Quantas fofocas você já ouviu ou fez hoje? Espere, não responda ainda. A maioria de nós faz muitas fofocas durante o dia, mesmo sem perceber. Aliás, um estudo publicado este mês na revista Social Psychological and Personality Science apontou que as pessoas gastam cerca de 52 minutos por dia apenas fofocando. O conteúdo da fofoca, no entanto, vai surpreender. Os pesquisadores explicaram que a definição de fofoca respeita um princípio básico: falar sobre alguém que não está presente, independente de estar contando que um colega de trabalho passou vergonha no happy hour da empresa ou que sua prima vai casar no próximo final de semana.
Ou seja, a maioria dos 52 minutos que um indivíduo passa fofocando diariamente envolve o compartilhamento informações inofensivas sobre a vida cotidiana. Mas por que fazemos isso? Segundo especialistas, o ato de fofocar é um instinto humano fundamental que existe pela necessidade de viver em grupo e sobreviver dentro dele. “As pessoas precisam ter o máximo de informação possível sobre os indivíduos ao seu redor para saber como eles são, em quem se pode ou não confiar, quem quebra regras do grupo, quem é amigo de quem, quais são as personalidades e pontos de vista das outras pessoas, etc”, explicou Mark Leary, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, à revista Health.
Questão de sobrevivência
Desde o princípio da humanidade, a fofoca faz parte do cotidiano como forma de sobrevivência. Os nossos ancestrais, por exemplo, dependiam de outros membros da tribo para obter comida, abrigo e proteção. No entanto, se o membro responsável pela caça de repente ficasse doente e não pudesse cumprir sua obrigação, os membros que dependiam dele poderiam passar fome se alguém não os notificasse sobre a doença. Isso comprometeria a sobrevivência do grupo.
Pense na sua família. Se a pessoa responsável por sustentar a casa perdesse o emprego, não seria melhor ficar sabendo o mais rápido possível para conseguir planejar melhor a administração das despesas mensais? Talvez, essa pessoa prefira não falar imediatamente na esperança de conseguir outro emprego logo, mas, se isso não acontecer, o bem-estar da família pode ficar comprometido. Portanto, alguém do grupo pode achar melhor avisar os demais sobre o ocorrido para ter um plano reserva em caso do emprego não aparecer tão rápido quanto se esperava. Uma fofoca necessária.
Conhecendo o grupo
De acordo com Leary, a fofoca não apenas nos ensina sobre a pessoa que é o sujeito da conversa, mas também sobre aquelas que estão falando. “Eu posso aprender coisas sobre atitudes, crenças e formas de lidar com as pessoas, vendo quem e o que você fofoca. Mesmo que eu não participe, apenas ouvir os outros fofocando me diz coisas sobre o que eles acham que é importante”, explicou o psicólogo.
Esse conhecimento obtido através da fofoca pode ser uma forma de identificar e excluir os membros não confiáveis do grupo, incluindo aqueles que não fazem “fofocas” abertamente. Isso porque a fofoca ajuda a fortalecer laços sociais, melhorando a cooperação de um grupo e tornando os membros menos egoístas, segundo estudo de 2014. Para especialistas, para quem prefere se manter como observador ou não se comporta segundo as regras do grupo, a ideia de ser excluído pode servir de lição já que a ameaça da exclusão pode se tornar um incentivo para as pessoas cooperarem. Portanto, fofocar — compartilhar informações (se esse conceito soa melhor) — faz parte de uma relação social saudável.
Limites
Apesar de o compartilhamento de informações ser fundamental para o convívio social, existem limites que não devem ser ultrapassados. Levantar assuntos inofensivos geralmente não causam problema, mas o sujeito da conversa pode ficar chateado. O mesmo vale para informações de teor pejorativo ou comprometedor. Desta forma, seja empático e pense em como você se sentiria se alguém contasse algo sobre a sua vida para outra pessoa.
Agora já pode responder: quantas fofocas você já ouviu ou fez hoje?