O câncer continua sendo um desafio para a ciência e as projeções indicam que a doença deve continuar aumentando nos próximos anos. No Brasil, por exemplo, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima 704 mil novos casos por ano entre o próximo ano e 2025, considerando os 21 tumores mais incidentes no país. Apesar dos dados preocupantes, 2022 pode ser celebrado por ter trazido importantes avanços para a prevenção e o tratamento.
O rastreamento do câncer por meio de exame de sangue, desenvolvido por pesquisadores britânicos e indicado para indivíduos assintomáticos, foi um dos destaques deste ano, segundo a oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e integrante da câmara técnica Ministério da Saúde para estratégias de eliminação do câncer do colo do útero.
“O novo exame, chamado Trucheck, identifica o câncer de mama em 92% dos casos, eficácia superior à da mamografia. Pode ser um divisor de águas na triagem, pois a detecção precoce do câncer de mama é vital para o sucesso do tratamento e cura”, afirma.
Ainda para o câncer de mama, as terapias direcionadas, que atacam apenas as células cancerígenas e preservam as saudáveis, tiveram seu uso ampliado. Essa classe de drogas está liberada no país com a aprovação dos fármacos trastuzumab deruxtecan e a sacituzumab govitecam. Pacientes que não eram elegíveis para um desses medicamentos, foram beneficiadas por estudos também divulgados neste ano.
“A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou em outubro uma nova indicação para a droga trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) que contempla pacientes da categoria HER2-low. Anteriormente, elas eram descartadas para este tipo de tratamento, mas uma nova pesquisa indicou que poderiam se beneficiar da abordagem.”
O HER2 é um receptor de crescimento que indica para as células quando crescer e quando interromper o crescimento. Em pacientes com câncer, isso pode levar ao crescimento descontrolado das células, causando uma forma mais agressiva da doença. “As estimativas mostram que pelo menos 55% das pessoas com câncer de mama se enquadram nessa categoria e, agora, têm uma nova estratégia para direcionar e tratar a doença”, completa a oncologista.
Para o câncer colorretal, houve o impressionante estudo com o uso do anticorpo monoclonal dostarlimab que fez a doença desaparecer em 100% dos participantes, um grupo de 12 voluntários que permaneceu com os resultados animadores por um ano. “O tratamento é limitado a uma parcela de 5% a 10% das pessoas com câncer de reto, pois é preciso ter síndrome de Lynch, uma condição genética que causa predisposição à doença. Mas a nova prática é animadora e abre caminhos para novas abordagens contra a doença”, avalia Angélica.
As pacientes em estágio avançado do câncer de ovário, o oitavo mais comum em mulheres no mundo, ganharam uma opção para lutar contra a doença. Para elas, o tratamento indicado é a cirurgia seguida de quimioterapia à base de platina. No entanto, é comum que as pacientes desenvolvam resistência à platina, impactando o tratamento.
“A boa notícia é que houve um ganho na sobrevida global dessas pacientes com o uso de terapia direcionada com inibidores da PARP, que impedem a ação dessa enzima, em câncer de ovário em tratamento inicial.”
Apesar das dificuldades ainda presentes, é possível dizer que os próximos anos continuarão sendo de avanços para cuidar da melhor forma dos pacientes e renovar a esperança de que o câncer pode, um dia, ser combatido antes de causar tantas dores e perdas.