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Rio: a ameaça armada persiste

Sede dos Jogos de 2016 e da Copa de 2014 ainda tem rotina marcada por episódios de violência causados por bandidos armados

Por João Marcello Erthal
21 ago 2010, 18h21

Reagir a uma situação de invasão de hotel, por mais que não seja algo comum no Brasil, faz parte da ‘alfabetização’ das forças de segurança de qualquer cidade que pretende receber eventos internacionais

A população do Rio e as autoridades de segurança se deram conta de forma traumática, na manhã de sábado, de que ainda há uma distância preocupante entre o que a cidade se propõe a oferecer a seus moradores e visitantes e as ameaças reais de seu cotidiano. Os estampidos que acordaram hóspedes e funcionários do Hotel Intercontinental e mantiveram acuados os moradores do bairro de São Conrado não deixam dúvida: bandidos com armas de guerra, que cruzam as ruas de um bairro escoltados por ‘batedores’ em motocicletas, infelizmente não são caso raro na cidade.

Não custa lembrar: a área onde houve a perseguição, o tiroteio e a situação com reféns estará, daqui a seis anos, repleta de delegações de atletas, jornalistas e visitantes do mundo todo para os Jogos Olímpicos de 2016. Não se trata, portanto, de uma parte da cidade com desequilíbrio desfavorável em termos de recursos, conhecimento dos problemas de segurança ou dificuldades operacionais. Pelo contrário: os bairros da zona sul, em especial a região do Leblon, sede da unidade da PM que cobre esta parte da cidade, são historicamente privilegiados em termos de investimentos e presença ostensiva da polícia.

A avaliação do secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e do governador Sérgio Cabral, foi positiva. Beltrame considerou bem-sucedida a operação de libertação dos reféns – o que não se pode negar, em função da rendição dos bandidos e da ausência de vítimas inocentes. Cabral endossou, indo além: “Importante destacar a ação da polícia. Firme, profissional e com efetividade”.

O desfecho, felizmente sem mortes de inocentes, não pode servir para encobrir um dado preocupante da ação: a polícia não foi capaz de evitar o início de um tiroteio em via pública. Atirar ainda é um ato rotineiro no dia-a-dia dos policiais, e não há perspectiva concreta de que a preparação dos agentes de segurança esteja, hoje, substancialmente diferente do que tem sido nas últimas décadas.

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Pelo relato da própria polícia, o que se tinha, inicialmente, era uma abordagem a um grupo suspeito, que evoluiu para uma perseguição, desdobrou-se em uma reação com tiros e chegou ao extremo da invasão de um estabelecimento onde centenas de pessoas ficaram em perigo. Considerando esta como a cronologia oficial da ação, pode-se concluir que a tragédia maior foi evitada – talvez, por sorte, já que é impossível prever o alcance de uma ação armada que tem, do outro lado, criminosos dispostos a reagir a qualquer custo para evitar a captura.

Quando finalmente os dez invasores do Intercontinental foram apresentados – na costumeira montagem da ‘foto oficial’ para a imprensa – teve-se a noção do tamanho da ameaça: com esta parte da quadrilha, apenas, havia oito fuzis, cinco pistolas, três granadas e farta munição – o bastante para sustentar algumas horas de trincheira.

O assustador episódio do Intercontinental pode servir, agora, para soar o alarme do quanto os seis anos de distância dos Jogos Olímpicos – e os quatro da próxima Copa do Mundo – podem passar rápido diante da complexidade de algumas soluções internas pendentes. Como se sabe, as armas e as drogas não são produzidas no Rio, nem na maior parte do Brasil – constatação óbvia que chama à ação o governo federal e as forças policiais a quem cabe cuidar de fronteiras e portos, por onde certamente passam carregamentos que alimentam uma corrida pelo armamento das quadrilhas do Rio.

A repercussão internacional da invasão do hotel – algo sempre temido em episódios de violência no Rio – certamente virá. E, entre os países que pretendem participar dos eventos dos próximos anos, esmiuçar a atuação e as falhas da polícia torna-se, a partir de agora, atividade de rotina. Afinal, reagir a uma situação de invasão de hotel, por mais que não seja algo comum no Brasil, faz parte da ‘alfabetização’ das forças de segurança de qualquer cidade que pretende receber eventos internacionais.

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