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Vacina brasileira contra malária está mais próxima da realidade

Imunizante desenvolvido por USP e UFMG contra principal causador da doença no Brasil se encontra na fase de patente e aguarda teste em humanos

Por Luciana Constantino/ Agência Fapesp
22 nov 2024, 08h52
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  • Luciana Constantino | Agência FAPESP – Uma vacina brasileira contra o tipo mais comum de malária no país e em regiões das Américas está em fase de patente e até janeiro deve ter o pedido de testes em humanos protocolado em agências reguladoras. O imunizante contra o Plasmodium vivax passou pela fase pré-clínica para avaliar qualidade, eficácia e segurança, com resultados promissores.

    Atualmente, não existe uma vacina contra a malária vivax, doença infecciosa causada pelo parasita do gênero Plasmodium e transmitida para humanos pela picada de fêmeas de mosquitos Anopheles. Há três espécies mais comuns do parasita no Brasil – vivax, falciparum e malariae. Apenas contra a segunda a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, desde 2021, a vacinação em crianças em alguns países da África subsaariana.

    “Temos um produto inédito no mundo e inteiramente produzido no Brasil. Meu objetivo desde o início da pesquisa, há mais de dez anos, foi conseguir uma vacina. Agora estamos na etapa final para autorização dos estudos clínicos”, diz a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) Irene Soares, coordenadora do trabalho, juntamente com o professor Ricardo Gazzinelli, diretor do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT-Vacinas) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCT-Vacinas).

    Soares recebe apoio da FAPESP por meio de um Projeto Temático. O grupo também recebeu recurso do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, INCT-Vacinas 465293/2014-0) para os estudos iniciais de prova de conceito e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep, convênio 01.22.0046.00) para realizar o ensaio clínico fase 1.

    Chamado de Vivaxin, o imunizante passou por testes de boas práticas de laboratório (BPL) e de fabricação (BPF). Foi apresentado em setembro durante o 2º Congresso de Inovação e Sustentabilidade do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC) pelo CT-Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), parceira da USP no desenvolvimento do produto.

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    “No Brasil, existe uma grande lacuna em linhas de pesquisa de vacinas, que ficou evidenciada durante a pandemia de COVID-19. Na academia normalmente é feita a pesquisa básica, que envolve a definição de antígeno, adjuvante e provas de conceito. A partir daí, resulta em publicação de artigos e os estudos são descontinuados, não chegando até a vacina. O objetivo dessa parceria é vencer o ‘vale da morte’ e ter o produto final, para testes em humanos, em um processo todo desenvolvido no país, fato raro na ciência brasileira na área de vacinas”, afirma Soares à Agência FAPESP.

    O pedido de patente foi feito no final de outubro por meio da Agência USP de Inovação e do Centro de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG. A patente protege o processo de produção e formulação final com adjuvante desenvolvido pela equipe do CT-Vacinas. Os resultados dos últimos testes devem ser publicados em breve em revista científica.

    Além disso, os pesquisadores já haviam demonstrado, em artigo publicado em abril na Vaccine, que o imunizante foi capaz de induzir níveis altos de anticorpos em camundongos e coelhos, mostrando-se seguro e bem tolerado. A formulação apresentada combina em uma única molécula três diferentes formas genéticas, as chamadas variantes alélicas, de uma proteína do Plasmodium vivax, a PvCSP (proteína circunsporozoíta), com o objetivo de aumentar a eficácia e proteger contra todas as variações.

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    Diferentemente do parasita falciparum (mais comum no continente africano), a proteína-alvo do vivax tem três formas alélicas –VK210, VK247 e P. vivax-like. Ela se tornou alvo por ser o componente mais abundante na superfície dos esporozoítos – forma alongada do parasita presente na glândula salivar do mosquito transmissor e que infecta o ser humano, contaminando o fígado. Apresenta uma área que se liga aos receptores celulares e aos anticorpos.

    No estudo com a nova formulação, os anticorpos produzidos pelos camundongos imunizados reconheceram as três variantes, conseguindo, em alguns casos, prevenir completamente a infecção (proteção estéril) e, em outros, retardar o aparecimento dos parasitas no sangue.

    Nos últimos anos, os cientistas testaram alguns adjuvantes visando reforçar a ação do imunizante. Um desses testes resultou em outro artigo, também publicado em abril, na revista Frontiers in Immunology, com o apoio da FAPESP (projetos 14/18102-7, 18/14933-2 e 17/11931-6).

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    Panorama

    Considerada endêmica na região amazônica e um problema de saúde pública global, a malária provoca febre, calafrios, tremores, sudorese e dor de cabeça. Em casos graves leva a convulsões, hemorragias e alteração da consciência. Normalmente, o paciente recebe tratamento em regime ambulatorial, com comprimidos fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

    De janeiro a outubro deste ano, o Brasil registrou 117.946 casos da doença, sendo que 80% deles (95.113) foram provocados pelo Plasmodium vivax, segundo o Ministério da Saúde. Situação preocupante tem sido detectada entre indígenas – foram cerca de 45.100 casos até setembro, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023.

    No último Dia Mundial contra a Malária, comemorado em 25 de abril, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) pediu aos governos que intensifiquem os esforços de enfrentamento à doença, que tem impacto maior para povos indígenas, migrantes e populações em situação de vulnerabilidade.

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    No ano passado, os países das Américas relataram cerca de 480 mil casos de malária. Embora o número venha diminuindo desde 2017 (quando foram 934 mil registros), alguns países ainda estão longe de alcançar a meta de redução de 75% até 2025.

    O artigo Non-clinical toxicity and immunogenicity evaluation of a Plasmodium vivax malaria vaccine using Poly-ICLC (Hiltonol®) as adjuvant pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0264410X24002299?via%3Dihub.

    E o estudo Poly I:C elicits broader and stronger humoral and cellular responses to a Plasmodium vivax circumsporozoite protein malaria vaccine than Alhydrogel in mice está disponível em: www.frontiersin.org/journals/immunology/articles/10.3389/fimmu.2024.1331474/full.

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