TikTok vive crise com demissões e cerco das autoridades americanas
Famoso pelas dancinhas dos usuários, o aplicativo chinês dispensa centenas de empregados e entra na mira de políticos dos EUA
As redes sociais e as empresas de tecnologia viveram um período de bonança durante a pandemia de Covid-19. Com uma parcela significativa da população trabalhando em casa, o comércio on-line engrenou, as plataformas de vídeo e chamadas virtuais viraram febre e as pessoas se voltaram ainda mais para os aplicativos como forma de se conectarem a amigos e familiares. Mas o mundo — felizmente, ressalte-se — voltou à normalidade e o cenário agora é bem diferente. A demanda por tecnologia está em fase de ajustes, o que, em outras palavras, significa eliminar os excessos adquiridos nos tempos de fartura.
Poucas empresas traduzem tão bem os opostos de ascensão e (a leve) queda desse movimento quanto o TikTok. No ano passado, a rede social chinesa alcançou cerca de 1 bilhão de usuários no mundo e foi baixada 3,5 bilhões de vezes nas lojas de aplicativos. Manteve quase 30% da população americana entre 15 e 25 anos entretida com seus vídeos de coreografias para hits da música pop e outros conteúdos sem grande profundidade. Nos últimos meses, contudo, até a pegajosa rede das dancinhas começou a enfrentar problemas.
O tempo gasto pelos usuários na plataforma vem caindo e o ritmo de crescimento desabou. Na virada do ano, a ByteDance, dona do TikTok, demitiu centenas de funcionários em diversos departamentos. O número exato é incerto. Como se sabe, a transparência não é uma qualidade das companhias chinesas, embora o CEO da ByteDance, Liang Rubo, tenha admitido que implementaria medidas para “tornar a operação mais eficiente”. No mundo corporativo, a frase costuma ser utilizada como um eufemismo para demissões.
Em paralelo, a plataforma chinesa está na mira das autoridades americanas, que justificam o cerco com o risco de vazamento de dados dos usuários. A disputa entre o governo americano e o aplicativo não é nova. Em 2020, o então presidente, Donald Trump, chegou a anunciar o seu bloqueio nos Estados Unidos. Quando assumiu a Presidência, Joe Biden revogou o decreto e permitiu o funcionamento da rede. Agora, o Congresso americano proibiu que os funcionários federais usem o serviço em aparelhos oficiais, seja em computadores, seja em celulares. O aplicativo já é vetado em dispositivos do governo de dezenove estados e, em dezembro, o senador republicano Marco Rubio propôs banir o TikTok dos Estados Unidos de vez.
Nos últimos tempos, a queda na demanda das redes sociais tem sido um fenômeno generalizado. Dona do Facebook, a Meta mandou 11 000 funcionários embora, ou cerca de 13% de sua força de trabalho. São profissionais de diversas áreas, inclusive da divisão dedicada a desenvolver serviços no metaverso, a aposta de Mark Zuckerberg (que até agora só contribui para dragar recursos da empresa). No Twitter, Elon Musk emendou demissões em massa pouco depois de assumir a rede social, em outubro do ano passado. O número também é incerto, mas fala-se em algo como 4 000 afastados — incluindo toda a força de trabalho no Brasil. “Muitos pensaram que o volume de negócios que surgiu na pandemia seria sustentável, mas não foi o que ocorreu”, afirma Sérgio dos Santos, professor da ESPM. “Agora, as empresas estão mudando de foco e olhando para a produtividade.”
Evidentemente, a competição torna as marés ainda mais altas. O espaço deixado pelas redes dominantes vem abrindo caminho para uma nova safra de concorrentes. Nos últimos meses, plataformas que imitam o Twitter, como a indiana Koo e a descentralizada Mastodon, viram o número de cadastros disparar. A geração Z, sempre a primeira a identificar tendências, já está se afastando do TikTok e migrando para o BeReal, aplicativo francês de fotos que propõe uma abordagem sem filtros e mais “realista”. No mundo veloz e fugaz das redes sociais, a fila anda (e o app sensação de ontem pode enfrentar sérios problemas amanhã).
Publicado em VEJA de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824