Carta ao Leitor: Tempo de inovação
Tema de reportagem de VEJA, Elon Musk é a tradução de uma época de permanente confronto entre o público e o privado, a democracia e o autoritarismo
Ao longo dos 55 anos de história de VEJA, completados na semana passada, houve preocupação permanente com um tema e um tipo de personagem muito específico: as inovações tecnológicas alimentadas por mulheres e homens que romperam a engrenagem dos movimentos óbvios para inventar um novo mundo. Em julho de 1995, a capa de VEJA anunciava a aventura do “micreiro de 13 bilhões de dólares”, Bill Gates, então com apenas 39 anos. Um dos trechos da reportagem resumia o espanto da revolução em curso: “A chegada de Bill Gates à lista dos biliardários marca a explosão de um novo tipo de riqueza no mundo dos negócios. Gates, a rigor, não fabrica coisas. Não é como Henry Ford, que fabricava carros, ou Antônio Ermírio de Moraes, que produz cimento. Bill Gates ficou rico tendo ideias. Suas ideias e a dos seus amigos e funcionários são os programas de computador, os softwares”.
Em janeiro de 2007, a revista iluminou o lançamento do iPhone — “Parece mágica” — e voltou a lembrar a linha histórica dos inventores americanos ao citar seu criador: “A apresentação do iPhone na semana passada entroniza o americano Steve Jobs, de 51 anos, líder da Apple, como o Henry Ford do século XXI, o empreendedor que está criando não apenas as máquinas mais extraordinárias, mas fazendo-o de modo que elas sejam acessíveis, se não às massas, a milhões de pessoas. Como Ford, Jobs não é uma usina de ideias júlio-vernianas. Ele é um fazedor, um gestor com uma visão e com os meios de torná-la realidade”. Gates e Jobs (1955-2011) são símbolos de um tempo de mudanças que não cessa. Segui-los, como agora se deve seguir outros inovadores, foi sempre atalho para entender como caminha a humanidade, na rota do progresso, da riqueza e também da justiça social. Ressalve-se, como nota de infeliz coincidência, como se lê na seção Datas, a morte em 10 de setembro passado do escocês Ian Wilmut, o “pai” da ovelha Dolly — o primeiro clone de animais de que se tem notícia, ímã a um só tempo de avanços e de discussões éticas, assuntos que VEJA também nunca deixou de lado.
Uma reportagem especial desta semana, conduzida pelo editor Alessandro Giannini, mergulha na vida de um outro personagem seminal, o incontrolável empresário sul-africano Elon Musk. Ele é o mote de uma biografia escrita pelo jornalista americano Walter Isaacson — que já vasculhou as existências de Leonardo da Vinci, Benjamin Franklin… e Jobs —, que acaba de ser lançada no Brasil. Uns adoram Musk, outros o odeiam, mas pouco importa — acompanhá-lo é a tradução de um tempo de controvérsias, de permanente confronto entre o público e o privado, a democracia e o autoritarismo. VEJA espera contribuir para o debate ao destacar em suas páginas uma figura como Musk, inescapável, interessante demais para ser negligenciada ou desprezada.
Publicado em VEJA de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859