Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Instagram para crianças: a polêmica está apenas começando

Projeto do Facebook gera discussões acaloradas nos Estados Unidos: não é hora de proteger as crianças das redes sociais?

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 13h46 - Publicado em 28 Maio 2021, 06h00

“Como todos os pais sabem, as crianças já estão on-line.” Esse é o argumento de Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, para justificar seus planos recentemente revelados de lançar uma versão infantil do Instagram. A plataforma seria voltada para menores de 13 anos, atual idade mínima para usuários dessa e das principais concorrentes — exigência, ressalte-se, facilmente burlável, bastando que se minta a data de nascimento. A proposta, evidentemente, gerou acalorados debates nos Estados Unidos. Há alguns dias, legisladores democratas enviaram uma carta à empresa exigindo a desistência da empreitada e alegando que o Facebook tem “histórico de falhas em proteger crianças”. Eles se referem ao Messenger Kids, plataforma de mensagens do próprio Facebook destinada a usuários infantis, mas que é frequentada por adultos. Zuckerberg, ao que parece, não quer deixar as crianças em paz — e se mantém firme na intenção de levar adiante a versão kids do Instagram.

A polêmica está posta e deve seguir por algum tempo. Mas o que dizem os especialistas? Crianças absor­vem conhecimento como uma esponja e formam sua identidade e repertório com base nos conteúdos que acessam desde pequenas. Assuntos sensíveis, como sexo, drogas ou violência, devem ser apresentados com cuidado, à medida que a capacidade cognitiva vai aumentando. Eis o desafio em meio a tantas telas e facilidades. Recentemente, uma criança de 3 anos ganhou fama ao fazer um pedido de 400 reais por um aplicativo de delivery. Isso é o de menos. A destreza com a tecnologia, somada à ingenuidade, pode acarretar problemas bem mais graves.

CONTESTADO - Mark Zuckerberg: o chefe do Facebook promete ambiente seguro no Insta for Kids. Será? -
CONTESTADO – Mark Zuckerberg: o chefe do Facebook promete ambiente seguro no Insta for Kids. Será? – (Josh Edelson/AFP)

Procurado por VEJA, o Instagram se defendeu. Disse que seus planos priorizam a segurança das crianças, e que especialistas em desenvolvimento e saúde mental infantis, além de defensores de privacidade, auxiliarão na criação da plataforma. A empresa se comprometeu a seguir os moldes do YouTube Kids, cujos perfis são gerenciados pelos pais, com ferramentas de controle como o uso de senhas.

Continua após a publicidade

Zuckerberg tem razão quando diz que as crianças já estão on-line: quase 80% dos brasileiros entre 10 e 13 anos têm acesso à internet. O número cresceu durante a pandemia, com famílias trancadas em casa e pais cada vez mais cansados e propensos a recorrer à equivocada percepção de que ao deixar o filho diante de um celular ou tablet vão acalmá-lo. “É o contrário. A criança é hiperestimulada e, sem gastar energia física, fica mais agitada ou irritada”, explica Vanessa Abdo, doutora em psicologia social pela PUC-SP e especializada em comportamento infantil. “O corpo se aquieta, mas o cérebro continua sendo bombardeado de informações.”

Um Instagram para crianças anteciparia a sanha por likes e a chamada síndrome de Fomo (sigla em inglês para “medo de ficar de fora”), termo cunhado em 1996 pelo estrategista de marketing americano Dan Herman sobre a necessidade de acompanhar tendências. “Isso aumenta a ansiedade e a angústia, porque a vida real não é tão interessante, bonita e colorida, e nem tão dramática, sem os filtros do Instagram”, completa Vanessa. Em suma, as redes já causam problemas para os adultos e não é difícil imaginar os efeitos perversos em crianças com personalidade em formação.

arte instagram

Continua após a publicidade

No passado recente, garotos e garotas também estavam expostos a conteúdos não recomendáveis, muitas vezes no rádio ou na TV aberta, e apresentados de forma naturalizada e banal. A diferença está em quem comandava o controle remoto. “Os pais tinham maior autonomia e o que era proibido era bem definido”, comenta Renato Rochwerger, mestre em psicologia clínica pela USP. “Hoje está tudo mais borrado. A liberdade tem aspectos positivos, mas impõe novos desafios aos pais.”

Outro ponto importante está relacionado ao cyberbullying. Ser chamado de bobo numa rede social, onde o clique de um print pode eternizar a ofensa, tem peso maior do que ser xingado no pátio do colégio. Trata-se, portanto, de uma discussão complexa e que permite várias abordagens. De todo modo, os especialistas afirmam que é recomendável adiar o ingresso de crianças nas redes socias. Elas, afinal, terão a vida inteira para se conectar. O fundamental é que os pais sejam responsáveis pela educação dos filhos. Isso, sim, merece todos os likes.

Publicado em VEJA de 02 de junho de 2021, edição nº 2740

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.