Apesar de fiasco, Mark Zuckerberg dobra a aposta no metaverso
Enquanto investidores olham com desconfiança para a tecnologia, empresário reforça sua crença e investe 20% dos recursos da Meta na plataforma
![VISIONÁRIO? - Zuckerberg na versão real e digital: ele não desiste -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Metaverso-1.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
![Metaverso-2 VISIONÁRIO? - Zuckerberg na versão real e digital: ele não desiste -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Metaverso-2.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Quando Mark Zuckerberg anunciou que mudaria o nome da holding controladora do Facebook para Meta, em 2021, ninguém duvidou que a aposta do empresário no metaverso era pra valer. Àquela altura, no auge da pandemia, o mundo corporativo vivia mergulhado em reuniões virtuais e muita gente séria intuiu que o ambiente virtual em que as pessoas poderiam interagir por meio de realidade aumentada seria a nova fronteira da tecnologia. Além disso, quem duvidaria de Zuckerberg, o gênio que mudou a forma como as pessoas se relacionam ao criar a famosa rede social? O Facebook não apenas deu fama global a seu inventor, como o tornou o jovem mais rico do planeta. Seria, portanto, uma sandice questionar os novos sonhos do lendário empreendedor. Pouco mais de um ano depois, contudo, o metaverso é um tremendo fiasco. Não à toa, a Meta demitiu 11 000 funcionários em 2022, o equivalente a 13% de sua força de trabalho — foi o maior corte nos dezoito anos de história do Facebook. Também no ano passado, as ações da empresa desabaram 66%. O que fez Zuckerberg? Confiante, ele dobrou a aposta no projeto.
Nos últimos dias de 2022, a Meta anunciou que dedicará 20% de seus recursos à Reality Labs, divisão de negócios responsável pelas tecnologias ligadas à realidade virtual. Andrew Bosworth, diretor da área, afirmou que o valor faz sentido para que a Meta permaneça na vanguarda de uma das “indústrias mais inovadoras do mundo”. Trata-se de uma visão de longo prazo, segundo ele, mas que até agora não se pagou. Para ter ideia, a Reality Labs teve perdas de 9,4 bilhões de dólares nos primeiros nove meses de 2022, enquanto a família de aplicativos formada por Facebook, WhatsApp, Instagram e Messenger reportou lucro de 32 bilhões de dólares no mesmo período.
![2022-12-11T152433Z_303238617_RC2OZX9VW1IC_RTRMADP_3_EGYPT-METAVERSE.JPG APOSTA RUIM - Desenvolvedores com óculos de realidade aumentada: fiasco -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/01/2022-12-11T152433Z_303238617_RC2OZX9VW1IC_RTRMADP_3_EGYPT-METAVERSE.JPG.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Os investidores não estão satisfeitos. Recentemente, Brad Gerstner, do fundo Altimeter Capital, dono de centenas de milhares de dólares em ações da Meta, publicou uma carta com críticas a Zuckerberg, na qual afirmava que ele havia perdido o foco e estava vivendo em uma “terra de excessos”. Em resposta, o CEO da Meta argumentou que a maior parte dos recursos da companhia é usada nas redes sociais, enquanto apenas uma parcela é destinada ao segmento de realidade aumentada. A queda do valor das ações da Meta, porém, mostra que a confiança do mercado foi abalada.
O desânimo de investidores após um período inicial de empolgação não está restrito à Meta. Outras plataformas semelhantes foram invadidas por entusiastas, especialmente no fim de 2021. Na época, terrenos virtuais chegaram a ser vendidos por valores inacreditáveis, como os 2,4 milhões de dólares pagos por um espaço no mundo on-line Decentraland. Pouco depois, outra plataforma, The Sandbox, quebrou o recorde ao registrar a negociação de um terreno por 4,3 milhões de dólares. Atualmente, o preço das ações dessas empresas, negociados em criptoativos, é irrisório. Os papéis de Decentraland valem 0,31 dólar, quase 95% menos do que no auge, quando chegaram a 5,90 dólares. Por sua vez, as ações do The Sandbox custam 0,39 dólar, 95% abaixo da máxima histórica de 8,44 dólares.
![MetaTut-Cidade Metaverso-2022-091.jpg ESPECULAÇÃO - Terreno no ambiente virtual: “imóveis” já valeram milhões -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/01/MetaTut-Cidade-Metaverso-2022-091.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Parte da decepção é explicada pela falta do que fazer nessas plataformas. Nenhuma delas é, nem de longe, um substituto minimamente razoável para qualquer atividade feita no mundo real. Não é o melhor lugar para fazer compras on-line, conversar com os amigos ou jogar algum game. É possível que, no futuro, a situação mude. Zuckerberg afirmou que não acredita que a humanidade usará os mesmos computadores e dispositivos atuais nos próximos dez anos, e está disposto a contribuir para a criação de novas tecnologias. Ele já fez isso antes. O Facebook levou alguns anos para se firmar, mas hoje em dia é a maior rede social do planeta, com mais de 2 bilhões de usuários. Algumas inovações levam tempo para conquistar o público. Resta saber se os responsáveis por injetar recursos na empresa de Zuckerberg terão paciência para esperar.
Publicado em VEJA de 11 de janeiro de 2023, edição nº 2823