Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Alerta verde: os imensos desafios da COP27

A Conferência sobre Mudanças Climáticas, no Egito, proporá metas mais agressivas de redução de emissões de gases e terá o Brasil como um dos protagonistas

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 nov 2022, 10h25 - Publicado em 4 nov 2022, 06h00

O mundo respira com ansiedade em torno dos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP27, que será realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, de 6 a 18 de novembro. O encontro, simpaticamente batizado de “COP Africana”, marcará os trinta anos da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, assinada na Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, e os sete anos do Acordo de Paris. É, a um só tempo, um marco histórico, atrelado a efemérides, e um imenso desafio para a humanidade.

A COP27 proporá metas mais agressivas de redução de gases de efeito estufa, já que no ano passado, na conferência de Glasgow, na Escócia, as estabelecidas anteriormente foram consideradas insuficientes. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), maior autoridade científica global nesse campo, mostra que o planeta corre perigo e pede que as ações de mitigação e adaptação sejam implantadas ainda nesta década, sob pena de o aquecimento causar danos irreversíveis ​​ao clima. As emissões estão aumentando, com níveis atmosféricos de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingindo novos recordes em 2021. O resultado pode ser o aumento de temperatura global acima de 1,5 grau, rompendo, portanto, a meta estabelecida pelas autoridades ambientais.

BERLIM - Protesto contra o uso de combustíveis fósseis: preocupação global -
BERLIM – Protesto contra o uso de combustíveis fósseis: preocupação global – (Ean Gallup/Getty Images)

Existe alguma desconfiança do real sucesso da cúpula, premida por interesses do planeta em crise. A sueca Greta Thunberg, ícone jovem do ambientalismo, por exemplo, já avisou que não vai. Ela acusou o evento de levantar a bandeira ambientalista em vão, mero exercício de limpeza de imagem — o que, em inglês, ganhou o nome de greenwashing.

Continua após a publicidade

Convém, contudo, prestar atenção no balé diplomático das próximas semanas — a dança entre as principais potências emissoras de poluentes, como Estados Unidos, e os grandes afetados, os países mais pobres, na lida com investimentos e distribuição de fundos de apoio. Nesse ambiente nervoso, calhou de o Brasil ter recuperado parte do protagonismo político que havia perdido durante o governo de Jair Bolsonaro, dada a coincidência da proximidade de datas com a eleição presidencial. Ao longo da campanha, amparado na figura de Marina Silva, eleita deputada federal, Lula fez questão de ressaltar os cuidados com a Amazônia e a busca por índice zero de desmatamento na região entre as prioridades de seu governo (leia mais na pág. 24). Nesse aspecto, o antagonismo a Bolsonaro foi como uma estrada livre de obstáculos. Não por acaso, no início da semana, o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, convidou o petista e Marina a participarem da COP27.

O Brasil será representado em três frentes no evento: com um estande oficial, um da sociedade civil e outro, inédito, patrocinado pelos governos de nove estados amazônicos. Lula e Marina, aliás, foram convidados a integrar a comitiva desse grupo. Existe a convicção de que o tema das florestas e da diminuição das queimadas ganhe os holofotes, como há muito não ocorria. “Todos os países sabem que não há meio de se atingir as metas do Acordo de Paris sem a Amazônia”, disse a VEJA Alexandre Prado, da WWF Brasil, que estará no Egito. “Daí a importância de voltarmos ao jogo.” Noruega e Alemanha já anunciaram a retomada do financiamento do Fundo da Amazônia, em valores que podem atingir até 1 bilhão de dólares.

AUSÊNCIA - A jovem ativista sueca Greta Thunberg avisou que não vai: para ela, conferência não resolve nada -
AUSÊNCIA – A jovem ativista sueca Greta Thunberg avisou que não vai: para ela, conferência não resolve nada – (Erik Simander/TT News Agency/AFP)

O trabalho a ser feito, aliás, é colossal. Em uma atualização dos dados sobre uso e cobertura de terras de 1985 a 2021, a rede de controle ambiental MapBiomas mostrou que a região amazônica perdeu 12% da sua área de floresta ao longo desse período. Resultado: aumento dos extremos do clima, da temperatura e menor precipitação de chuvas. Em razão disso, o fluxo líquido de carbono do bioma está diminuindo. Há mais de três décadas, absor­via 1,5 tonelada do gás. Agora, esse fluxo é praticamente zero.

Apesar de todas as adversidades, o Brasil apresenta uma vantagem estratégica, pois pode cortar 44% das suas emissões de forma rápida e barata, evitando queimadas e desmatamentos. “Temos todas as ferramentas necessárias para isso”, diz Ricardo Galvão, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ressalve-se que nenhum outro país tem potencial tão grande em energia eólica e solar. “O Brasil tem de explorar essa vantagem estratégica”, diz Paulo Arta­xo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFUSP). Pode-se dizer que, no Egito, haverá uma Copa do Mundo antes daquela do Catar — com a sonhada vitória de todas as nações.

Publicado em VEJA de 9 de novembro de 2022, edição nº 2814

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.