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Conheça o trabalho do arquiteto Francis Kéré, vencedor do Pritzker de 2022

É a primeira vez que a premiação, considerada o "Nobel da Arquitetura", é dada a um profissional negro desde sua criação, em 1979

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 mar 2022, 18h06 - Publicado em 15 mar 2022, 17h06

O Prêmio Pritzker, a maior honraria da arquitetura, foi oferecido pela primeira vez a um profissional negro. O educador, ativista social e arquiteto burquinense Diébédo Francis Kéré foi escolhido pelo júri para receber a medalha de bronze e um prêmio em dinheiro no valor de U$ 100 mil.

“Kére é um pioneiro da arquitetura sustentável à Terra e a seus habitantes em terras de extrema escassez. Ele é tanto um arquiteto quanto um servidor, melhorando as vidas e experiências de incontáveis cidadãos em uam região do planeta que é, às vezes, esquecida”, afirmou Tom Pritzker, presidente da Fundação Hyatt, responsável pelo evento, ao anunciar o prêmio. “Por meio de edifícios que demonstram beleza, modéstia, ousadia e inventividade, e pela integridade de sua arquitetura, Kéré defende graciosamente a missão deste Prêmio”.

Primeiro membro de seu vilarejo, Gando, na região centro-oeste de Burkina Fasso, a receber educação formal, Kéré precisou mudar de cidade para aprender a ler e escrever. Mais tarde, recebeu uma bolsa de estudos em carpintaria na Alemanha e se mudou para Berlim, onde mora desde 1985. Lá, cursou arquitetura e montou seu escritório, Kéré Architecture. Ele sentia necessidade de ajudar seu país natal e passou a desenvolve projetos pensados para explorar ao máximo os recursos em um cenário de escassez de materiais e tecnologia.

“Não é porque você é rico que pode desperdiçar materiais, e não é porque é pobre que não possa buscar qualidade. Todos merecem qualidade, luxo e conforto. Estamos todos conectados e as preocupações com clima, democracia e escassez devem ser as preocupações de todos”, disse Kéré. Esse pensamento foi determinante em projetos como a Escola Primária de Gando. Em vez de usar concreto, material caro e pouco apropriado para o calor, Kéré usou tijolos e projetou um teto de metal elevado, que permitia a circulação do ar. Além de resistir à temporada de chuvas, a escola não ficava tão quente. O trabalho foi inovador e recebeu o prêmio Aga Khan, que reconhece conceitos arquitetônicos que atendem às necessidades e aspirações de sociedades muçulmanas, em 2004.

O projeto foi sendo expandido ao longo dos anos seguintes para atender à demanda crescente. Em 2005, quatro anos após inaugurar a escola original, Kéré projetou uma expansão que ampliou a capacidade, de 120 alunos, para mais de 700. O arquiteto também fez um biblioteca, um jardim, uma escola secundária na região.

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Outros países da África também recorreram a Kéré para desenvolver edifícios que levassem em conta a realidade climática, além de técnicas arquitetônicas ancestrais. Um dos principais exemplos é o Centre for Earth Architecture, na região norte do Mali. Além de servir como espaço de exposição, um centro de visitantes e um restaurante, o edifício foi feito com materiais e técnicas usadas na construção de antigas mesquitas. Kéré também trabalhou em uma sala de espetáculos em Burkina Fasso, atualmente em construção, que inclui escolas de música e cinema, centro médico e acomodações para visitantes.

Fora da África, o arquiteto trabalhou em projetos na China, no desenvolvimento do Museu da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, em Genebra, na Suíça, e criou pavilhões para exposições. Em 2017, apresentou o Serpentine Pavillion em Londres. E, em 2019, criou o Sarbalé ke, uma instalação composta de 12 torres para o festival de música e artes Coachella, realizado na Califórnia, Estados Unidos.

O Prêmio Pritzker foi criado em 1979 pelo empresário americano Jay Pritzker (1922-1999) e sua mulher, Cindy, com o objetivo de reconhecer profissionais vivos e ativos que tenham “talento, visão e compromisso em produzir consistentemente grandes contribuições à humanidade por meio da arte da arquitetura”. Dois brasileiros já receberam a honraria. Em 1988, Oscar Niemeyer dividiu o prêmio com o americano Gordon Bunshaft. E, em 2006, foi a vez de Paulo Mendes da Rocha.

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Confira algumas das obras de Francis Kéré:

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