Trauma e estresse na gestação podem aumentar risco de autismo nos filhos
Trabalho inédito entrevistou mais de 2 mil brasileiros e corrobora relação entre genética e ambiente na origem da condição
Pesquisas ainda tentam bater o martelo de qual seria a causa do autismo, um transtorno do neurodesenvolvimento presente desde o nascimento ou começo da infância. Por ora, tudo indica que ele seja resultado da interação entre fatores genéticos e ambientais.
Nesse contexto, um estudo recém-conduzido pela neurocientista Anita Brito, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, em colaboração com o Instituto Pasteur de São Paulo e o Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, lança uma nova luz. Os resultados, que envolvem dados de 2 141 brasileiros diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA), são descritos em um artigo na revista científica BMC Psychiatry.
Os participantes da pesquisa preencheram um extenso questionário online de 132 perguntas, que abordavam histórico familiar, situação socioeconômica e condições de saúde física e mental da mãe durante a gravidez.
“Olhamos para o período gestacional porque é o momento em que o sistema nervoso está sendo gerado, e que pode sofrer alterações”, explicou Patrícia Beltrão Braga, professora do ICB e coautora do artigo, ao Jornal da USP. “E, durante os nove meses, qualquer estresse que a mulher passe produz fatores que podem desencadear mudanças epigenéticas.”
Epigenética é um campo de pesquisa que investiga como os estímulos ambientais podem ativar determinados genes e silenciar outros.
A conclusão do trabalho é que questões psicossociais, como traumas e períodos de estresse durante a gravidez, aumentam a probabilidade de a criança nascer com autismo. Isso inclui problemas emocionais ligados a ansiedade e depressão, agressão física ou psíquica e situações que provocam esgotamento e marcas psicológicas, como perda de emprego, morte de uma pessoa próxima ou contato com vizinhança violenta.
O estudo fornece um novo insight e mais uma camada de compreensão a um tema complexo por natureza. Mais recentemente, pesquisas demonstraram a relevância de aspectos genéticos e da herdabilidade no desenvolvimento do TEA.
A literatura científica também já deu indícios de que o ambiente a que a mãe foi exposta durante a gestação (contato com poluição e metais pesados, uso de drogas, ganho de peso e presença de doenças como diabetes) pode elevar as chances de o bebê ter autismo.