“No futuro, todo mundo será famoso durante quinze minutos.” Quando o artista pop americano Andy Warhol tornou pública essa que se transformaria em uma das mais repetidas máximas do século XX — registrada no catálogo de sua primeira retrospectiva europeia, aberta em 1968 no Moderna Museet, em Estocolmo —, a ideia de que um dia qualquer pessoa pudesse desfrutar o sucesso por tão curto espaço de tempo podia soar como uma boutade. A inusitada profecia, no entanto, seria confirmada pela era digital em que o planeta está hoje mergulhado, com sua avalanche de selfies publicadas nas redes sociais por uma multidão de anônimos, que, assim, deixam de sê-lo — quem sabe por quinze segundos — e podem faturar com isso.
Há, claro, quem multiplique os segundos com uma sucessão de posts, como a socialite americana Kim Kardashian, a mais perfeita tradução da notoriedade virtual, no pleno sentido da expressão. Muito diferente da princesa Diana, que morreu num acidente em 1997, vendo seu carro ser perseguido por paparazzi pelas ruas de Paris. Para além do teor profético, a frase de Warhol era fiel às origens da palavra fama. Na Grécia, pheme significava “reputação” no mau sentido. Na tradição literária romana, Fama era uma divindade que residia num palácio de bronze, com mil aberturas, pelas quais ressoavam todas as vozes que lá chegavam, por mais baixas que fossem. Em volta dela viviam a Alegria infundada, os Rumores — e o Engano.
Publicado em VEJA de 26 de setembro de 2018, edição nº 2601