Entenda a polêmica sobre o game Diablo IV, disponível agora no Game Pass
Novo título da popular franquia de RPG é tecnicamente impressionante, mas algumas decisões dos desenvolvedores revoltaram os fãs
No início de 2022, quando a Microsoft anunciou a compra da Activision Blizzard em um negócio avaliado em US$ 70 bilhões, os fãs ficaram empolgados com a possibilidade de jogar títulos clássicos, como Diablo, no Game Pass, o serviço de assinatura dos consoles Xbox. Mas a negociação demorou para ser concluída. Empresas concorrentes se mobilizaram contra, e órgãos de fiscalização esmiuçaram o contrato para garantir que não se tratava de um monopólio de mercado. O acordo foi efetivamente fechado em outubro de 2023. E só agora Diablo IV, título mais recente da longeva franquia da Blizzard, chegou ao Game Pass. E trouxe consigo uma dose de polêmica.
Quando Diablo IV chegou ao mercado, em junho de 2023, a situação da Blizzard era complicada. Além do imbróglio envolvendo a negociação com a Microsoft, a desenvolvedora havia sido alvo de denúncias de ex-funcionários, que afirmavam que a empresa havia criado um ambiente que favorecia o assédio sexual e a discriminação de gênero. O caso foi foi resolvido nos tribunais em dezembro daquele ano, com o pagamento de US$ 54 milhões. Além disso, jogos anteriores haviam sido recebidos com pouco entusiasmo, e muitos passaram a questionar a capacidade da empresa de continuar produzindo grandes games.
Diablo IV ajudou a colocar a casa em ordem, ao menos no início. Nos primeiros cinco dias do lançamento, o jogo gerou US$ 666 milhões em receita, segundo dados da própria Blizzard. Recebeu críticas bastante elogiosas. Mas hoje, quem visita o Metacritic, importante plataforma que reúne tanto avaliações da imprensa quanto dos fãs, encontrará uma enorme discrepância. De um lado, as notas altas dos veículos especializados. Do outro, as notas extremamente baixadas dos usuários. O que explica esse fenômeno?
Tecnicamente, o jogo é impressionante. A tradicional visão isométrica, um posicionamento de câmera que simula um cenário tridimensional em um game 2D, marca na série desde o primeiro jogo, lançado em 1997, se mantém, mas ganhou complexidade. Os gráficos são um deleite, com belos efeitos de luz e uma riqueza de detalhes na construção dos ambientes. A jogabilidade é fluida, partindo da fórmula clássica de RPG de ação que consagrou a série, mas inserindo elementos suficientes para torná-lo mais atual. A história é envolvente, com um bom trabalho de atuação dos dubladores. Quem já gostou dos títulos anteriores imediatamente se sente em casa, e quem está chegando agora ao universo de Diablo encontrará um universo rico e instigante.
Mas há alguns problemas apontados pelos jogadores. Um deles é a decisão de fazer com que os inimigos encontrados fiquem mais fortes à medida que o jogador também sobe de nível. Nos títulos anteriores, havia um senso de progressão claro. Quando mais forte o personagem ficava, mais fácil era enfrentar alguns vilões comuns. Outros adversários, mais fortes, apareciam de forma progressiva e representavam um desafio consistente. Agora, mesmo monstros básicos representam um perigo constante. Pode parecer uma reclamação menor, mas para quem jogou centenas de horas desbravando os outros títulos anteriores da franquia a mudança da fórmula clássica não agradou
É preciso também estar sempre online, logado na conta da Battle.Net, onde estão os servidores do game. A ideia é que o mundo esteja sempre “vivo”, com outros jogadores aparecendo no cenário, além de eventos pontuais, que podem envolver grupos de pessoas em um objetivo comum. Mas a execução é um tanto estranha. Nem todos têm uma conexão estável e constante de internet. E um jogador sozinho que quer apenas explorar a campanha é obrigado a ficar permanentemente ligado no jogo. Não dá para pausar o game, por exemplo.
Após o fim da campanha principal, muitos usuários dizem que não se sentem compelidos a continuar jogando. Há material adicional, como missões paralelas e monstros lendários para enfrentar, mas para alguns isso não é suficiente. Falta conteúdo extra.
E há ainda a questão das microtransações. Além do conteúdo básico, é possível comprar pacotes adicionais de conteúdo, como armas e equipamentos. Em alguns casos, os “add-ons”, como são chamados, custam quase tão caro quanto o próprio jogo, o que deixou alguns jogadores revoltados. Em fevereiro deste ano, o pacote Flagelo Vítreo, por exemplo, com uma montaria para ser usada no game, foi lançado por R$ 294.
Apesar de tudo isso, Diablo IV é um daqueles jogos tão importantes que merecem ser jogados. Pelo escopo do universo que apresenta e pelo enorme legado da franquia, servirá como referência para títulos que virão depois. Agora, disponível no Game Pass, fica ainda mais fácil para que cada um tire as próprias conclusões.