima do nível do mar, 36°C, a mais alta temperatura já registrada nessa altitude em todo o planeta.
O verão inclemente também se abate sobre a China. Em Xangai, epicentro econômico, o mês de maio foi considerado o mais quente em 100 anos.
E a capital, Pequim, teve na quinta (29) o dia mais quente de sua história, com as aferições registrando 42°C.
A onda afeta ainda Tailândia, Camboja, Laos e Filipinas.