A aviação brasileira está prestes a dar um salto tecnológico no transporte de passageiros em curtas distâncias. Nesta sexta-feira, 20, em um misto de condomínio residencial e aeroclube, de Quadras, no interior paulista, foi realizado o primeiro voo demonstrativo de uma aeronave elétrica de Decolagem e Pouso Vertical (eVTOL, sigla em inglês) na América do Sul. Há pouco mais de um ano, o mercado referia-se a ele como um carro voador, capaz de revolucionar o transporte de passageiros em centros urbanos. Não é bem assim. O veículo é a evolução de um helicóptero e terá uso comercial como táxi-aéreo.
O formato é bem diferente. Enquanto o primeiro lembra uma libélula, o novo parece uma aranha, com oito pernas, onde foram acopladas 18 pequenas hélices –duas em cada uma das extremidades. A mudança aumenta muito a segurança do voo. “No helicóptero, se o motor falhar, o piloto tem de fazer um pouso de emergência. No e-VTOL, se uma das baterias não funcionar, o voo segue normalmente, porque ele é sustentado por 16 motores”, diz Adriano Buzaid, um dos sócios da Gohobby, que organizou a exibição em parceria com a fabricante chinesa EHang. A demosntração foi com um modelo enxuto EH216-S, com capsula fina, ovalada e espaço para dois passageiros. Ele é uma espécie de “fusquinha da categoria“.
O eVTOL é elétrico e bem menor que um helicóptero Robinson R22, para duas pessoas, por exemplo. Há várias empresas nesse ramo, pelo menos sete, entre elas a Eavy Air Mobility, parceira da Embraer no Brasil. Quem saiu na frente por aqui, no entanto, foi a EHang, que já tem exemplares licenciados voando no céu do país de origem.
A demonstração foi organizada para um pequeno grupo de aficionados da aviação, que comparou o evento ao do brasileiro Santos Dumont, em 1906, em Paris, quando o 14 Bis conquistou o céu, transformando-se na primeira aeronave a conquistar o céu. Apesar do exagero, o eVTOL é disruptivo, pois além de ser elétrico é operado à distância, possibilitando um voo autônomo. Sem nenhum glamour, em uma reunião técnica, regada a amendoim e água, uma equipe de pilotos chineses, experientes na operação do software da aeronave, dirigiram o equipamento a uma distância de 20 metros.
O acionamento dos motores é mais lento que a de um avião mecânico à diesel, onde basta apertar um botão para a máquina funcionar. O veículo só dá partida depois de ser reconhecido por cada um dos 25 satélites que estão conectados, fundamentais para uma circulação segura. Um processo que não demorou cinco minutos. Então, as hélices foram acionadas, e o público percebeu mais uma grande diferença: o barulho é infinitamente menor que ao de um helicóptero. A decolagem, o pequeno voo e a aterrissagem foram tão suaves e simples como o de um drone, que é monitorado e dirigido por um piloto apesar de não estar dentro dele. Parece tudo muito seguro e ao mesmo tempo frágil.
Algumas das principais empresas envolvidas no desenvolvimento e produção das aeronaves
- Joby Aviation (EUA) – Focada no desenvolvimento de eVTOLs para serviços de táxi aéreo, Joby está testando suas aeronaves e buscando certificação para operações comerciais
- Archer Aviation (EUA) – A empresa está desenvolvendo o eVTOL Midnight, com planos para começar a produção em 2024. A Archer também busca oferecer serviços de táxi aéreo
- Eve Air Mobility (Brasil) – Filial da Embraer, a Eve desenvolve eVTOLs focados em mobilidade urbana, com projetos para transporte de passageiros e carga
- Vertical Aerospace (Reino Unido) – A empresa britânica está desenvolvendo o VX4, um eVTOL com capacidade para cinco passageiros e autonomia de 100 milhas
- Lilium GmbH (Alemanha) – Criadora do Lilium Jet, a empresa está testando seu modelo para operações comerciais, oferecendo serviços de táxi aéreo
- EHang (China) – Especializada em veículos aéreos autônomos, a EHang está desenvolvendo eVTOLs para transporte de passageiros, emergências médicas e outras aplicações