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Bioinsumos: bactérias e fungos podem revolucionar o agro do Brasil

Eles são organismos vivos, como bactérias, insetos ou plantas, usados para melhorar a fertilidade do solo ou para o controle de pragas

Por Ernesto Neves Atualizado em 18 ago 2023, 16h35 - Publicado em 18 ago 2023, 15h00
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  • Diante da crise climática que impõe perdas crescentes à agropecuária e à pressão dos mercados por métodos de produção mais amigáveis à natureza, uma técnica agrícola vem ganhando espaço ao aliar alta eficácia com proteção ambiental.

    São os bioinsumos, nome que se dá à série de produtos compostos por organismos vivos, incluindo insetos, bactérias ou plantas, capazes de devolver à terra os microorganismos que foram se perdendo ao longo dos anos devido o uso intensivo de agrotóxicos e adubos.

    A técnica recebeu impulso com a Guerra da Ucrânia, em 2022, quando o país se viu refém da inflação dos fertilizantes, um produto produzido majoritariamente pela Rússia e Belarus. Hoje, o país traz de fora quase 70% dos adubos utilizados no campo.

    Em fevereiro deste ano, houve novo incentivo, já que a Câmara dos Deputados aprovou uma legislação que simplifica as regras para o registro dos produtores.

    A Ambipar, que tem a modelo Gisele Bündchen entre os sócios, produz bioinsumos reaproveitando materiais como as cascas de eucalipto, um rejeito que sobra da produção de celulose.

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    Hoje, a empresa aproveita os restos de gigantes do setor, como a Klabin, para produzir bioinsumos de alto valor, que hoje empregados na recuperação de terrenos degradados.

    Só no caso das fábricas da Klabin em Ortingueira e Monte Alegre, no Paraná,  mais de 200.000 toneladas de detritos deixam de ir para o lixo anualmente para ganhar nova destinação.

    A Ambipar também realiza o mesmo aproveitamento nas fábricas da WestRock e Sylvamo. E, no total, a empresa já recicla 600.000 toneladas de rejeitos industriais com esse fim por ano.

    “É uma mudança profunda de pensamento”, define Gabriel Estevam, engenheiro ambiental da Ambipar.

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    “Os bionsumos estão em consonância com a proteção do planeta e o estilo de vida saudável. Isso porque utilizamos o próprio ecossistema para equilibrar a plantação, reduzindo substancialmente a utilização de produtos químicos”, explica.

    De 2000 ate 2022, o país registrou 651 produtos biológicos para uso no campo e, so no ano passado, foram 134 registros. 

    Os primeiros registros do tipo, porém, começaram bem antes, ainda nos anos 1970.

    A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é pioneira na pesquisa e desenvolvimento dos bioinsumos, utilizando os recursos da natureza para corrigir e recuperar vastas extensões fazendas do Centro-Oeste, Sul, e Sudeste.

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    Atualmente, são mais de 600 pesquisadores da Embrapa envolvidos em 70 projetos do tipo.

    Um deles consiste na aplicação de fungos e bactérias em plantações de lúpulo, um dos principais ingredientes da cerveja.

    Hoje, a quase totalidade do lúpulo usado por cervejarias brasileiras precisa ser importado, aumento os custos.

    Mas um experimento na região de Teresópolis, no estado do Rio, pode facilitar a produção nacional.

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    Mudas inoculadas com a bactéria Azospirillum obtiveram aumento de 52% de biomassa, isto é, tornaram-se substancialmente mais robustas.

    Outra frente de desenvolvimento é o Grupo Associado de Pesquisa (Gapes), que reúne 45 produtores de Goiás.

    A entidade está desenvolvendo um bioinsumo feito com fungos para controlar a cigarrinha do milho.

    O potente líquido desenvolvido nas biofábricas do grupo precisa ser aplicado seguidas vezes nas folhas das lavouras para prevenir o ataque, o que até aqui vem sendo conseguido com sucesso. 

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    A Embrapa calcula que a produtividade nos milharais pode aumentar em 10% com o uso de agentes biológicos.

    “O uso de produtos químicos na lavoura serviu para aumentar a produtividade. Mas também trouxe problemas como o envenenamento agudo e as doenças de longo prazo, como o câncer”, diz Vineet Kumar, pesquisador do Centro para a Agricultura Sustentável, da Índia.

    “Eles têm impacto na saúde humana e do meio ambiente de várias maneiras. Assim, é urgente encontrar novas soluções para o campo”, conclui o pesquisador.

    Produção sustentável de lúpulo em Teresópolis, no Rio
    Produção sustentável de lúpulo em Teresópolis, no Rio: bactéria aumenta a produtividade (Embrapa/Renato Linhares/Divulgação)

     

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