O sistema da United Airlines que promete, enfim, agilizar o embarque
Chegou-se ao recurso depois de muita pesquisa, de muita matemática
Haja aborrecimento. A cena é inevitável para quem viaja de avião (em 2022, foram 7 bilhões de bilhetes emitidos em todo o mundo): a voz no microfone chama o voo; os mais apressadinhos saem em disparada para a fila que se arrasta como cobra pelo chão; os mais tranquilos — talvez mais sensatos — esperam calmamente. Já dentro da aeronave impera o zum-zum-zum de reclamações. Falta lugar para as malas de mão nos bagageiros. A turma dos assentos do meio levanta porque alguém a caminho do canto precisa passar. “Dá licença! Espera! ” É confusão na certa, atalho para um começo de viagem nada glamoroso, uma insuportável via-crúcis.
O embarque é um dos momentos cruciais de qualquer travessia aérea, e há uma explicação cartesiana: perde-se muito dinheiro com atrasos de decolagem. Estudo de 2022 mostrou que cada minuto de atraso — por mau tempo, muitas vezes, mas também pela demora de preencher os lugares — pode chegar a 101 dólares por pessoa, em multa pelas delongas.
É, portanto, assunto vital — e, sempre que desponta uma novidade, dá-se burburinho inevitável. É o que acaba de acontecer. A empresa americana United Airlines anunciou, há duas semanas, uma nova modalidade para instalar os passageiros dentro do canudo de alumínio. Trata-se, a rigor, de um método que já havia sido utilizado em 2017, e voltou com estardalhaço. O nome: WILMA, em letras maiúsculas, sopa de letras para designar window, middle, aisle, janela, meio e corredor, a ordem de embarque. Chegou-se ao recurso depois de muita pesquisa, de muita matemática. O tempo gasto para a entrada de 173 cidadãos é de 14m55, conforme análise do MythBusters (Caçadores de Mitos), rigoroso programa do Discovery Channel. O ingresso aleatório (quem chegou antes se dá bem) ou de trás para a frente são mais lentos e têm maior desaprovação (veja no quadro). Com uma ressalva, e é bom avisar: a classe executiva tem prioridade e, portanto, os mais endinheirados mal enfrentam qualquer tipo de espera ou tensão.
A adoção do WILMA provocou imediata reação nos Estados Unidos — indício evidente da relevância do tema, muito mais decisivo para os humores e os bolsos do que supunha nossa vã filosofia. Grupos de usuários da United ameaçam boicote, desgostos. “Não vou mais voar com eles”, escreveu uma moça no X, o antigo Twitter. “Gosto do corredor e, se for seguida a nova regra, nunca mais conseguirei espaço nos compartimentos superiores.” Parece uma questão de postura, colada a detalhes e preciosismo — mas não é, e atire a primeira pedra quem nunca ficou fulo da vida com a falta de espaço, até que alguém da tripulação apareça para supostamente salvar a pátria.
A briga vai longe, e é interessante demais para ser desdenhada. “É normal que empresas aéreas adotem métodos de embarque próprios e, em termos de racionalidade e eficiência, a escolha da United faz bastante sentido”, diz Alexandre Faro Kaperaviczus, coordenador do curso de aviação civil na Universidade Anhembi Morumbi. Como negócio é negócio, se o WILMA funcionar, tende a ser adotado maciçamente. Ed Bastian, CEO da Delta, concorrente da United, foi categórico: “Se eles resolverem melhor como quebrar essa noz, vamos copiá-los”. Apertem os cintos, parece haver algum conforto possível para um dos momentos mais chatos da civilização moderna.
Publicado em VEJA de 17 de novembro de 2023, edição nº 2868