Em alta, combustíveis alternativos esbarram nos altos custos de produção
Na busca pela redução das emissões de carbono, montadoras apostam nas novas tecnologias

O mais recente relatório sobre os riscos ao planeta apresentado na semana passada por especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) projeta um cenário para lá de dramático. Segundo o documento, o mundo tem apenas três anos para impedir que uma catástrofe ambiental se instale a tal ponto que seja quase impossível revertê-la. O relógio climático, portanto, obriga a sociedade a acelerar ações que freiem o movimento incessante dos ponteiros. Uma frente de combate é a redução drástica do uso de combustíveis fósseis. Nesse campo, é preciso reconhecer que se avançou muito nos últimos anos com a notável ampliação de fontes alternativas — da energia solar para abastecer indústrias e residências aos carros elétricos. No entanto, há muito por ser feito. Um novo projeto adiciona agora novas esperanças ao meio ambiente. Trata-se do combustível sintético, inovação que promete contribuir para a redução do uso indiscriminado do petróleo.
A alemã Porsche é uma das líderes desse movimento. Na quarta-feira 6, a montadora confirmou um investimento de 75 milhões de dólares na compra de 12,5% da HIF Global, empresa chilena que desenvolve combustíveis alternativos e que possui operações nos Estados Unidos e Austrália e em seu próprio país. A primeira fábrica do tal combustível sintético, chamada Haru Oni, está em construção em Punta Arenas, na região da Patagônia chilena, escolhida pelas condições climáticas ideais para a produção de energia eólica, devendo ficar pronta ainda em 2022.
A produção de gasolina sintética, ou eFuel, como é conhecida, envolve parcerias com outros gigantes corporativos, como a também alemã Siemens Energy e a americana ExxonMobil. Em linhas gerais, a novidade consiste em converter hidrogênio e CO2 capturado na atmosfera em metanol, que depois será transformado, por meio de um processo de refino, em gasolina sintética (veja detalhes no quadro). A boa notícia aparece logo depois: segundo a Porsche, um veículo movido a eFuel é capaz de reduzir em 85% as emissões de poluentes em comparação com o mesmo modelo abastecido por combustíveis convencionais.
O projeto é promissor, mas implementá-lo em larga escala não é tão simples assim. A Porsche não informa os valores exatos, mas sabe-se que o custo de produção da gasolina sintética é, pelo menos por enquanto, superior ao que a indústria desembolsa no processo de preparação do combustível tradicional. Em outras palavras: a novidade não é competitiva no mercado, e eis aqui um tremendo ponto de interrogação para a sua viabilidade. A Porsche diz que a produção começará de fato no segundo semestre e será, inicialmente, de apenas 130 000 litros. Por isso, o combustível será destinado apenas a eventos automobilísticos e esportivos, além de experiências da marca. “É um investimento de longo prazo”, afirma Barbara Frenkel, executiva da área de compras da Porsche. “Vemos um potencial enorme e esperamos que ele ofereça valiosa contribuição para nossa estratégia de sustentabilidade.” A capacidade de produção será ampliada em duas etapas. Em 2024, deverá chegar a 55 milhões de litros e, em 2026, saltar para 550 milhões, à medida que novas fábricas sejam construídas nos Estados Unidos e na Austrália.
A Porsche não está sozinha na busca por combustíveis sintéticos. A também alemã Audi é outra entusiasta da inovação, embora ela seja vista pela empresa apenas como uma tecnologia de transição, já que sua aposta maior é no futuro totalmente elétrico. Há outros exemplos. Uma parceria entre Bosch, Shell e Volkswagen anunciou há um ano o desenvolvimento de uma nova gasolina azul, que contém 33% de componentes vindos de fontes renováveis e que reduz as emissões de carbono em ao menos 20% por quilômetro. Seja como for, o mundo precisa gastar energia para desenvolver soluções que diminuam efetivamente as emissões de poluentes. O planeta pede socorro. É preciso agir já.
Publicado em VEJA de 13 de abril de 2022, edição nº 2784
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