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As novidades da era dos supertênis

Marcas investem em materiais como placas de carbono e espumas de última geração para garantir segurança e desempenho até a atletas amadores

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 out 2024, 08h00

Vai longe o tempo em que um corredor podia vencer uma maratona descalço. Sim, essa foi a proeza do etíope Abebe Bikila (1932-1973) ao cruzar a linha de chegada no Arco de Constantino na Olimpíada de Roma em 1960. Levou o ouro com os pés sangrando e, nos Jogos seguintes, em Tóquio, aderiu ao tênis. Hoje aquela cena soaria impensável. E, de fato, a indústria dos calçados esportivos evoluiu barbaramente para conferir conforto, proteção e performance aos atletas, inclusive os amadores. O avanço se deu a passos largos a partir dos anos 1980, com o adeus aos modelos rígidos e o surgimento de versões dotadas de absorção de impacto, flexibilidade e estabilidade. Outro salto foi dado na década seguinte, com a criação de materiais ultraleves e design aerodinâmico (veja na linha do tempo). De 2000 em diante, então, foi dada a largada para uma revolução, com a introdução massiva das placas de carbono e dos amortecedores high-­tech. O investimento em pesquisa, contudo, não para, e uma nova era se anuncia: a dos supertênis. Eles prometem incrementar uma corrida saudável e exitosa. E até quem não é atleta olímpico está disposto a desembolsar entre 1 200 reais e 4 000 reais para ter seu par — a inovação custa caro.

A ascensão dessa nova geração para os pés é calcada no uso de placas rígidas na entressola do calçado, que formam um “sanduíche” com camadas de espuma e ajudam a devolver parte da energia gasta durante a corrida. “Esse retorno pode fazer uma diferença de segundos durante uma prova”, afirma Rudnei Palhano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçados e Artefatos (IBTeC). A bem da verdade, os supertênis foram projetados para beneficiar principalmente esportistas de elite, que já têm uma dinâmica de corrida refinada. Quem é novato nos treinos provavelmente não tirará o mesmo proveito dos experientes.

Turbinar o desempenho sem deixar de zelar pela segurança parece ser o mantra dos cientistas que trabalham na criação dos supertênis. A japonesa Asics, que apresentou seus modelos Metaspeed recentemente, conduz os projetos com base em testes que reúnem experts e atletas de todo o mundo. “Os calçados são desenvolvidos levando em consideração a aterrissagem, a transição e a tração do usuário”, diz Daniel Costa, diretor de produtos e inovação da empresa para a América Latina.

DESCALÇO - O etíope Abebe Bikila: vencedor da maratona olímpica em 1960
DESCALÇO - O etíope Abebe Bikila: vencedor da maratona olímpica em 1960 (Central Press/Getty Images)
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A ambição das marcas, no entanto, vai muito além dos esportistas profissionais. Não significa que todo mundo deva priorizar um supertênis, mas que a tecnologia que se populariza nesse segmento, com bom amortecimento e suporte adequado, por exemplo, oferece vantagens na adesão à atividade física e na redução do risco de lesões, especialmente entre pessoas mais velhas ou acima do peso. “Para esses grupos, um bom tênis pode funcionar como uma espécie de muleta, proporcionando uma condição mais segura para a prática de exercícios”, diz Júlio Serrão, professor da Escola de Educação Física e Esporte da USP.

Quem já está há anos na estrada — no parque, na rua ou na esteira — tem aprovado as novidades que desembarcam nas lojas brasileiras. Inclusive porque já existe um supertênis 100% nacional. A Olympikus lançou o Corre Supra, o primeiro calçado com placa de carbono contínuo, revestida de grafeno líquido, além de uma entressola com materiais avançados, que proporcionam performance e conforto, e um solado concebido pela Michelin. “As espumas de menor densidade permitem que o produto tenha um revestimento mais grosso sem aumentar o peso, além de uma placa rígida que cria um efeito trampolim, impulsionando o atleta e gerando menos desgaste”, diz Márcio Callage, diretor de marketing da marca, que já está competindo em pé de igualdade com as concorrentes internacionais.

DETALHES - Novo modelo da Asics: atenção à transição das passadas
DETALHES - Novo modelo da Asics: atenção à transição das passadas (@asicsbrasil/Instagram)
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Enquanto entre os amadores persistem ponderações sobre o custo-benefício do investimento, entre os profissionais os próximos capítulos dessa história vêm rodeados de controvérsia. Afinal, especula-se que a introdução dos supertênis configure um tipo de doping mecânico. “É um debate que está apenas começando”, diz Serrão. Ninguém espera voltar à era da corrida de pés descalços, mas é plenamente possível que as federações considerem dar uma freada na supertecnologia.

Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

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