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Na ocupação da Rocinha, a redenção de São Conrado

No bairro que já teve os valores mais altos do Rio, apartamentos de luxo devem ter valorização de ate 50% com a 'pacificação', estima Ademi

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 8 nov 2011, 09h24

“Na orla de São Conrado mora a classe média alta, principalmente empresários jovens. São, normalmente, pessoas que gostariam de estar na Vieira Souto ou na Delfim Moreira”, explica o presidente da Ademi, José Conde Caldas

A favela da Rocinha cresceu junto com São Conrado, um bairro da zona sul que já foi o mais caro do Rio de Janeiro. Com a expansão das ruelas morro acima, aumentou também a criminalidade. Há 15 anos, as balas pressionam para baixo os preços dos apartamentos. A ocupação da Rocinha para a criação de mais uma UPP no Rio, que deve acontecer no próximo domingo, será uma conquista para os moradores e comerciantes. O melhor termômetro das expectativas com a ocupação é o mercado imobiliário. Segundo estimativas da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio (Ademi-RJ), um apartamento de 300 metros quadrados perto da Rocinha, em um condomínio de luxo, com espaço de lazer e quadras de esporte, deve ter valorização de até 50%. Atualmente, essas moradias custam cerca de 1,3 milhão de reais.

O preço, apesar de alto, é menor do que seria um apartamento idêntico no Leblon, bairro vizinho a São Conrado, estimado em cerca de 6 milhões de reais. Os imóveis depreciados por causa da criminalidade deverão todos subir de preço. Até mesmo nos apartamentos de frente para a praia, mais distantes da Rocinha, é provável que os valores subam até 40%. A Avenida Prefeito Mendes de Moraes, na praia de São Conrado, tinha valores mais altos que os valorizados bairros de Leblon e Ipanema no começo dos anos 90. Atualmente, o preço de um apartamento na rua da praia de São Conrado é de cerca de 3 milhões, enquanto no Leblon o valor é de, no mínimo, 7 milhões de reais.

“Na orla de São Conrado mora a classe média alta, principalmente empresários jovens. São, normalmente, pessoas que gostariam de estar na Vieira Souto ou na Delfim Moreira”, explica o presidente da Ademi, José Conde Caldas. Ele explica que o perfil do morador dos condomínios de luxo, próximos da Rocinha, é outro. “Eles querem apartamentos amplos, diferenciados e com área de lazer sem ter que ir para a Barra da Tijuca. Esses moradores estão na faixa dos 50 anos e prezam mais a qualidade de vida do que o status de morar no Leblon ou em Ipanema”, afirma.

Nos últimos 15 anos, os preços dos imóveis de São Conrado foram reduzidos à metade, de acordo com estimativas da Ademi. Episódios como a invasão de bandidos da Rocinha ao hotel Intercontinental mancham a imagem do bairro. “Quando criminosos fizeram reféns no hotel, muito negócio foi desfeito. As pessoas ficaram apavoradas e cancelaram a compra de imóveis no bairro”, explica Caldas.

A moradora de São Conrado Bruna Sabeck, de 26 anos, mora em um prédio em frente à favela. No dia da invasão ao Intercontinental, a perseguição dos policiais aos bandidos deixou a lateral do edifício cravejada de balas. “Foi helicóptero e tiros para todos os lados”, explica Bruna. Da janela de seu apartamento, se tem a imagem da Rocinha. No final dos anos 90, uma bala perdida chegou a entrar no décimo andar do prédio. “Quando tem operação, nem passamos perto da janela”, explica a moradora, que costumava se refugiar no corredor quando havia tiroteio na favela.

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Por duas vezes, Bruna teve que deixar de voltar para casa por causa de arrastões feitos por traficantes da Rocinha no túnel Dois Irmãos, ligação entre o Leblon e São Conrado. Quem mora um pouco mais distante sente menos os problemas da convivência com uma favela dominada por traficantes. “A minha expectativa é de que a pacificação seja muito boa. Ela tem que acontecer. É um bairro maravilhoso com mito de ser perigoso”, explica a decoradora Claudia Mazza, de 60 anos.

Apesar dos preços menores do que os de mercado, São Conrado abriga o Fashion Mall, um dos shoppings mais caros do Rio, o Gávea Golf Club, frequentado pela elite carioca, e a segunda rua mais cara da cidade, a Capuri, com casas que valem entre 12 e 15 milhões de reais. As escolas também são caras. A instituição de ensino Carolina Patrício, por exemplo, tem a mensalidade entre 800 e 1.100 reais. A pacificação pode ser um passo para aumentar a interação entre a escola e a favela. Atualmente, os funcionários de serviços gerais do Carolina Patrício são moradores da Rocinha. Há vagas para algumas crianças do morro e, anualmente, são doados materiais escolares e móveis da instituição para as creches da Rocinha. “Acredito que com a pacificação, podemos estreitar os laços. Espera que seja um movimento vitorioso, sem qualquer tipo de tragédia. Queremos paz”, afirma a diretora Noemi Patrício dos Nascimento Simões, de 71 anos.

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