Nos últimos meses, a rede social britânica OnlyFans se tornou um fenômeno da internet graças a uma estratégia criativa. Apesar de oferecer conteúdo adulto — ou seja, fotos e vídeos eróticos —, ela conseguiu a proeza de ser reconhecida como um site, digamos, sério. Ao mesmo tempo que é possível acessar, mediante o pagamento de uma assinatura, imagens pornô, o usuário encontra aulas de música, dicas de ioga, consultoria de moda e uma série de outras utilidades. Assim, a pessoa que é adepta da rede pode dar a desculpa, para o parceiro ou parceira, que não está ali por causa da nudez, mas sim pelos demais tópicos disponíveis. Outro fator decisivo para o sucesso foi a estratégia de remunerar influenciadores digitais e produtores de conteúdo para que se exponham no site. Eles recebem um valor pelo número de acessos, e podem realmente amealhar pequenas fortunas.
Foi o que ocorreu com a atriz americana Bella Thorne, de 22 anos, conhecida por estrelar produções da Disney e seguida por 24 milhões de pessoas no Instagram. Bella embolsou 2 milhões de dólares menos de uma semana depois de prometer publicar nudes na rede social. Cada assinante pagaria 200 dólares para receber um pacote exclusivo de imagens. Um deles chegou a perguntar se ela estaria realmente nua. “Sem roupas”, respondeu a atriz. Não foi o que aconteceu. Bella, ao contrário do prometido, publicou fotos de biquíni e lingerie, mas evitou a nudez completa. Revoltados, os seguidores começaram a pedir reembolso, o que obrigou a plataforma a mudar algumas regras de uso. As gorjetas, antes sem limite de valor, ficaram estipuladas em, no máximo, 100 dólares. A remuneração paga aos criadores de conteúdo passou a ser mensal, em vez de semanal, como anteriormente. A OnlyFans afirmou que as adaptações já estavam nos planos. Além de Bella, a rapper Cardi B também tem um perfil na plataforma e o site foi citado em uma música da cantora Beyoncé.
No mercado desde 2016, a OnlyFans foi criada na Inglaterra pelo empreendedor Timothy Stokeley. Estima-se que o faturamento da empresa fique entre 90 e 100 milhões de dólares. No ano passado, seu crescimento superou 300%, até chegar à marca de 60 milhões de assinantes. Em nota, a companhia afirmou “que está vivendo forte crescimento na América Latina”, embora não abra informações financeiras. Até o momento, mais de 1,5 bilhão de dólares foram pagos a criadores de conteúdo. “A OnlyFans revoluciou a forma como influenciadores se relacionam com os seus seguidores, ao entregar conteúdo mais rico e autêntico, livre de apoios de marcas, campanhas e comissões de publicidade no YouTube”, disse a empresa.
Após a repercussão negativa com as falsas promessas de nudez, Bella Thorne se manifestou publicamente e, é claro, disse que tudo não passou de um mal-entendido: “Quis chamar atenção para o site. Quanto mais gente nele, maior a chance de normalizar os tabus. Ao tentar fazer isso, magoei vocês. Vou me encontrar com a OnlyFans para discutir novas restrições e descobrir o que houve”. Ela, porém, não sem manifestou sobre a possibilidade de devolver os 2 milhões de dólares. Mesmo após a derrapada, a rede não para de crescer: a cada 24 horas, 250 000 novos usuários se cadastram na plataforma. Durante a pandemia, com as opções de entretenimento limitadas às possibilidades dentro de quatro paredes, a plataforma registrou um aumento de 42% na criação de contas. Sites assumidamente pornográficos também tiveram forte expansão durante os meses de confinamento. A nudez, como sempre, é um afrodisíaco para os negócios.
Publicado em VEJA de 23 de setembro de 2020, edição nº 2705