O fim corajoso de Ana Beatriz Cerisara
A boa morte da professora que decidiu não tratar um câncer terminal deixa um sereno ensinamento sobre o fim
Em agosto do ano passado, VEJA passou dois dias com a professora gaúcha Ana Beatriz Cerisara, então com 60 anos. Ela estava em estágio terminal de um triplo câncer no intestino. Resolvera não se submeter a nenhuma cirurgia e deixar a vida seguir seu curso natural. Em suas palavras: “Estou pronta para morrer. Não estou desistindo. Apenas não quero ficar viva a qualquer preço.”
Há duas semanas, VEJA foi convidada a visitar novamente Ana Beatriz. Ela sabia que lhe restava pouco tempo. Contou mais de sua extraordinária experiência pessoal ao se despedir de tudo. Contou — e morreu na madrugada do sábado 24 de março, aos 61 anos, seis dias depois do derradeiro contato com os repórteres da revista.
Estava fraca. Perdia o fôlego para executar as tarefas mais simples, como tomar banho e comer. Mas se mostrava ainda mais tranquila do que nas primeiras conversas, ainda mais segura da decisão de não se submeter a nenhum tipo de tratamento fútil. “Estou morrendo. Não sinto dor. Que morte maravilhosa. Estou mais viva do que nunca”, disse.