Teste funciona em animais e abre porta na luta contra diabetes tipo 1
Estudos mostraram que o organismo das cobaias voltou a produzir insulina depois do uso da medicação. Resultado, porém, pode não se repetir em humanos
A cura para o diabetes tipo 1 pode estar próxima. De acordo com um estudo publicado na-segunda feira, na revista Nature Communications, pesquisadores espanhóis estão desenvolvendo uma droga capaz de regenerar as células produtoras da insulina. No entanto, os testes foram feitos apenas em animais e os cientistas alertam para o fato de que a disponibilidade do tratamento no mercado ainda pode estar a alguns anos de distância.
Diabetes tipo 1
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, cerca de 5% a 10% das pessoas diagnosticadas com a doença têm o tipo 1. Essa forma de diabetes acontece quando o sistema imunológico dos indivíduos ataca, de forma equivocada, as células beta, responsáveis por sintetizar e secretar o hormônio insulina, que regula os níveis de glicose no sangue. Como resultado desse mau funcionamento do organismo, a glicose fica no sangue, em vez de ser usada como energia.
O diabetes tipo 1 se manifesta geralmente na infância ou adolescência, mas também pode ser diagnosticado em adultos. Essa variedade é sempre tratada com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas, para ajudar a controlar o nível de glicose no sangue.
A pesquisa
Coordenada pelo Centro Andaluz de Biologia Molecular e Medicina Regenerativa, na Espanha, a pesquisa experimental desenvolveu um medicamento à base de BL001, substância parecida com uma que é produzida no fígado capaz de combater a inflamação em órgãos digestivos e proteger células de morte precoce. O remédio impede que o sistema imune ataque as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina, hormônio envolvido no aproveitamento da glicose pelas células.
Nos experimentos realizados em camundongos, a medicação foi capaz de impedir a hiperglicemia – aumento do açúcar no sangue – e regenerar as células beta do pâncreas, aumentando, consequentemente, a secreção de insulina. Segundo os cientistas, os exames de sangue realizados nos camundongos após o uso do medicamento não apontavam substâncias consistentes com a presença da diabetes tipo 1.
Grande potencial
Vale ressaltar que o resultado em animais pode não se repetir em humanos. No entanto, caso se confirme, isso pode ter imenso significado na forma de tratar a doença já que, em vez de injetar insulina constantemente no corpo, os pacientes poderiam começar a secretar o hormônio naturalmente após utilizarem a medicação criada pela equipe espanhola.
“Se forem realmente capazes de transferir isso aos seres humanos, o que não deve acontecer tão logo, terá aplicações não apenas na prevenção como também no tratamento. Isso abre uma porta para curar o diabetes tipo 1”, disse o pesquisador Ramón Gomis, professor emérito da Universidade de Barcelona, ao El País. Ele não participou do estudo, mas se mostrou confiante nos benefícios da medicação.
A equipe pontuou que, ao contrário de outras iniciativas que tentaram tratamentos do tipo, mas não foram capazes de sustentar a produção de insulina ao longo do tempo, neste experimento a “reversão” do diabetes foi possível já que a nova droga reduz o ataque autoimune e repõe a população de células beta destruídas. Agora, o próximo passo do estudo é o desenvolvimento de uma molécula mais estável da BL001 que possa ser testada em seres humanos.