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Tragédia em Suzano: os cuidados que ajudam a evitar traumas severos

Três em cada dez testemunhas de tragédias costumam sofrer com transtorno de estresse pós-traumático

Por Redação
Atualizado em 15 mar 2019, 16h35 - Publicado em 15 mar 2019, 16h15

O massacre na escola Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), deixou oito mortos e centenas de traumas psicológicos em sobreviventes, amigos e familiares. Apesar da intensidade do choque, esses eventos podem ser superados mediante cuidados apropriados, que incluem acompanhamento psicológico para evitar o desenvolvimento de transtornos mentais. Por causa disso, a Secretaria de Estado da Saúde enviou dois psiquiatras e um psicólogo ao local para atender sobreviventes e familiares das vítimas, de acordo com a BBC.

Essa assistência é extremamente importante. Isso porque, estudo realizado nos Estados Unidos, onde massacres em escolas não são incomuns, indicou que 29% das testemunhas desses ataques sofrem com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) – transtorno de ansiedade que pode gerar sintomas que se manifestam vários meses ou anos depois do incidente. Esse problema também pode afetar pessoas que, mesmo não estando envolvidas, foram expostas ao horrores através de fotos e vídeos publicados nas mídias sociais ou na imprensa.

Para especialistas, a melhor maneira de evitar que o transtorno se instale é reforçar relações e comportamentos positivos que estimulem a superação. “O mais importante é dar apoio psicológico para que as pessoas possam enxergar a tragédia por outro ângulo – para que se sintam amparadas, protegidas, possam se cuidar, valorizar mais a vida e a família, ter urgência em buscar a felicidade”, disse Higor Caldato, psiquiatra da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), à BBC.

Primeiros dias

De acordo com especialistas, nos dias que sucedem o evento, sobreviventes e pessoas próximas das vítimas tendem a vivenciar sentimentos de choque, stress agudo, tristeza e lamentação. Devido a isso, o apoio psicológico especializado é fundamental nos primeiros dias para que eles possam conversar sobre os medos e anseios e evitem comportamentos nocivos, como compulsões alimentares ou consumo abusivos de drogas e álcool, que podem ser visto como forma de ‘afastar’ temporariamente a lembrança do trauma. Para casos mais graves, como ansiedade extrema ou dificuldade para se expressar, é recomendado ainda o uso de medicações para atenuar os sintomas e permitir que a terapia seja melhor aproveitada.

De acordo com Caldato, caso os sentimentos negativos persistam por mais de um mês ou venham associados a outras manifestações, como pesadelos, sintomas depressivos e medo, é possível que o transtorno de estresse pós-traumático tenha se estabelecido. Por isso, o acompanhamento dos jovens deve levar em conta os registos sensoriais relacionados a traumas, incluindo barulhos, cheiros, cenas e movimentos – que fazem parte dos sintomas. “Se [os registros] não forem tratados, vão ficar”, comentou Maria Helena Franco, psicóloga da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), à BBC.

Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)

Nos Estados Unidos, diversos cientistas se dedicam a pesquisar sobre o impacto de massacres na saúde mental de sobreviventes e comunidades envolvidas. Entre os resultados encontrados indicam que indivíduos feridos em massacres, viram pessoas serem mortas ou feridas, perderam amigos ou temeram diante do perigo iminente à própria vida apresentam maior probabilidade de desenvolver TEPT e outros distúrbios mentais. “Há uma situação muito particular que agrava a situação: eles são ao mesmo tempo sobreviventes e testemunhas. São duas experiências muito fortes”, disse Maria Helena.

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Segundo artigo publicado no ano passado, esse risco pode ser ainda mais elevado para sobreviventes que já sofriam com condições que afetam a saúde mental – como depressão e ansiedade – ou quem se sente culpado por não ter salvado alguém que morreu. Dados do National Center for PTSD, entidade que estuda o TEPT nos Estados Unidos, ainda indicam que 28% das pessoas que testemunham esse tipo de situação desenvolvem o transtorno. Além disso, o índice aponta que incidentes como este tendem a provocar mais distúrbios mentais se comparado a desastres naturais, por exemplo.

Felizmente, a probabilidade é menor para quem têm redes de apoio mais sólidas, principalmente da família.

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Estresse traumático secundário

Outro artigo de 2018, publicado pela Vanderbilt University, nos Estados Unidos, afirma que pessoas que não estiveram diretamente envolvidas no ataque, mas estiverem em contato direto com vítimas (bombeiros e profissionais de saúde que tratam os sobreviventes) – ou presenciaram o evento de forma indireta (comunidade ou quem viu vídeos do acontecimento) podem apresentar estresse traumático secundário (ou trauma vicário), que tem sintomas similares aos do TEPT, embora menos intensos.

Segundo Chad Buck, principal autor do artigo, a condição pode manifestar sintomas que incluem exaustão emocional, fadiga crônica, raiva, tristeza, medo, vergonha, entre outros sentimentos. “Quem já vivenciou eventos semelhantes, tem TEPT pré-existente ou outras questões de saúde mental tem maior risco de sofrer uma acentuação dos sintomas e o desenvolvimento de estresse traumático secundário”, explicou no artigo.

Para evitar que ambas as condições se instalem, a recomendação de especialista é trabalhar o trauma não apenas de maneira individual – para os sobreviventes – como abordá-lo de forma coletiva. “É importante pensar em formas de unir os alunos, as escolas, as várias comunidades envolvidas. É daí, do coletivo, que virá a força de reconstrução”, salientou Maria Helena.

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‘Passo a passo’ da superação

De acordo com a Associação Americana de Psicologia, existem três etapas no processo de superação de um trauma, que necessita de meses – ou mesmo anos – de acompanhamento psicológico para acontecer.

1. Negação: Essa etapa acontece logo após o evento e envolve sentimentos de negação, choque e descrença. É nesta fase que os profissionais de saúde devem deixar claro que essas reações fazem parte do processo.

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2. Raiva: Entre alguns dias e semanas depois do massacre é comum a aparição de sintomas que envolvam sentimentos de raiva, medo, ansiedade, dificuldade de concentração, problemas para dormir e até mesmo depressão.

3. Superação ou Persistência: Nessa última etapa, vários meses após o ataque, os sentimentos negativos costumam desaparecer para a maioria dos sobreviventes, No entanto, há casos que exigem maiores cuidados, principalmente para aqueles que apresentam quadros persistentes ou abuso de substâncias químicas.

“Eventos em homenagem às vítimas – particularmente os que são concebidos e conduzidos por estudantes e a comunidade – são os mais eficientes para ajudar na recuperação depois de um massacre”, ressaltou a associação.

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