IBM passa a investir em educação no Brasil
Projeto lançado pela empresa permite que alunos consigam os certificados do ensino médio e superior tecnológico em 5 anos
Grande parte dos jovens brasileiros parece não gostar de estudar. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo IBGE em 2017, quase 25% das pessoas de 14 a 29 anos de idade não frequentavam a escola em 2016. Desses, cerca de 20% afirmaram não possuir interesse em continuar os estudos. O resultado alarmante atraiu a atenção para o porquê de tamanho desânimo com a perspectiva de obter um diploma e as possíveis formas de reverter a situação.
O novo projeto de reformulação da Base Nacional Comum Curricular, que vem sido discutido há alguns anos, tem como pretensão consertar esse e outros problemas ao flexibilizar o currículo do ensino médio no Brasil. Mas há outros programas que se aproveitarão do cenário em mudança para agir.
Um exemplo é o P-TECH, modelo educacional sustentado pela gigante do ramo tecnológico IBM, que permite ao estudante se formar no ensino médio, técnico e superior tecnólogico em cinco anos. O projeto é uma parceria com o Centro Paula Souza, autarquia do Governo do Estado de São Paulo.
A iniciativa confirma a tendência mundial das grandes companhias de tecnologia que vêm investindo no ramo da educação. A Microsoft, por exemplo, tem aumentado sua presença na plataforma digital edX, onde o usuário encontra diversos cursos universitários online. A Google, por sua vez, anunciou um programa de ensino, o Google IT Support Professional Certificate, com aulas dadas por especialistas da empresa, com a meta de preparar os alunos sobre a teoria e a prática do mundo da tecnologia da informação. Todos esses modelos têm como foco a educação relacionada à tecnologia.
Outro ponto em comum entre essas iniciativas é o fato de terem como alvo principal o público de baixa renda. O P-TECH será público e gratuito, o curso da Google oferece bolsas, e assim por diante.
A instalação do P-TECH se dará em dois locais: na Zona Leste da capital paulista e na cidade de Americana, próximo a um centro da IBM em Hortolândia. As aulas, que farão parte do curso “Análise e desenvolvimento de sistemas”, começarão em fevereiro de 2019 e a seleção se dará por meio de um vestibular.
O programa teve início em Nova York, em 2011. No entanto, há uma diferença substancial entre a aplicação do sistema aqui e nos Estados Unidos. Naquele país é permitido ingresso aos jovens que cursem simultaneamente o ensino médio e o superior. Aqui é preciso fazer primeiro o médio.
Em conversa com VEJA, Juliana Nobre, gerente de Cidadania Corporativa da IBM Brasil, afirmou que o objetivo é formar pessoas com competência digital que podem ser aplicadas em qualquer área da economia. “O jovem é o melhor investimento possível”, comenta ela, explicando que a empresa contribuirá ao projeto com orientação, workshops e oportunidades de estágio.
Um estudo realizado em 2013 pela Fundação Victor Civita em parceria com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Banco Itaú e a Fundação Telefônica Vivo buscou investigar as razões por trás do grande número de jovens brasileiros que desistem dos estudos. Levando em conta os relatos de mil alunos, o trabalho indicou que os jovens não enxergam utilidade no conteúdo aprendido em sala de aula. Segundo a pesquisa, esses indivíduos anseiam por entrar o quanto antes no mercado de trabalho, e, por isso, muitos param de estudar para focar na vida profissional.
Do ponto de vista de Laura Laganá, diretora-superintendente do Centro Paula Souza, a IBM pode influenciar nessa questão. “O P-TECH pode ajudar a mostrar ao jovem que o que está sendo ensinado é útil”, comentou. “Faltava ao Centro conseguir aplicar na prática o que era ensinado. A expertise da IBM está sendo aliada a quem pode disseminar esse conhecimento todo”, concluiu.
O novo modelo procura também solucionar possíveis problemas indicados por algumas pesquisas. A International Data Corporation, por exemplo, comprovou, por meio de um estudo, que a América Latina passará por uma escassez de mais de 550 mil profissionais de tecnologia da informação em 2019. Os setores das novas tecnologias, como cibersegurança e inteligência artificial, serão os que mais sofrerão.
Caso seja bem recebido, o projeto da IBM pode motivar o lançamento de programas similares que, juntos, ajudem a suprir essa futura carência de profissionais do ramo da tecnologia.