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‘Celular é, hoje, sinônimo de cidadania’, diz autora

Nova colunista de VEJA, a jornalista Neuza Sanches fala em livro sobre a evolução do aparelho que virou uma extensão do brasileiro

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 jul 2022, 13h34

De 1973, quando foi apresentado pela primeira vez em Nova York, até hoje, o celular sofreu várias mutações. A mais recente, segundo as versões mais aceitas, data de 2007, quando a Apple lançou a primeira encarnação do iPhone. Desde então, ele se tornou onipresente, quase uma extensão de corpo humano. Em Celular (Editora Contexto), a jornalista Neuza Sanches, nova colunista de VEJA, faz uma radiografia profunda do papel que o aparelho assumiu na vida em sociedade, o poder que carrega, sua participação na disputa política e em atividades fundamentais como o trabalho e a educação. Mais do que fazer uma hagiografia ou uma crítica avassaladora, Neuza prefere analisar essa “maquineta tecnológica” como algo que foi incorporado ao cotidiano de muitas pessoas e precisa ser bem utilizado para não causar males. A seguir, ela fala sobre o “personagem” de seu trabalho.

Tomando como referência o lançamento do iPhone em 2007, como acha que o celular evoluiu na vida do homem comum?

O celular paulatinamente deixou de ser um telefone sem fio para ser um meio tecnológico que revolucionou o mundo em se tratando de participação do cidadão nas atividades econômicas, políticas e sociológicas. Quando olhamos para a mudança de comportamento dos brasileiros, por exemplo, estando sempre nos primeiros lugares dos rankings de publicações e tempo de conectividade nas redes sociais.

Politicamente, o celular teve um papel importante tanto nas eleições do Brasil quanto nas de outros países. E de forma negativa, ao ajudar a espalhar fake news. Há meio de se reverter ou de se prevenir isso?

Reverter, não. No curto prazo, o jornalismo é mais eficaz do que se criar leis ou regras de restrições que poderão virar censura na medida em que uma fake news só pode ser considerada como tal depois de publicada e/ou divulgada. Ou seja, qualquer regra ou lei a priori poderá ser censura. No longo prazo, é investir em educação – conscientização das crianças, jovens e até os adultos do poder que se tem em mãos. Ele permite criar mitos ou acabar com a imagem de pessoas, empresas, reputações, vidas. Ensinar e esclarecer a todos desde o início de seu uso sobre o poder das redes, dos apps, dos meios de comunicação como WhatsApp, Messenger, telegram é fundamental. Além, claro, do desenvolvimento do senso crítico com leitura de jornais, livros… o consumo de cultura de forma geral. Ou seja, a educação sobre o mundo digital e o uso do celular se tornou imprescindível.

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O celular também teve papel disruptivo nas relações de trabalho, ao favorecer a autonomia de motoristas de Uber e entregadores de iFood. Como enxerga o futuro para esses trabalhadores?

Nos anos de 1990, se falava que um país sem tecnologia era um país subdesenvolvido. Hoje, a tecnologia também tem a faceta de subdesenvolvimento ao possibilitar trabalhos sem nenhuma regulamentação ou benefício aos trabalhadores com essa situação informal. Os apps permitiram isso. Claro, também permitiram que se tenha um mínimo de dinamismo no mercado de trabalho tão restrito como é hoje o cenário nacional com desemprego em elevados percentuais. O uso do celular permitiu também se desenvolver o empreendedorismo no país. Pessoas analfabetas conseguem usar o celular e vender seus produtos e serviços em uma comunidade. Criando, assim, uma economia local fundamental em uma país empobrecido como o Brasil. Enfim, sempre haverá o lado bom e o não tão bom. Por isso, é importante a sociedade exigir regulamentação das novas profissões para não se ter uma nova modalidade: o “trabalho escravo digital”.

Com a chegada do 5G e uma maior velocidade de processamento, é provável que a Web 3.0 decole e permita aos usuário ainda mais liberdade. O quanto o celular pode ajudar ou ser nocivo nessa equação. O que fazer?

Ele poderá ser nocivo ou fazer o bem também com um potencial ainda maior e exponencialmente em maior velocidade. O fato é que estamos vendo e fazendo parte dessa revolução digital. Todos os dias. E a medida em que descobrimos cada vez mais o uso infinito do celular, teremos de refletir sobre o poder dele em nossas mãos e seguir adiante. Uma coisa é certa: o celular hoje é sinônimo de cidadania. Queira ou não. Ele é um poder e também um meio essencial na vida de todos nós.

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O Brasil, de acordo com pesquisas atuais, tem quase dois celulares por pessoa, muito em função de uma época em que era necessário usar várias operadoras para conseguir melhor preço nas contas. Mas esse número esconde uma realidade e um gap social enorme. Como isso pode melhorar?

É verdade. O brasileiro conseguiu algo inédito: ter celular mesmo não tendo água e esgoto na sua casa, nas comunidades. Luxo? Não. O celular virou mais do que o antigo “orelhão” nas comunidades. Um aparelho pré-pago é compartilhado por membros de uma família, vizinhos. É dessa forma que as pessoas conseguem se comunicar, ajudar umas as outras e as crianças, por exemplo, tendo “aula” pelo celular na época da pandemia. É tudo muito precário? Sim. Mas isso faz com que essas pessoas se sintam cidadãs, capazes de serem ouvidos de alguma forma. E essas pessoas denunciam pelo celular pre-pago o desleixo das autoridades, a violência urbana, o preconceito racial, o descaso das autoridades por exemplo. É aquela máxima: se estou conectado, então eu existo.

O que fazer para não ser dominado pelo celular?

Já estamos dominados pelo celular. Hoje, você esquece a bolsa, a carteira e se vira. Mas se esqueceu o celular você volta para pegá-lo. O mais importante é estarmos conscientes do poder que temos em mãos. Para o bem. Ou para o mal. Depende de como vamos usar e exercer esse poder. A partir daí, saberemos usar o celular com sabedoria e moderação.

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