Carros semiautônomos são uma realidade cada vez mais próxima do consumidor
Resta saber agora quando eles dispensarão completamente o motorista
A mobilidade imaginada no filme Minority Report — A Nova Lei, de 2002, está a cada dia mais perto de se concretizar. Os carros totalmente autônomos que levavam Tom Cruise para cima e para baixo podem não se tornar uma realidade generalizada nesta década, mas as principais montadoras do mundo estão avançando rumo ao advento do veículo que dispensa motorista. Projetos futuros ainda dependem de condições ideais de ambiente — sinalização e infraestrutura viárias padronizadas —, de velocidade de transmissão de dados e, principalmente, de um marco legal. De qualquer forma, a indústria continua progredindo e promete entregar, entre este e o próximo ano, mais unidades que atendam ao nível 2 de automação (veja o quadro).
Em linhas gerais, existem seis níveis de automação veicular, que vão da total dependência do motorista (mesmo em carros automáticos) ao estágio em que o veículo é capaz de operar sem interação humana. Criada pela Sociedade dos Engenheiros Automotivos dos Estados Unidos (SAE), a classificação ajuda a entender em que ponto estão as montadoras. A Tesla, por exemplo, empresa de carros elétricos cuja avaliação de mercado supera a de muitas montadoras juntas, projetava entregar seus modelos de nível 5 em 2021. No entanto, só clientes selecionados, em regiões específicas, podem experimentá-los.
O que a Tesla oferece em todos os carros é um piloto automático e recursos de direção autônoma para o futuro — por meio de atualizações de softwares. O Autopilot AI, como é chamado o programa da fabricante, ajuda a dirigir, acelera, freia e regula a velocidade, tendo como referência os carros à frente. Até o Model 3, modelo mais barato, que custa 35 000 dólares, já vem com recursos de conveniência, como frenagem de emergência, aviso de colisão e monitoramento de ponto cego, o que o coloca no nível 2.
A GM americana anunciou que lançará em 2022 dois carros de condução semiautônoma, o redesenhado Chevrolet Bolt e o novo Bolt EUV — ambos elétricos. Eles serão equipados com tecnologia Super Cruise, já usada em veículos como o sedã Cadillac, modelos CT5 e CT6, que permite ao motorista tirar as mãos do volante. O Super Cruise, no entanto, vigia o piloto por meio de uma câmera para aferir se ele está prestando atenção na estrada, caso seja necessário retomar a direção. Uma nova versão do sistema, que faz o automóvel mudar de faixa sozinho, estará presente no Cadillac e também no novo SUV Escalade.
No fim do ano passado, a Honda recebeu certificação do governo japonês para oferecer tecnologia de direção autônoma em nível 3 ao mercado doméstico. A empresa promete apresentar nas próximas semanas o sistema que equipará seu principal modelo, o Legend. Apelidado de Traffic Jam Pilot, ele deixa o veículo assumir a direção, frenagem e aceleração sob determinadas condições, como em um congestionamento. Em teoria, o motorista pode fazer qualquer coisa, como ler uma revista, menos dormir ou consumir bebidas alcoólicas. Isso porque precisa estar preparado para reassumir o controle.
Na prática, o Traffic Jam Pilot, o Autopilot AI e o Super Cruise são semelhantes, embora estejam em níveis diferentes. Chegar à total automação, entretanto, é uma questão de tempo, contanto que os obstáculos técnicos e de responsabilidade civil sejam superados. Uma das questões que se colocam é quem seria o culpado no caso de um acidente com um veículo autônomo: o motorista inerte ou o fabricante? Ainda não há resposta. “Há dilemas éticos, morais e de legislação que precisam ser equacionados”, diz o engenheiro Camilo Adas, presidente da SAE Brasil, dedicada à mobilidade.
E onde está o Brasil nessa busca do carro autônomo? Não há nenhum desenvolvimento local previsto, mas o nível 5 teria os mesmos desafios de implantação de outros países, em especial a infraestrutura viária adequada. No entanto, segundo Adas, as rodovias bem avaliadas, como a Bandeirantes, no estado de São Paulo, poderiam receber veículos de alta automação. Portanto, é seguro afirmar que, em algum momento, a tecnologia de ponta estará ao alcance de um bom número de brasileiros — e talvez não demore tanto tempo assim.
Publicado em VEJA de 10 de março de 2021, edição nº 2728
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